OS MAGOS - EPIFANIA DO SENHOR
“NÓS VIMOS A SUA ESTRELA NO
ORIENTE, E VIEMOS PARA PRESTAR-LHE HOMENAGEM”. (Mt 2,2).
Diácono
Milton Restivo
No segundo domingo depois do Natal a Igreja celebra a festa da Epifania
do Senhor.
Epifania, em grego, significa manifestação. Em várias ocasiões Jesus
se manifesta e dá-se a conhecer a diferentes pessoas e de modos únicos.
Embora Jesus tenha se manifestado em diversos momentos a diferentes
pessoas, a Igreja celebra como epifanias três eventos: a epifania aos magos (Mt 2,1-12); a epifania a João Batista
no rio Jordão (Mt 3,13-15; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 1,32-34), e a epifania a
seus discípulos e começo de sua vida pública com o milagre em Caná (Jo 2,1-12).
Podem ser entendidas, também, como epifanias, o anúncio dos anjos aos
pastores e a visita deles a Jesus recém-nascido na manjedoura (Lc 1,8-20) e a
transfiguração de Jesus a três dos seus discípulos (Mt 17,1-8).
A primeira leitura desta liturgia evoca um dos trechos mais jubilosos
do livro de Isaías, profetizando uma luz que brilhará sobre Jerusalém, o
próprio Messias, e a visita de povos estrangeiros representados por altos
mandatários ao “recém-nascido rei dos
judeus”: “Levante-se, Jerusalém!
Brilhe, pois chegou a sua luz, a glória de Yahweh brilha sobre você. [...] Sob a luz de você caminharão os povos, e os
reis andarão ao brilho do seu esplendor. [...]... porque estarão trazendo para
você os tesouros do além-mar, estarão chegando a vocês as riquezas das nações.
Uma grande multidão de camelos a invade, camelos de Madiã e Efa; de Sabá vem
todo mundo, ouro e incenso e o que trazem, e vêm anunciando os louvores de
Yahweh.” (Is 60,1.3.5b-6).
O Salmo responsorial diz que o Messias vai “governar o seu povo com justiça e seus pobres conforme o direito”
e faz uma previsão: “Que os reis de
Tarsis e das ilhas lhe paguem tributos. Que os reis de Sabá e Seba lhe ofereçam
seus dons. Que todos os reis se prostrem diante dele, e as nações o sirvam”. (Sl
71(72),2.8-10). Não foi isso que aconteceu na visita dos magos?
O Evangelho desta liturgia narra a segunda manifestação de Jesus, desta
feita aos magos, homens sábios, vindos do Oriente e que haviam visto uma estrela
diferente, que entenderam ser o prenúncio de um grande acontecimento, e a
seguiram. Saíram de suas terras e vieram até onde estava o menino Jesus para
adorá-lo: ”Onde está o rei dos judeus,
que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos
adorá-lo.” (Mt 2,2).
Mais de mil anos antes do nascimento de Jesus o profeta Balaão já
profetizara sobre essa estrela vista pelos magos: “Eu o verei, mas não agora; eu o contemplarei, mas não de perto;
nascerá uma estrela de Jacó, levantar-se-á uma vara de Israel...” (Nm
24,17).
O profeta Isaías, seiscentos anos antes desses acontecimentos, com
grande esplendor, também se manifesta e profetiza essa grande maravilha, a
estrela de Belém, anunciando o nascimento do Messias: “recebe a luz, Jerusalém, porque chegou a tua luz, e a glória do
Senhor nasceu sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a terra, e a
escuridão os povos; mas sobre ti nascerá o Senhor, a sua glória se verá em ti. As nações caminharão na
tua luz, e os reis, ao resplendor de tua aurora.” (Is 60,1-3). E Isaías
continua: “Então tu verás, estarás na
abundância, o teu coração se espalhará e se dilatará fora de si mesmo, quando
se voltarem para ti as riquezas do mar, e a fortaleza das nações vier ter
contigo. Ver-te-ás inundada duma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e
de Efa; todos virão de Sabá, trazendo-te ouro e incenso, e publicando os
louvores do Senhor.” (Is 60,5-6). E Isaías não se cala: “Estarão sempre abertas as tuas portas; elas não se fecharão nem de
dia nem de noite, a fim que te seja trazida a riqueza das nações e te sejam
conduzidos os seus reis.” (Is 60,11). E, para que se cumprissem essas
profecias, os magos, em terras longínquas, lá do Oriente, vêem uma estrela inusitada
no céu que anunciava o nascimento de um grande rei e não tiveram dúvidas,
colocaram-se a caminho para irem de encontro ao acontecimento esperado desde o
início dos tempos e adorarem o Rei dos Judeus, o Rei dos reis que havia nascido.
As Sagradas Escrituras omitem-se quanto ao número de magos: poderiam
ser dois ou cinco ou mais; a tradição optou pelo número três, possivelmente
pelo número dos presentes que foram dados ao “Rei dos Judeus recém-nascido”: ouro, incenso e mirra.
Nos escritos sagrados também não é citada a nobreza que a tradição atribui
a esses magos.
O Evangelista Mateus apenas se atém a chamá-los de “magos”, sem se preocupar
quantos eram e o grau de dignidade ou importância que eles poderiam ter na
sociedade ou nas terras de onde vieram. Nos sagrados escritos também é omitido
o nome desses personagens, deixando-os no anonimato, mas, a partir do século
VIII começaram a ser mencionados seus nomes, como sendo Melchior, Baltazar e
Gaspar, sendo este último, negro, mas isso apenas nos é transmitido pela
tradição. E assim o Evangelista Mateus nos narra a significativa visita dos
magos a Jesus, após o seu nascimento: “Tendo,
pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns
magos chegaram do Oriente a Jerusalém, dizendo: ‘Onde está o rei dos judeus que
acaba de nascer? Porque nos vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’”
(Mt 2,1-2).
O Messias nasceu na penúria em Belém, cidade e casa do rei Davi; nasceu
para a salvação de Israel e glória de Judá. Belém quer dizer: “casa do pão”, e
ali nasceu “o pão da vida [...] o
pão vivo que desceu do céu”. (Jo
6,35.41.51).
Mas nem Israel e nem Judá deram importância a esse acontecimento maravilhoso
que fora predito, cantado e esperado por todos os profetas do Antigo
Testamento.
Somente os pobres e humildes pastores vieram até ele, convidados que
foram pelos anjos (Lc 2,8-13). Somente os pobres, humildes e oprimidos pastores
chegaram até Jesus para adorá-lo no seu berço improvisado colocado num curral
de animais. Ninguém mais... Israel, Judá, ou a cidade de Belém e de Jerusalém
não se importaram e nem se alegraram com o nascimento do Salvador.
A salvação que ele veio trazer a todos os homens é oferecida a todos,
mas somente é bem recebida aos que a procuram com o coração puro e sincero.
Quanto tempo depois de seu nascimento é que surgiram os magos? Não
sabemos. Ninguém sabe, porque os Evangelhos não o citam. Pelos fatos que se
seguiram, e pelas atitudes de Herodes, possivelmente, o menino Jesus estive com
aproximadamente dois anos de idade.
Não vamos nos ater a isso; o importante é que, uma estrela diferente de
todas as conhecidas até então, brilha no firmamento; uma estrela que já fora
preconizada e antevista pelos profetas antes de Cristo. Todo o povo de Israel e
todos aqueles que se diziam conhecedores das Sagradas Escrituras conheciam essas
profecias e sabiam que, quando nascesse o Messias, o Salvador aguardado, alguma
coisa de diferente aconteceria nos céus, pois os profetas Balaão e Isaías já
haviam alertado sobre esse fenômeno, mas ninguém se importou com isso.
Alguns estrangeiros, os magos, a viram lá de longe, de muito longe de
suas terras e sabiam que essa estrela tinha um significado todo especial e se
propuseram a seguí-la, fosse para onde fosse, não se importando com a distância
e nem com os contratempos que isso fosse acarretar.
E essa estrela conduziu os magos até a cidade de Belém.
Quando eles saíram de suas terras, qual o percurso que fizeram e quanto
tempo caminharam? Não sabemos. O que sabemos é que os magos concluíram, através
de seus estudos e meditações, que aquela estrela era o prenúncio de um grande
acontecimento e que os céus abriram suas portas e a salvação havia chegado, e
que o menino recém-nascido era o “Rei dos
Judeus”, que nem os próprios judeus tinham conhecimento que havia nascido;
o maior de todos os reis da terra e de todos os tempos, o Rei dos reis e,
talvez por isso, os magos passaram primeiro no palácio do rei Herodes porque,
imaginavam, um grande rei só poderia ter nascido num palácio real, e esta foi a
primeira grande contradição que Jesus trouxe aos homens; ele, o Rei dos reis
não nasceu em palácio mas em um humilde abrigo de animais à beira da estrada e
na entrada da cidade.
Ao chegarem a Jerusalém, perguntaram: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a
sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).
A chegada dos magos em Jerusalém com seu séquito provocou um grande
alvoroço na cidade e na corte real. O rei Herodes ficou surpreso e, “ao ouvir isso, o rei Herodes turbou-se, e
toda a Jerusalém com ele.” (Mt 2,3).
O rei Herodes, além de perturbado e surpreso, ficou também alarmado:
como poderia ter nascido o rei dos judeus, se os judeus só tinham um rei que
era ele próprio?
E a cidade de Jerusalém também ficou alarmada, porque conhecia o rei
que tinha, que não pensaria duas vezes para provocar uma carnificina para
afastar o perigo de seu trono ser tomado por um outro rei. Herodes sentiu-se
ameaçado no seu poder e o seu trono estava ameaçado de ser usurpado por um
inocente menino recém-nascido. Como isso poderia ter acontecido se ele,
Herodes, o rei dos judeus, não havia sido notificado a respeito?
Herodes pressentiu seu trono ameaçado e abalado e isso Maria, a mãe de
Jesus já havia prenunciado e cantado quando de sua visita à sua parenta Isabel: “Agiu com a força de seu braço, dispersou
os homens de coração orgulhoso; depôs poderosos de seus tronos e exaltou os
humildes.” (Lc 1,51-52).
Herodes era um homem sanguinário; não hesitaria exterminar quem quer
que fosse para preservar o seu trono; prova disso é que já havia mandado matar
vários de seus palacianos, algumas esposas e até filhos seus. Então, Herodes “convocando todos os príncipes dos sacerdotes
e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias. E eles
disseram: “Em Belém de Judá, porque assim foi escrito pelo profeta (Mq 5,l): “E tu, Belém, terra de Judá, de modo
algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um
chefe, que apascentará Israel, meu povo.” (Mt 2,4-6).
Diante da notícia trazida pelos magos e de sua pergunta: “onde havia de nascer o Messias?”,
Herodes, a princípio, fingiu curiosidade, humildade, submissão e alegria e
muita fé e procurou tirar proveito daquela situação diante dos estrangeiros. Mandou
chamar secretamente os magos para que lhe informassem onde pudesse localizar
esse “pretenso rei” para que ele também fosse prestar-lhe homenagens, mas a sua
intenção era outra: “Então Herodes, tendo
chamado secretamente os magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em
que lhes tinha aparecido a estrela; e, enviando-os a Belém, disse: ‘Vão e informem-se bem acerca do menino, e,
quando vocês o encontrarem, comuniquem-me, a fim de que eu o vá adorar.” (Mt
2,7-8).
E os magos partiram de Jerusalém à busca do “rei dos judeus”; “... e eis que a estrela que tinham visto
no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando sobre o lugar onde estava o
menino, (a estrela) parou. Vendo novamente a estrela, ficaram possuídos de
grande alegria. E, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e
prostrando-se, o adoraram.” (Mt
2,7-11).
Onde encontraram o menino não era um palácio, como certamente
esperavam, mas nem por isso se decepcionaram; prostraram-se e adoraram o menino
no colo de sua mãe.
Por não ser um palácio, como esperavam, a fé e esperança deles não
vacilaram e nem diminuíram um só pouquinho. Por inspiração divina sabiam que se
encontravam na presença daquele que, nascido de mulher (cf Gl 4,4) e na mais
extrema pobreza e desamparo, era o Rei, não só dos judeus, mas do Universo.
Entraram na casa e ali encontraram o menino com Maria, sua mãe e,
tomados do mais profundo respeito e veneração, prostraram-se por terra e
adoraram o menino, reconhecendo nele Deus e Salvador do mundo.
Com quem estava o menino? “Com
Maria, sua mãe”.
O primeiro trono do Rei dos reis é o colo de sua mãe, e o Rei dos reis
deve ser adorado no seu trono que é o símbolo da sua dignidade, e o trono do
rei é inviolável porque, se for violado, depõe contra a majestade do rei e quem
o difamar está sujeito a penalidades. Maria, a mãe do Rei dos reis é o trono
por excelência do Rei Messias, Salvador do mundo, adorado pelos magos.
E os magos, “entrando na casa,
viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se, o adoraram.” (Mt 2,11),
realizando assim as profecias de Isaías que, inspirado por Iahweh, disse e
escreveu: “Os reis serão os que te
alimentarão, e as rainhas as tuas amas; com o rosto inclinado até a terra te
adorarão e lamberão o pó de teus pés. E saberás que eu sou o Senhor, e que não
serão confundidos os que esperam em mim.” (Is 49,23), e “As nações caminharão à tua luz, e os reis,
ao resplendor da tua aurora.” (Is 60,3).
E os magos, “abrindo seus
tesouros, lhe ofereceram presentes de ouro, incenso e mirra.” (Mt 2,11). Isaías
preconizara: “Então tu verás, estarás na
abundância, o teu coração se espantará e se dilatará fora de si mesmo, quando
se voltarem para ti as riquezas do mar, e a fortaleza das nações vier ter
contigo. Ver-te-ás inundada duma multidão de camelos, de dromedários e de Efa;
todos virão de Sabá trazendo-te ouro e incenso, e publicando os louvores do
Senhor.” (Is 60,5-6).
O rei Davi, o grande rei, guerreiro e profeta, cantor e salmista,
também inspirado pelo Espírito do Senhor, profetizou: “Os reis de Tarsis e as ilhas lhe oferecerão dons; os reis da Arábia e
de Sabá lhe trarão presentes; e adorá-lo-ão todos os reis da terra, todas as
nações o servirão, porque livrará o pobre do poderoso, e o indigente que não
tem quem lhe valha.” (Sl 72 (71),10-13).
Os magos, depois de se inclinarem por terra e adorarem o menino no colo
de sua mãe, ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra. Esses presentes retratam um
simbolismo todo especial.
O ouro é o símbolo dos reis, da majestade, do poder, da riqueza e
glorifica a realeza divina de Jesus Cristo com um símbolo material;
presenteando ao Senhor Jesus com ouro os magos reconhecem em Jesus o Rei dos
reis, o Imperador de todas as nações.
O incenso é a homenagem e o reconhecimento da onipotência do Senhor
Jesus. Através do ouro reconheceram em Jesus ”o homem”, a sua humanidade e
através do incenso reconheceram a sua natureza divina, o Filho do Pai Eterno, a
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
A mirra é uma planta do oriente de onde se extrai uma goma aromática
que os antigos usavam para embalsamar os corpos de seus entes queridos
falecidos; a mirra foi, portanto, um preito àquele que “Foi oferecido em sacrifício, porque ele mesmo quis, e não abriu a sua
boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro, como um cordeiro diante do que
o tosquia, guardou silêncio e não abriu sequer a boca.” (Is 53,7).“Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre
si as nossas fraquezas, ele mesmo carregou as nossas dores; nós o reputamos
como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por
causa das nossas iniquidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o
castigo que nos devia trazer a paz caiu sobre ele, e nós fomos sarados com as
suas pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se
extraviou por seu caminho; e o Senhor carregou sobre ele a iniquidade de todos
nós.” (Is 53,4-6). A mirra foi um preito ao “Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), à
Vítima que seria imolada, carregando no seu sacrifício supremo todos os pecados
do gênero humano.
O ouro, o incenso e a mirra são o símbolo do amor, da oração e da morte.
A estrela que brilhou e levou os magos até onde estava o Menino Deus
continua brilhando para nós, ainda hoje, e para todo o sempre; essa estrela é a
nossa consciência que, cada vez que praticamos o bem e respeitamos o próximo,
nos leva até Jesus e, ao contrário, quando descumprimos os mandamentos do
Senhor ela se apaga e desaparece...
Os magos são para nós o maior exemplo de fé e perseverança.
Não sabemos exatamente de onde vieram os magos, mas de uma coisa temos
certeza: eles vieram de muito longe, de tão longe que o Senhor Nosso Deus os
equipou de um guia especial: uma estrela diferente brilhando no firmamento para
orientá-los nessa longa jornada e conduzi-los e orientá-los até onde estava o
Messias, e eles tinham certeza que, seguindo aquela estrela encontrariam o Rei
dos Reis, a Salvação.
Não desistiram. Não sabemos por quanto tempo, mas caminharam até
encontrar o “Rei dos judeus” anunciado em todo o Antigo Testamento. Tiveram fé,
acreditaram e encontraram a Salvação. Não se intimidaram com o sanguinário
Herodes: “E, avisados por Deus em sonhos
para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra.”
(Mt 2,12).
A atitude de rancor, histeria e ímpeto sanguinário de Herodes ao se ver
ludibriado pelos magos, tomamos conhecimento por Mateus: “Então Herodes, vendo que tinha sido enganado pelos magos, irou-se em
extremo, e mandou matar todos os meninos, que haviam em Belém, e em todos os
seus arredores, da idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos magos.” (Mt
2,16), isso numa tentativa extremamente criminosa e desesperada de que, no meio
dos meninos com menos de dois anos de idade que fossem sacrificados em Belém e
na redondeza, à espada, estivesse também o “Rei
dos Judeus recém-nascido”.
Tristemente mais uma profecia é cumprida: “Isto diz o Senhor: foram ouvidas no alto vozes de lamentação, de
pranto e de choro, são de Raquel, que chora os seus filhos e não quer ser
consolada acerca deles, porque já não existem.” (Jr 31,15).
Que triste ironia: os magos vêm de longe para adorarem e proclamarem o
nascimento do Messias e partem, deixando atrás de si um rastro de sangue
inocente, desolação, morte e desespero provocado pela ganância, sede de poder e
autoritarismo de um débil mental que não mediu consequências para se manter no poder...
Outras coisas desse acontecimento poderão passam-nos despercebidas e
até julgamos que servem apenas para enfeitar a narrativa dos Evangelistas,
tornando-as até românticas e, na maioria das vezes, não nos preocupamos em
parar para refletir os seus verdadeiros significados.
Na passagem, por exemplo, dos magos do Oriente que vieram adorar o
Menino Deus, deparamos-nos com uma estrela: “...
nós vimos a sua estrela no oriente...” (Mt 2,2).
Essa estrela para nós, à primeira vista, não passa de uma coisa
romântica e poética, que serve apenas para deixar a narrativa mais bonita, mais
emocionante.
Os magos deixaram a sua terra, saíram de seus países porque viram uma
estrela diferente que lhes chamou a atenção e, através de seus estudos sabiam
que aquela estrela indicava que a Boa Nova prometida aos homens em todo o
Antigo Testamento e desde a criação do mundo havia chegado e a estrela, luzindo
no firmamento, os convidava para irem ao seu encontro. E eles partiram de onde
estavam à busca dessa Boa Nova.
A estrela de Belém tem um papel preponderante no contexto evangélico.
Mateus cita essa estrela que permaneceu cintilante até o encontro dos
magos com o Menino e não mais se referencia a ela na volta dos magos para as
suas pátrias. Quando encontram o Menino com sua mãe a estrela simplesmente
desaparece porque já havia cumprido a sua missão: a de levar até Jesus Cristo
homens sedentos da verdade, ansiosos da Boa Nova e com os corações cheios de fé
e, depois desse encontro, preocupados em mudar de vida e de mentalidade.
Essa estrela é o símbolo do cristão autêntico. A estrela, simplesmente,
trouxe os magos até onde estava Jesus. Essa foi a sua função.
Os cristãos têm por função fundamental a de levar todos os homens até
onde está Jesus e apresentá-los a ele, e depois, sair de cena... Essa é a
função do cristão, a exemplo de João Batista: “Esta é a minha alegria, e ela é muito grande. É preciso que ele cresça
e eu diminua”. (Jo 3,29b-30). A estrela brilhou na escuridão e se destacou
dentre todas as demais que haviam no céu e jamais se perdeu em qualquer
constelação mas sempre se manteve em evidência para que os magos não a perdessem
de vista em hipótese alguma. Assim também deve ser o cristão: brilhar na
escuridão do mundo e ser refratário ao pecado, sem contaminar-se; destacar-se
entre todos os homens porque o cristão é alguém diferente, é alguém escolhido
para viver uma vida nova, única e diferente.
O cristão não pode deixar-se perder no emaranhado das idéias errôneas e
doutrinas falsas que tentam levar os homens para caminhos diferentes daqueles
que conduzem até Belém, onde está Jesus.
O cristão, como a estrela de
Belém, deve sempre manter-se em evidência, viver uma vida diferente daquela que
os homens do mundo levam; uma vida de testemunho de quem acredita que aquele
que nasceu num curral de animais é verdadeiramente “o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36), “o
Filho de Deus que se fez homem para que todos os homens se tornassem filhos de
Deus”, como disse Agostinho de Hipona. O cristão, como a estrela de Belém,
não é um anônimo no meio da multidão, mas alguém que brilha na escuridão para
indicar a todos os homens de boa vontade o caminho que leva até Jesus Cristo. O
cristão, como a estrela de Belém, tem a função de levar todos os homens a
adorarem Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, nascido de uma
virgem por obra e poder do Espírito Santo (Lc 1,31).
O brilho do cristão deve ser o seu modo de vida porque é vivendo como
verdadeiros seguidores de Jesus Cristo que se destaca no meio de todos os
homens e, através desse brilho que vem do alto todos os homens possam vê-lo e
identificá-lo no meio da multidão e da escuridão do mundo, e possam seguí-lo
pelo “Caminho, Verdade e Vida” (Jo
14,6) que é Jesus Cristo.
Os magos, ao adorarem o Menino Deus, fizeram ver ao mundo que a estrela
havia cumprido a sua missão e, a partir daquele momento desaparecido de cena.
O cristão, como a estrela de Belém, depois de conduzir todos à presença
do Divino Mestre, deve também sair de cena para que somente apareça Jesus
Cristo e somente Jesus Cristo seja colocado em evidência na vida de todos os
homens, como fez João Batista ao apontar a dois de seus discípulos Jesus que passava:
“No outro dia João lá estava novamente
com dois de seus discípulos e, vendo Jesus que ia passando, disse: Eis o
Cordeiro de Deus. Ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus.”
(Jo 1,35-36). Os dois discípulos, apresentados a Jesus por João, seguiram a
Jesus e, a partir daí, João Batista saiu de cena, como aconteceu com a estrela
de Belém e como deve ser todos os cristãos autênticos: “É preciso que ele cresça e eu diminua”. (Jo 3,30).
Nenhum comentário:
Postar um comentário