sábado, 23 de maio de 2015

PENTECOSTES

PENTECOSTES

Diácono Milton Restivo
 
No Evangelho Jesus compara o Espírito de Deus como um rio de água viva que jorrará do coração de quem estiver aderido à sua mensagem e aberto as portas do seu coração ao Espírito do Pai, porque “Jesus falava do Espírito que deviam receber os que tivessem fé nele.” (Jo 7,39). Ai chegamos à Santa Missa do dia de Pentecostes.
A palavra grega “Pentecostes” significa que a festa celebrada nesta oportunidade tem lugar cinquenta dias depois da Páscoa da Ressurreição.

No domingo passado celebramos a ascensão de Jesus aos céus, quarenta dias depois da sua ressurreição.
O Pentecostes cristão é a efusão escatológica do Espírito Santo; é a coroação da Páscoa de Jesus Cristo. Foi pelo Espírito Santo que Jesus se encarnou no seio de Maria, a Palavra de Deus que se fez homem e veio habitar entre nós (cf Jo 1,14) para nossa salvação: “Maria perguntou ao anjo: ‘Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?’ o anjo respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que nascer de você será chamado Filho de Deus’.” (Lc 1,34-35).
Segundo a catequese primitiva o Cristo morto, ressuscitado e assentado à direita de Deus Pai, complementa totalmente sua obra derramando o Espírito sobre a comunidade apostólica, conforme Pedro esclarece no seu discurso em praça pública depois de receber o Santo Espírito: “Deus ressuscitou a este Jesus. E nós todos somos testemunhas disso. Ele foi exaltado à direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito e o derramou: é o que vocês estando vendo e ouvindo”. (At 2,32).
        O Espírito é dado visando um testemunho a ser levado até as extremidades da terra, conforme disse Jesus por ocasião de sua ascensão aos céus, assim como vimos na primeira leitura do domingo passado: “Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem minhas as testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.” (At 1,8).
Jesus, pressentindo o início do fim, sentindo que o momento de seu sacrifício supremo chegava, percebendo que sua paixão e morte se avizinhavam, em todas as conversas que começara a ter com os Apóstolos tentava confirmá-los na fé e fazê-los entender que, muito embora tivesse de deixá-los, ele enviaria o Espírito Santo que daria testemunho dele e para que eles não ficassem sozinhos: “O Advogado que eu mandarei para vocês de junto do Pai, é o Espírito da verdade que procede do Pai. Quando ele vier, dará testemunho de mim. Vocês também darão testemunho de mim, porque vocês estão comigo desde o começo” (Jo 15,26-27); “Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse”. (Jo 14,26).
Jesus, realmente preocupado com a fragilidade e insegurança dos Apóstolos, os fortalecia, dizendo: “Se vocês me amam, observarão meus mandamentos, e rogarei ao Pai e ele dará a vocês outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece.” (Jo 14,15-17). “Ainda tenho muitas coisas para dizer, mas agora vocês não seriam capazes de suportar. Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer”. (Jo 16,12-13).
O Espírito de Deus não veio para fazer novas revelações e nem para falar por si e nem de si próprio; veio para confirmar as coisas que Jesus já havia ensinado: “O Espírito da Verdade manifestará a minha glória, porque ele vai receber daquilo que é meu, e o interpretará para vocês. Tudo o que pertence ao Pai, é meu também. Por isso é que eu disse: o Espírito vai receber daquilo que é meu, e o interpretará para vocês”. (Jo 16,14-15). Repetindo o que Jesus disse: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade”. (Jo 16,13).
Paulo, na sua carta aos efésios lida na segunda leitura, incentiva, fortalece os fieis e pede ao Pai que dê a todos eles o Espírito de sabedoria: “Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, lhes dê um espírito de sabedoria que lhes revele Deus, e faça que vocês o conheçam profundamente.” (Ef 1,17).
Mesmo com essas palavras de coragem, ânimo e fortalecimento, após a morte de Jesus, os apóstolos, amedrontados, se escondiam, não andavam nas ruas por medo de serem reconhecidos como discípulos e seguidores daquele que fora condenado e morto em uma cruz, e não tinham a coragem de abrir a porta da casa onde estavam com medo de que os judeus os pudessem prendê-los e até matá-los por serem eles amigos de Jesus: “Ao anoitecer daquele dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus...” (Jo 20,19). 
Eles nem sequer ousavam pronunciar em voz alta o nome de Jesus. 
Parecia que tudo havia terminado com a morte de Jesus; tudo tinha sido maravilhoso, tudo tinha sido bom, as mensagens, os milagres, as multiplicações de pão, os mandamentos que Jesus lhes havia ensinado eram dignos der serem seguidos, mas... Jesus morreu e o que restava fazer agora seria cada um voltar para sua casa, para os seus afazeres e recordar com saudades aquele tempo em que viveram com Jesus, aquele que se dizia “o Cristo”.      
Momentos antes de sua Ascensão aos Céus, Jesus reafirmou a promessa de ânimo, encorajamento e fortalecimento na fé, ordenando aos Apóstolos que permanecessem em Jerusalém para que recebessem o Espírito Santo: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos da força do alto”. (Lc 24,49).
De fato, dez dias após da Ascensão de Jesus, o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e todos os que com eles estavam reunidos em Jerusalém, “... entre as quais Maria, a Mãe de Jesus...” (At 1, 14), foram confirmados na fé, fazendo-os lembrar tudo aquilo que o Divino Mestre lhes havia dito e ensinado, e esse fato aconteceu da seguinte maneira: “Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimissem.” (Atos, 2, 1-4).
Tomemos por base Pedro em relação ao seu encontro com Jesus.
Antes de conhecer Jesus, Pedro era um pescador, trabalhador, honesto, autoconfiante e, pelo que o conhecemos através dos Evangelhos, de pouca educação, ou melhor, pouca instrução.
Quando conheceu Jesus e começou a andar com Jesus, mostrou-se um aprendiz atento, autoconfiante, muitas vezes contestador, mas muito voltado para as coisas do mundo.
Quando Jesus foi preso faltou-lhe a coragem e negou Jesus por três vezes antes que o galo cantasse uma vez (cf Mt 26,69-75).
 Quando Jesus foi morto, Pedro ficou desapontado, medroso, abatido, temeroso, aturdido, perdendo toda a esperança e confiança, trancando-se com os demais em casa com medo das autoridades civis e religiosas dos judeus.
Mas, no Pentecostes, depois de receber o Espírito Santo, tornou-se extremamente confiante em Deus, destemido, confrontando as autoridades religiosas judaicas e dando a sua própria vida para testemunhar o que aprendera do Mestre.
A partir do momento em que os discípulos de Jesus receberam o Espírito Santo, tudo se transformou, tudo se renovou e os Apóstolos encheram-se de confiança e coragem  e um amor violento tomou conta de seus corações, e eles foram impelidos a abrirem as portas de seu esconderijo e dos seus corações e saírem em praça pública proclamando a todos que Jesus, aqueles que eles tinham matado pregando em uma cruz, era e é e sempre será o Filho de Deus feito homem, o Salvador do mundo, testemunhando que Deus o havia ressuscitado: “Deus ressuscitou a este Jesus. e nós todos somos testemunhas disso. Ele foi exaltado à direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito prometido e o derramou: é o que vocês estão vendo e ouvindo.” (At 2,32-33).
Pedro, aquele mesmo Pedro que abandonara Jesus no momento de sua prisão no Monte das Oliveiras, que negara Jesus por três vezes quando Jesus estava preso em casa de Pilatos, que vivia escondido e apavorado desde que Jesus Cristo havia sido preso, crucificado, morto e sepultado, esse mesmo Pedro, aparentemente, o mais covarde de todos, tomado de uma coragem sem precedentes e sem igual, juntamente com os dez, sai em praça pública, e, diante de uma multidão de pessoas de todas as partes do mundo, levanta a voz e proclama alto e em bom som para que todos ouvissem e não tivessem mais dúvidas a respeito de Jesus.
A partir daquele momento, nascia a Igreja de Jesus Cristo.
O Espírito Santo confirma a certidão de nascimento da Igreja Cristã que difundiria no mundo todo as mensagens do Filho de Deus feito homem; o dia de Pentecostes é o dia do nascimento, do aniversário da Igreja de Jesus Cristo...
A ação do Espírito Santo acontece no dia a dia do cristão, através de conversas francas e abertas para a construção da paz e da justiça, no extermínio da fome, da miséria, da ignorância, da violência e do desamor; na alegria das crianças através das quais Jesus deu exemplo de acolhimento: “Deixem as crianças, e não lhes proíbam de vir a mim, porque o Reino do Céu pertence a elas” (Mt 19,14); na integração da adolescência e juventude no serviço da caridade e do amor; no afago carinhoso aos idosos que deram a sua vida para que fôssemos o que somos hoje; no carinho, consolo e conforto aos doentes que são os companheiros e participantes do sofrimento de Jesus na subida do Calvário; no amar o irmão como Jesus amou: “Assim como meu Pai  me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. [...] O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amei vocês.” (Jo 15,9.12); no dedicar sua vida pela sua fé e no servir o seu irmão: “Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos.” (Jo 15,13); no entregar-se à oração silenciosa, como diz Paulo na segunda leitura da Missa da Vigília do Pentecostes: “O Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito Santo que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos” (Rm 8,26-27).

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