O QUE QUER
DIZER: “TOMA A SUA CRUZ E SIGA-ME”?
Existem várias
explicações, várias definições, vários ensinamentos a respeito da passagem
quando Jesus diz: “Se alguém quer vir
após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23;
Mt 16,24; Mc 8,34); “Quem não carrega a
sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,27); “Aquele que não toma a sua cruz e me segue
não é digno de mim.” (Mt 10,38).
Seria um incentivo ao sofrimento, à
passividade, ao conformismo? Jesus buscou a cruz ou a cruz foi consequência da
obediência de Jesus ao plano de salvação do Pai? Paulo diz que Jesus “foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,8).
Para Jesus a obediência a
Deus estava acima de todas as coisas, inclusive acima de sua própria vontade, "E disse: Aba, Pai, todas as coisas te
são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas
o que tu queres." (Mc 14,36). Seria a obediência o caminho da cruz?
A
obediência leva ao amor, mas o amor não correspondido leva à cruz. Assim, não é
tanto a morte de Cristo por si mesma o que nos salvou, mas sua obediência até a
morte. E o que levou Jesus à cruz foi o amor intenso que ele teve pelos homens,
amor que não houve correspondência por parte dos homens. A obediência é a filha
primogênita do amor. “Deus é amor” (1Jo
4,8.16).
O novo mandamento de Jesus é o amor que vem do Pai e que transborda do
seu coração: “Eu dou a vocês um
mandamento novo: amem-se uns aos outros.Assim como eu amei vocês, vocês devem
se amar uns aos outros.” (Jo 13,34); “O
meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não
existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” (Jo 14,12-13). Foi o
mandamento do amor que levou Jesus à cruz porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.”
Dar a vida
por amor implica em morrer numa cruz? O que seria a cruz para cada um de nós?
Levamos isso muito ao pé da letra, como fazem os fundamentalistas que entendem
e ensinam que o que a palavra diz deve ser vivido e realizado tal e qual.
A
cruz, para o cristão, é o convite à obediência que o Pai faz a cada um de seus
filhos amados para a felicidade e o amor pleno. É comum ouvirmos, sempre como
desabafo e passividade, alguém dizer: “Tenho
que me conformar; essa é a minha cruz”, como se esse fosse o desejo do Pai,
o sofrimento por si só.
A cruz que Jesus nos convida a abraçar é o convite à
felicidade, ao amor e à obediência às coisas do Pai. Quem se casa para ser
infeliz? Quem assume uma profissão que se manifesta na realização de sua vida
para ser infeliz? Quem atende ao chamamento do Pai para ser um ministro
ordenado, um religioso consagrado, um cristão engajado para ser infeliz? Claro
que ninguém.
O chamamento que o Pai faz a cada um de nós, para o matrimônio,
para uma profissão liberal, para uma vida cristã e religiosa é um convite ao
amor, à obediência, à felicidade e que acaba se transformando na cruz de cada
um porque, dentro do estado de vida que cada um assume com responsabilidade,
está implícito que “não existe amor maior
do que dar a vida pelos amigos.”
E faz isso tudo por amor sem exigir nada
em troca a não ser amor, que nem sempre é correspondido, não foi isso que
aconteceu com Jesus? Isso não é tomar a cruz e não olhar para trás? Pode
existir prova de amor maior do que o amor da mãe que dá a sua vida inteirinha para o bem estar e a
felicidade de seu filho?
Quando a mulher realiza a sua vocação para a
maternidade, ela não pensa mais nela; sacrifica seus momentos de lazer, não se
importando que seu corpo tenha sido transformado pela gravidês e pelo tempo de
amamentação, passa horas e horas, noites e noites, ao lado do berço do filho
adoentado sem demonstrar cansaço, irritação, e não descansa enquanto não ver
que lhe foi restituída a saúde. Isso não é amor?
É o amor que se transforma em
cruz, porque “não existe amor maior do
que dar a vida pelos amigos.” E o pai que assume com amor e
responsabilidade o sustento do lar, a educação dos filhos, suportando por isso
as agruras que a vida do dia a dia lhe impõe tanto financeira, como
trabalhista, isso não é amor?
É o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida
pelos amigos.” E faz isso tudo por amor sem exigir nada em troca a não ser
amor, que nem sempre é correspondido, não foi isso que aconteceu com Jesus?
Isso não é tomar a cruz e não olhar para trás?
E todos aqueles
que assumem a sua vocação, a sua profissão com fé, amor, dedicação, com
respeito ao irmão, sem buscar interesses próprios e respeitando a dignidade do
outro, sem buscar vantagens e interesses próprios, fazendo tudo por amor, é o
amor que se transforma em cruz, porque “não
existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.”
E faz isso tudo por amor
sem exigir nada em troca a não ser amor, que nem sempre é correspondido, não
foi isso que aconteceu com Jesus? Isso não é tomar a cruz e não olhar para
trás? Um dos mais lindos exemplos de dedicação e amor ao próximo, apenas por
amor e sem exigir retorno, temos em
Maria, a Mãe de Jesus que sabendo que a sua prima Isabel estava em dificuldades
por ser uma mulher de idade avançada e grávida, Maria se põe a caminho para
socorrê-la nas suas necessidades e não a deixa enquanto não ver que tudo estava
certo e que ela estava bem. E, para socorrer a sua prima Isabel,
Maria não
pensou em si própria que estava grávida também: pensou só no bem do outro.
Isabel estava grávida e precisava de ajuda. Mas Maria, também estava grávida, e
grávida do Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens se tornassem
filhos de Deus. Mas Maria não pensou em si própria, deixou de lado os seus
próprios problemas para socorrer outra pessoa que necessitava de sua presença,
de sua ajuda, de seu socorro (cf Lc 1,39-80).
E, depois deste fato que nos
atesta a preocupação de Maria com todos os necessitados, através do Evangelho
(Jo 2,1-11), vamos encontrar Maria, novamente, preocupada com o bem estar de
outras pessoas, lá no casamento de Canaã, na Galiléia. Estava sendo realizado
um casamento. Maria e seu Divino Filho eram convidados e participavam da festa.
De repente, com seu espírito e atenção maternal, Maria pressentiu que os noivos
estavam em dificuldades, e com uma solicitude insuperável, se apressou em
socorrê-los, fazendo até que o seu Divino Filho
antecipasse o momento de seu primeiro milagre para realiza-lo ali, no
casamento de Canaã, na Galiléia, transformando água em vinho.
A sua prima
Isabel estava em dificuldades, e Maria, sem esperar que ela lhe pedisse, foi
até lá e a socorreu em suas necessidades. Maria pressentiu que os noivos de
Caná estavam em dificuldades, e a Senhora não esperou que alguém viesse lhe
pedir ajuda e socorro, e se prontificou,
de imediato, em socorrê-los. Não é isso prova de amor? Não é isso o início da
caminhada da cruz de Maria, se submetendo inteiramente à vontade de Deus,
confirmando aquilo que ela já havia dito: “Eis
aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundoi a tua Palavra.” (Lc
1,38)? Isso não é amor? É o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida
pelos amigos.” Então, o que Jesus quer dizer, quando diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia
e siga-me.” (Lc 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34); “Quem não carrega a sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu
discípulo.” (Lc 14,27); “Aquele que
não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.” (Mt 10,38)?
Precisamos
fazer igual a ele que tomou a sua cruz de madeira e a levou até o Calvário,
literalmente? Não sejamos fundamentalistas. A cruz que assumimos no nosso dia a
dia é o nosso estado de vida. Se somos casados, a nossa cruz é o matrimônio
assumido com responsabilidade para o bem estar e a felicidade de nossa esposa,
esposo, filhos, colocando em tudo o amor que vem de Deus sem esperar nada em
troca. A nossa cruz é a nossa vocação, a nossa profissão, colocando tudo a
serviço do irmão com amor e dedicação, não esperando retribuições.
Quantas
cruzes abandonadas no meio do caminho de pessoas que julgaram que o matrimônio
fosse coisa de criança irresponsável e não o levaram a sério, e olharam para
trás e o abandonaram... quantas cruzes de vocações frustradas são empilhadas
nos caminhos da vida por pessoas que não entenderam que o chamamento de Jesus
exige dedicação, responsabilidade e perseverança. Jesus insiste nisso e continua:
“Quem põe a mão no arado e olha para trás
não está apto para o reino de Deus.” (Lc 9,62).
E mais: “Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim,
não é digno de mim. Quem ama seu filho ou filha mais do que a mim, não é digno
de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem
procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por
causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt 10,37-39).
Jesus não está pedindo o
impossível, ainda que pareça que ele seja desumano ao fazer essas declarações.
Jesus estava apenas relembrando e chamando a atenção sobre o primeiro e o mais
importante de todos os mandamentos: “Ame
ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu
entendimento e com toda a sua força.” (Dt 6,4; Mc 12,30).
Quem coloca em
prática esse mandamento, ama os seus entes queridos com mais disponibilidade,
mais responsabilidade e dedicação, porque foi Deus que nos deu nossos entes
queridos. Os nossos entes queridos são os presentes que recebemos das mãos de
Deus e, portanto, não se pode amar mais o presente do que aquele que no-los
presenteou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário