ASCENSÃO DE JESUS AOS CÉUS
Diácono Milton Restivo
Quarenta dias depois de sua ressurreição Jesus foi
levado para o céu (cf. At 1,3): “Jesus
foi levado ao céu à vista deles. E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam
vê-lo mais” (At 1,9).
Mas, afinal das contas, o que é o céu? Onde fica? E
Jesus “foi arrebatado ao céu e sentou-se
à direita de Deus Pai” (Mc 16,19).
No Antigo Testamento e no Novo Testamento, em suma, o
céu é a casa de Deus; e Jesus, que veio do Pai, voltou para o céu, a casa o
Pai. Se o céu é a casa de Deus, então é um lugar pleno de alegria, felicidade,
amor, fraternidade, compreensão, aceitação.
Paulo, no grande hino do amor, diz: “Agora, portanto, permanecem estas três
coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1Cor
13,13).
A fé e a esperança desaparecerão com a morte, só
restará o amor; portanto, o céu é a casa do amor.
João disse na sua carta: “Deus é amor”. (1Jo 4,16).
Agora ficamos na dúvida se João quis realmente dizer
que “Deus é amor”, ou se “o amor é Deus”; não importa, a conclusão que chegamos é que o céu é a casa de
Deus, a casa do amor.
Quando dizemos que temos Deus no coração, o nosso
coração é o céu, porque Deus só pode estar no céu. A morada de Deus só pode ser
o céu. Quando afirmamos que o nosso lar é o céu, queremos dizer que Deus reside
no nosso lar, porque Deus só pode residir no céu.
Deus só pode estar no céu, e se a nossa comunidade tem
a presença sensível de Deus, então a nossa comunidade já vive antecipadamente a
alegria e o amor que reina no céu.
E Jesus “foi
arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus Pai”. (Mc 16,19).
No início do Evangelho de Marcos Jesus começa os seus
ensinamentos com uma advertência que, aliás, são as primeiras palavras de Jesus
nesse Evangelho: “O tempo já se cumpriu,
e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Nova” (Mc
1,14).
E, antes de Jesus ascender aos céus, deixou as últimas
orientações para os seus seguidores, que se assemelham à primeira advertência
sobre a Boa Nova: “E Jesus disse: ‘vão
pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para a humanidade. Quem acreditar e
for batizado, será salvo. Quem não acreditar será condenado”. (Mc
16,15-16).
Jesus pede aos seus discípulos que dêem continuidade
àquilo que ele veio fazer e que fez durante toda a sua vida: trazer a Boa Nova,
proclamar a Boa Nova, anunciar a Boa Nova.
O que nos vem à cabeça quando ouvimos “anunciar” seria
transmitir com palavras o que o Cristo nos ensinou e nos deixou; é também isso,
mas não é só isso.
“Anunciar”, em primeira instância, é viver, é colocar
em prática, é converter-se, é encher o seu coração do amor e do perdão do Pai,
porque ninguém dá o que não tem, e só damos e anunciamos aquilo de que o
coração está cheio. É pelos exemplos de vida cristã que vivemos é que
conseguimos cativar mais ovelhas para o rebanho do bom Pastor, sendo uma ovelha
exemplar.
Quem poderia acreditar em Jesus Cristo e se
deixar batizar se não tiver um exemplo a ser seguido e um anúncio a ser
colocado em prática?
O fato de ser salvo ou condenado, não é uma atitude ou
iniciativa de Jesus, mas, é de quem crer e assumir a Boa Nova com
responsabilidade, este será salvo, e, quem toma conhecimento da Boa Nova e não
a leva a sério, já se condenou.
Jesus já havia advertido sobre isso quando disse: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para
condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Quem
acredita nele, não está condenado, quem não acredita, já está condenado, porque
não acreditou no nome do Filho único de Deus” (Jo 3,17-18), repetindo essa
mesma admoestação quando disse antes de voltar para o Pai: E Jesus disse: ‘vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para a
humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar será
condenado” (Mc 16,15-16).
O batismo leva-nos a imitar Jesus em tudo e a fazer o
que ele faria se estivesse no nosso lugar.
Paulo nos diz em uma de suas cartas: “Que a palavra de Cristo permaneça em vocês
com toda a sua riqueza, de modo que possam instruir-se e aconselhar-se
mutuamente com toda a sabedoria. Inspirados pela graça, cantem a Deus de todo o
coração, salmos, hinos e cânticos espirituais. E tudo o que vocês fizerem
através de palavras ou ações, o façam em nome do Senhor Jesus, dando graças a
Deus Pai por meio dele” (Cl 2,16-17).
Jesus coloca na nossa mão uma grande responsabilidade:
a de nos convertermos e, pelo nosso exemplo de vida, converter o irmão.
Ser batizado é aderir à fé e assumí-la com todas as
suas consequências.
Ter fé é assumir com responsabilidade as exigências do
batismo. Para quem assim o fizer, Jesus foi primeiro para o céu para reservar a
cada um uma morada na casa do Pai: “Não
fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas
moradas na casa do meu Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou
preparar um lugar para vocês”. (Jo 141-2).
E Jesus continua na sua exortação: “Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem, são estes:
expulsarão demônio em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem cobras ou
algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre os
doentes,estes ficarão curados” (Mc 16,17-18).
Com isso Jesus quer dizer que a Boa Nova que ele veio
trazer é libertadora: liberta o homem que expulsa os demônios que o impedem de
viver em harmonia e fraternidade. Falarão novas línguas. Não línguas incompreensíveis,
inelegíveis, indecifráveis e inteligíveis que indevidamente são atribuídas ao
Espírito Santo, mas a verdadeira língua do Espírito Santo que todos entendem: a
língua do amor, da paz, da fraternidade, da igualdade, da união, da inclusão
dos discriminados e marginalizados; falarão uma língua que todos entendem sem
haver necessidade de tradutores, porque será a língua do amor, porque “Deus
é amor” (1Jo 4,8.16).
Também não serão contaminados com as cobras e venenos
do século, como a mídia, a imprensa marrom, as atitudes inconvenientes de quem
deveria dar o exemplo.
Também curarão muitos surdos que não têm ouvido para
ouvir a Boa Nova, muitos mudos, que mesmo conhecendo a Boa Nova não a vivem e
nem a divulgam, muitos cegos que não tem visão para contemplar as maravilhas do
Senhor, muitos paralíticos que se colocaram nas cadeiras de rodas da
ignorância, da inércia, do comodismo, e se acomodaram no exercício de divulgar
a Boa Nova. E ressuscitarão muitos mortos que se encontram nas suas tumbas
mortuárias por terem perdido a vontade e a alegria de viver por não conhecerem
ou não crerem na Boa Nova.
E, finalmente, “O
Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19).
O que tinha de fazer Jesus o fez; agora ele deixa a
continuidade de sua missão aos seus apóstolos, aos seus discípulos, enfim, à
sua Igreja.
O tempo da salvação e do Reino de Deus não terminou
com a ida de Jesus para a casa do Pai; muito pelo contrário, tornou-se
universal pelas atitudes daqueles que aderiram à fé, que acreditam em Jesus e
se tornaram as suas testemunhas e seus representantes na caminhada rumo a casa
do Pai.
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