domingo, 31 de maio de 2015

SANTÍSSIMA TRINDADE


 SANTÍSSIMA TRINDADE

 Diácono Milton Restivo

Os Evangelhos narram trinta e sete grandes milagres de Jesus, sem contar os que não foram escritos: “Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Jesus fez ainda muitas outras coisas. [...] Se fossem escrito uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos” (Jo 20,30; 21,25).
Jesus provou que era Deus!
Só Deus pode fazer essas obras! É por isso Paulo disse que: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. (Cl 2,9). “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15). 
O apóstolo Pedro diz como testemunha das maravilhas realizadas pelo Pai através de Jesus, a sua Palavra, e afirma: “Vimos a sua majestade com nossos próprios olhos” (2Pd 1,16), e João atesta: “E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,14b).
Por muitas vezes nos Evangelhos Jesus identifica-se com o Pai: “Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30); "Quem me vê, vê também o Pai” (...) “Vocês não crêem que eu estou no Pai e o Pai está em mim”?" (Jo 14,15-16); "Para que vocês saibam e reconheçam que o Pai está em mim e eu estou no Pai" (Jo 10, 38); "Eu estou no Pai e o Pai está em mim" (Jo 14,11); "Antes que Abraão fosse feito, Eu sou" (Jo 8,58). Paulo insiste que Jesus é o único mediador entre o Pai e nós: “Para nós não existe mais que um só Deus, o Pai de quem tudo procede e um só mediador entre Deus e nós, Jesus Cristo, Homem” (1Tm 2, 5).
          Nos Evangelhos vemos a ação do Espírito Santo em relação à vida de Jesus Cristo.
Só nos Evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas há trinta e cinco referências de intervenções do Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, na vida humana de Jesus, das quais citaremos apenas algumas.
Do nascimento de Cristo ao seu batismo: Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo (Mt 1,20; Lc 1,35); João Batista, o precursor, foi cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe (Lc 1,15); Izabel ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1,41); Zacarias profetizou cheio do Espírito Santo (Lc 1.67); o velho Simeão recebeu do Espírito Santo uma revelação acerca do nascimento do Messias (Lc 2,25-27); João Batista profetizou que Jesus batizaria no Espírito Santo (Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16); o Espírito Santo manifestou-se como pomba no ato do batismo de Jesus (Mt 3.16; Lc 3,22; Jo 1,32, 33); o próprio Espírito conduziu o Filho Amado ao deserto (Mt 4,1; Lc 4,1; Mc 1,12); Jesus Cristo recebeu o Espírito sem medida (Jo 3,4).
O Ministério de Jesus com a intervenção do Espírito Santo: Jesus voltou para a Galiléia pela virtude do Espírito (Lc 4,14). O Espírito do Senhor está sobre ele (Lc 4,18-21); Jesus expulsou demônios pelo poder do Espírito Santo (Mt 12,28). Deus, o Pai, ungiu Jesus com o Espírito Santo (At 10,38). O Espírito Santo ressuscitou Jesus dentre os mortos (Rm 8,11; 1Pd 3,18); pelo Espírito Jesus ofereceu-se imaculado (Hb 9,14); antes de partir e subir aos céus Jesus deu instruções aos apóstolos, movido pelo Espírito Santo (At 1,2).
Jesus foi concebido no seio de Maria pelo Espírito, andou no Espírito, ressuscitou pelo Espírito. Agora, como o Senhor glorificado, ele dá o Espírito ao seu povo, a fim de que possa andar como ele andou, servir como ele serviu, viver como ele viveu e ser erguido dentre os mortos como ele foi erguido. Jesus só começou o seu ministério depois de ser ungido pelo Espírito Santo, de um modo visível, no ato do batismo nas águas.
Jesus ensina acerca do Espírito: O Espírito ensinará aos discípulos como hão de falar: “Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”.(Mt 10,19-20; Mc 13,11; Lc 12,11-12).
A blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada: “Todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada”. (Mt 12,31; Mc 3,29; Lc 12,10). Davi profetizou pelo Espírito Santo (Mc 12,36).
O Espírito será dado em resposta à oração: “Ele dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem”. (Lc 11,13).
O batismo nas águas é em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mt 28,19).
Todos devem ser batizados nas águas e no Espírito Santo: “Ele batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo”. (Lc 3,16; Mc 16,16; Lc 24,48-49). O Espírito é o que dá vida (Jo 6,63).
O Espírito Santo é como Água Viva para o que crê em Jesus Cristo (Jo 4,14; 7,38-39). "Eu rogarei ao Pai e Ele dará a vocês outro Advogado para que permaneça com vocês para sempre. Ele é o Espírito da Verdade. [...] Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em Meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse". (Jo 14,16-17.26).
O Consolador virá da parte do Pai (Jo 15,26). "Eu enviarei para vocês o Espírito" (Jo 16,7-13). "Recebei o Espírito" (Jo 20,22). "Ficai em Jerusalém até que do alto sejais revestidos de Poder" (Lc 24,49).
A Trindade é presença perene e constante no Novo Testamento. Deus se revela aos homens na medida em que os homens possam entender a sua Palavra, mas a inteligência humana, diante de Deus, não passa de menos do que uma sementinha de mostarda.
Então, o que sabemos de Deus ou sobre Deus?  Nada. Para os homens a Trindade é um grande mistério e é por isso que a chamamos de Mistério da Trindade: a inteligência humana jamais a perscrutaria.
Santo Agostinho, bispo de Hipona, que nasceu no ano 354 e faleceu em 430, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou exaustivamente compreender o inefável mistério da Trindade.
Certa vez, Agostinho passeava pela praia, completamente compenetrado, pediu a Deus luz para que pudesse desvendar o enigma da Trindade. Até que se deparou com uma criança brincando na areia. A criança fazia um trajeto curto, mas repetitivo: corria com uma concha na mão, cheia de água que apanhara do mar até um pequeno buraco que havia feito na areia da praia, e ali despejava a água; sucessivamente voltava, enchia a concha e a despejava novamente.
Curioso, Agostinho perguntou à criança o que ela pretendia fazer. A criança lhe disse que queria colocar toda a água do mar dentro daquele buraquinho. Agostinho, possivelmente sorrindo da ingenuidade e inocência da criança, lhe explicou ser impossível realizar o intento. Aí a criança lhe disse: “É muito mais fácil o oceano todo ser transferido para este buraco, do que compreender-se o mistério da Santíssima Trindade”. E a criança, desapareceu... 
Agostinho concluiu que a mente humana é extremante limitada para poder assimilar a dimensão de Deus e, por mais que se esforce, jamais poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou por seu raciocínio. Por isso é que a denominamos “mistério”, algo que está fechado à nossa inteligência por ser uma verdade de fé inaccessível à razão, cujo conteúdo só pode ser alcançado pela revelação divina.
Ao participarmos da Santa Missa e em todo ritual litúrgico observamos que, desde o início, quando fazemos o sinal da cruz, até o momento da bênção trinitária final, constantemente o presidente da celebração invoca a Santíssima Trindade, particularmente durante a oração eucarística. As orações que o sacerdote pronuncia após a consagração, que por certo são dignas de serem ouvidas com atenção e recolhimento, são dirigidas a Deus Pai, por mediação de Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo.
É na santa missa onde o cristão vislumbra, pela graça do Espírito Santo, o mistério da Santíssima Trindade. Devemos, neste momento, invocar a Deus Trino, que aumente nossa fé, porque sem ela, será impossível crer neste mistério, mistério de fé no sentido estrito.
Mesmo sem conseguir penetrar na sua essência o cristão deverá, simplesmente, crer nele. 
O mistério da Santíssima Trindade é uma das maiores revelações feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja nos convida a “glorificar a Santíssima Trindade”, como manifestação da celebração.  Não há melhor forma de fazê-lo, senão revisando as relações com nossos irmãos, para melhorá-las e assim viver a unidade querida por Jesus: “Que todos sejam um”. (Jo 17,21).
Pela graça do Batismo “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, mesmo na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna. Esta é a nossa magnífica vocação.
O Catecismo da Igreja Católica, 266, ensina: “A fé católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade e a Trindade na unidade, não confundindo as pessoas, nem separando a substância; pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a majestade” (Symbolum “Quicumque”).

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