SANTÍSSIMA TRINDADE
Diácono Milton Restivo
Os Evangelhos narram trinta e sete grandes milagres de
Jesus, sem contar os que não foram escritos: “Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não
estão escritos neste livro. Jesus fez ainda muitas outras coisas. [...] Se fossem escrito uma por uma, penso que
não caberiam no mundo os livros que seriam escritos” (Jo 20,30; 21,25).
Jesus provou que era Deus!
Só Deus pode fazer essas obras! É por isso Paulo disse
que: “Nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade”. (Cl 2,9). “Ele
é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15).
O apóstolo Pedro diz como testemunha das maravilhas
realizadas pelo Pai através de Jesus, a sua Palavra, e afirma: “Vimos a sua majestade com nossos próprios
olhos” (2Pd 1,16), e João atesta: “E nós contemplamos a sua glória:
glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,14b).
Por muitas vezes nos Evangelhos Jesus identifica-se
com o Pai: “Eu e o Pai somos
um" (Jo 10,30); "Quem
me vê, vê também o Pai” (...) “Vocês não crêem que eu estou no Pai e o Pai está em mim”?"
(Jo 14,15-16); "Para que vocês saibam
e reconheçam que o Pai está em mim e eu estou no Pai" (Jo 10,
38); "Eu estou no Pai e o Pai
está em mim" (Jo 14,11); "Antes que Abraão fosse feito, Eu sou" (Jo 8,58). Paulo
insiste que Jesus é o único mediador entre o Pai e nós: “Para nós não existe
mais que um só Deus, o Pai de quem tudo procede e um só mediador entre Deus e
nós, Jesus Cristo, Homem” (1Tm 2, 5).
Nos Evangelhos vemos a ação do Espírito Santo em
relação à vida de Jesus Cristo.
Só nos Evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas há
trinta e cinco referências de intervenções do Espírito Santo, a terceira Pessoa
da Santíssima Trindade, na vida humana de Jesus, das quais citaremos apenas
algumas.
Do nascimento de Cristo ao seu batismo: Jesus foi
concebido por obra e graça do Espírito Santo (Mt 1,20; Lc 1,35); João Batista,
o precursor, foi cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe (Lc 1,15);
Izabel ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1,41); Zacarias profetizou cheio do
Espírito Santo (Lc 1.67); o velho Simeão recebeu do Espírito Santo uma revelação
acerca do nascimento do Messias (Lc 2,25-27); João Batista profetizou que Jesus
batizaria no Espírito Santo (Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16); o Espírito Santo manifestou-se
como pomba no ato do batismo de Jesus (Mt 3.16; Lc 3,22; Jo 1,32, 33); o próprio
Espírito conduziu o Filho Amado ao deserto (Mt 4,1; Lc 4,1; Mc 1,12); Jesus
Cristo recebeu o Espírito sem medida (Jo 3,4).
O Ministério de Jesus com a intervenção do Espírito
Santo: Jesus voltou para a Galiléia pela virtude do Espírito (Lc 4,14). O
Espírito do Senhor está sobre ele (Lc 4,18-21); Jesus expulsou demônios pelo
poder do Espírito Santo (Mt 12,28). Deus, o Pai, ungiu Jesus com o Espírito
Santo (At 10,38). O Espírito Santo ressuscitou Jesus dentre os mortos (Rm 8,11;
1Pd 3,18); pelo Espírito Jesus ofereceu-se imaculado (Hb 9,14); antes de partir
e subir aos céus Jesus deu instruções aos apóstolos, movido pelo Espírito Santo
(At 1,2).
Jesus foi concebido no seio de Maria pelo Espírito,
andou no Espírito, ressuscitou pelo Espírito. Agora, como o Senhor glorificado,
ele dá o Espírito ao seu povo, a fim de que possa andar como ele andou, servir
como ele serviu, viver como ele viveu e ser erguido dentre os mortos como ele
foi erguido. Jesus só começou o seu ministério depois de ser ungido pelo
Espírito Santo, de um modo visível, no ato do batismo nas águas.
Jesus ensina acerca do Espírito: O Espírito ensinará
aos discípulos como hão de falar: “Quando
entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão
falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com
efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem
falará através de vocês”.(Mt 10,19-20; Mc 13,11; Lc 12,11-12).
A blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada:
“Todo pecado e blasfêmia será perdoado
aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada”. (Mt
12,31; Mc 3,29; Lc 12,10). Davi profetizou pelo Espírito Santo (Mc 12,36).
O Espírito será dado em resposta à oração: “Ele dará o Espírito Santo àqueles que o
pedirem”. (Lc 11,13).
O batismo nas águas é em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo: “Portanto, vão e façam
com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mt 28,19).
Todos devem ser batizados nas águas e no Espírito
Santo: “Ele batizará vocês com o Espírito
Santo e com fogo”. (Lc 3,16; Mc 16,16; Lc 24,48-49). O Espírito é o que dá
vida (Jo 6,63).
O Espírito Santo é como Água Viva para o que crê em Jesus Cristo (Jo
4,14; 7,38-39). "Eu rogarei ao Pai e
Ele dará a vocês outro Advogado para que permaneça com vocês para sempre. Ele é
o Espírito da Verdade. [...] Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai
vai enviar em Meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem
tudo o que eu lhes disse". (Jo 14,16-17.26).
O Consolador virá da parte do Pai (Jo 15,26). "Eu enviarei para vocês o Espírito"
(Jo 16,7-13). "Recebei o Espírito"
(Jo 20,22). "Ficai em Jerusalém até
que do alto sejais revestidos de Poder" (Lc 24,49).
A Trindade é presença perene e constante no Novo
Testamento. Deus se revela aos homens na medida em que os homens possam
entender a sua Palavra, mas a inteligência humana, diante de Deus, não passa de
menos do que uma sementinha de mostarda.
Então, o que sabemos de Deus ou sobre Deus? Nada. Para os homens a Trindade é um grande
mistério e é por isso que a chamamos de Mistério da Trindade: a inteligência
humana jamais a perscrutaria.
Santo Agostinho, bispo de Hipona, que nasceu no ano
354 e faleceu em 430, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou exaustivamente
compreender o inefável mistério da Trindade.
Certa vez, Agostinho passeava pela praia,
completamente compenetrado, pediu a Deus luz para que pudesse desvendar o
enigma da Trindade. Até que se deparou com uma criança brincando na areia. A
criança fazia um trajeto curto, mas repetitivo: corria com uma concha na mão,
cheia de água que apanhara do mar até um pequeno buraco que havia feito na
areia da praia, e ali despejava a água; sucessivamente voltava, enchia a concha
e a despejava novamente.
Curioso, Agostinho perguntou à criança o que ela
pretendia fazer. A criança lhe disse que queria colocar toda a água do mar
dentro daquele buraquinho. Agostinho, possivelmente sorrindo da ingenuidade e
inocência da criança, lhe explicou ser impossível realizar o intento. Aí a
criança lhe disse: “É muito mais fácil o
oceano todo ser transferido para este buraco, do que compreender-se o mistério
da Santíssima Trindade”. E a criança, desapareceu...
Agostinho concluiu que a mente humana é extremante
limitada para poder assimilar a dimensão de Deus e, por mais que se esforce,
jamais poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou por seu
raciocínio. Por isso é que a denominamos “mistério”, algo que está fechado à
nossa inteligência por ser uma verdade de fé inaccessível à razão, cujo
conteúdo só pode ser alcançado pela revelação divina.
Ao participarmos da Santa Missa e em todo ritual
litúrgico observamos que, desde o início, quando fazemos o sinal da cruz, até o
momento da bênção trinitária final, constantemente o presidente da celebração
invoca a Santíssima Trindade, particularmente durante a oração eucarística. As
orações que o sacerdote pronuncia após a consagração, que por certo são dignas
de serem ouvidas com atenção e recolhimento, são dirigidas a Deus Pai, por
mediação de Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo.
É na santa missa onde o cristão vislumbra, pela graça
do Espírito Santo, o mistério da Santíssima Trindade. Devemos, neste momento, invocar
a Deus Trino, que aumente nossa fé, porque sem ela, será impossível crer neste
mistério, mistério de fé no sentido estrito.
Mesmo sem conseguir penetrar na sua essência o cristão
deverá, simplesmente, crer nele.
O mistério da Santíssima Trindade é uma das maiores
revelações feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja nos convida a
“glorificar a Santíssima Trindade”, como manifestação da celebração. Não há melhor forma de fazê-lo, senão
revisando as relações com nossos irmãos, para melhorá-las e assim viver a
unidade querida por Jesus: “Que todos
sejam um”. (Jo 17,21).
Pela graça do Batismo “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) somos
chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, mesmo na
obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna. Esta é a nossa
magnífica vocação.
O Catecismo da Igreja Católica, 266, ensina: “A fé
católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade e a Trindade na
unidade, não confundindo as pessoas, nem separando a substância; pois uma é a
pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a
divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a
majestade” (Symbolum “Quicumque”).
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