terça-feira, 12 de julho de 2016

O QUE QUER DIZER: “TOMA A SUA CRUZ E SIGA-ME”?

O QUE QUER DIZER: TOMA A SUA CRUZ E SIGA-ME”?


Existem várias explicações, várias definições, vários ensinamentos a respeito da passagem quando Jesus diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34); “Quem não carrega a sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,27); “Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.” (Mt 10,38). 
Seria um incentivo ao sofrimento, à passividade, ao conformismo? Jesus buscou a cruz ou a cruz foi consequência da obediência de Jesus ao plano de salvação do Pai? Paulo diz que Jesus foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,8). 
Para Jesus a obediência a Deus estava acima de todas as coisas, inclusive acima de sua própria vontade, "E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres." (Mc 14,36). Seria a obediência o caminho da cruz? 
A obediência leva ao amor, mas o amor não correspondido leva à cruz. Assim, não é tanto a morte de Cristo por si mesma o que nos salvou, mas sua obediência até a morte. E o que levou Jesus à cruz foi o amor intenso que ele teve pelos homens, amor que não houve correspondência por parte dos homens. A obediência é a filha primogênita do amor. “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
     O novo mandamento de Jesus é o amor que vem do Pai e que transborda do seu coração: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros.Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (Jo 13,34); “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” (Jo 14,12-13). Foi o mandamento do amor que levou Jesus à cruz porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” 
Dar a vida por amor implica em morrer numa cruz? O que seria a cruz para cada um de nós? Levamos isso muito ao pé da letra, como fazem os fundamentalistas que entendem e ensinam que o que a palavra diz deve ser vivido e realizado tal e qual. 
A cruz, para o cristão, é o convite à obediência que o Pai faz a cada um de seus filhos amados para a felicidade e o amor pleno. É comum ouvirmos, sempre como desabafo e passividade, alguém dizer: “Tenho que me conformar; essa é a minha cruz”, como se esse fosse o desejo do Pai, o sofrimento por si só. 
A cruz que Jesus nos convida a abraçar é o convite à felicidade, ao amor e à obediência às coisas do Pai. Quem se casa para ser infeliz? Quem assume uma profissão que se manifesta na realização de sua vida para ser infeliz? Quem atende ao chamamento do Pai para ser um ministro ordenado, um religioso consagrado, um cristão engajado para ser infeliz? Claro que ninguém. 
O chamamento que o Pai faz a cada um de nós, para o matrimônio, para uma profissão liberal, para uma vida cristã e religiosa é um convite ao amor, à obediência, à felicidade e que acaba se transformando na cruz de cada um porque, dentro do estado de vida que cada um assume com responsabilidade, está implícito que “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” 
E faz isso tudo por amor sem exigir nada em troca a não ser amor, que nem sempre é correspondido, não foi isso que aconteceu com Jesus? Isso não é tomar a cruz e não olhar para trás? Pode existir prova de amor maior do que o amor da mãe que  dá a sua vida inteirinha para o bem estar e a felicidade de seu filho? 
Quando a mulher realiza a sua vocação para a maternidade, ela não pensa mais nela; sacrifica seus momentos de lazer, não se importando que seu corpo tenha sido transformado pela gravidês e pelo tempo de amamentação, passa horas e horas, noites e noites, ao lado do berço do filho adoentado sem demonstrar cansaço, irritação, e não descansa enquanto não ver que lhe foi restituída a saúde. Isso não é amor? 
É o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” E o pai que assume com amor e responsabilidade o sustento do lar, a educação dos filhos, suportando por isso as agruras que a vida do dia a dia lhe impõe tanto financeira, como trabalhista, isso não é amor? 
É o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” E faz isso tudo por amor sem exigir nada em troca a não ser amor, que nem sempre é correspondido, não foi isso que aconteceu com Jesus? Isso não é tomar a cruz e não olhar para trás?
E todos aqueles que assumem a sua vocação, a sua profissão com fé, amor, dedicação, com respeito ao irmão, sem buscar interesses próprios e respeitando a dignidade do outro, sem buscar vantagens e interesses próprios, fazendo tudo por amor, é o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” 
E faz isso tudo por amor sem exigir nada em troca a não ser amor, que nem sempre é correspondido, não foi isso que aconteceu com Jesus? Isso não é tomar a cruz e não olhar para trás? Um dos mais lindos exemplos de dedicação e amor ao próximo, apenas por amor e  sem exigir retorno, temos em Maria, a Mãe de Jesus que sabendo que a sua prima Isabel estava em dificuldades por ser uma mulher de idade avançada e grávida, Maria se põe a caminho para socorrê-la nas suas necessidades e não a deixa enquanto não ver que tudo estava certo e que ela estava bem. E, para socorrer a sua prima Isabel, 
Maria não pensou em si própria que estava grávida também: pensou só no bem do outro. Isabel estava grávida e precisava de ajuda. Mas Maria, também estava grávida, e grávida do Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus. Mas Maria não pensou em si própria, deixou de lado os seus próprios problemas para socorrer outra pessoa que necessitava de sua presença, de sua ajuda, de seu socorro (cf Lc 1,39-80). 
E, depois deste fato que nos atesta a preocupação de Maria com todos os necessitados, através do Evangelho (Jo 2,1-11), vamos encontrar Maria, novamente, preocupada com o bem estar de outras pessoas, lá no casamento de Canaã, na Galiléia. Estava sendo realizado um casamento. Maria e seu Divino Filho eram convidados e participavam da festa. 
De repente, com seu espírito e atenção maternal, Maria pressentiu que os noivos estavam em dificuldades, e com uma solicitude insuperável, se apressou em socorrê-los, fazendo até que o seu Divino Filho  antecipasse o momento de seu primeiro milagre para realiza-lo ali, no casamento de Canaã, na Galiléia, transformando água em vinho. 
A sua prima Isabel estava em dificuldades, e Maria, sem esperar que ela lhe pedisse, foi até lá e a socorreu em suas necessidades. Maria pressentiu que os noivos de Caná estavam em dificuldades, e a Senhora não esperou que alguém viesse lhe pedir ajuda e socorro,  e se prontificou, de imediato, em socorrê-los. Não é isso prova de amor? Não é isso o início da caminhada da cruz de Maria, se submetendo inteiramente à vontade de Deus, confirmando aquilo que ela já havia dito: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundoi a tua Palavra.” (Lc 1,38)? Isso não é amor? É o amor que se transforma em cruz, porque “não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” Então, o que Jesus quer dizer, quando diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34); “Quem não carrega a sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,27); “Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.” (Mt 10,38)? 
Precisamos fazer igual a ele que tomou a sua cruz de madeira e a levou até o Calvário, literalmente? Não sejamos fundamentalistas. A cruz que assumimos no nosso dia a dia é o nosso estado de vida. Se somos casados, a nossa cruz é o matrimônio assumido com responsabilidade para o bem estar e a felicidade de nossa esposa, esposo, filhos, colocando em tudo o amor que vem de Deus sem esperar nada em troca. A nossa cruz é a nossa vocação, a nossa profissão, colocando tudo a serviço do irmão com amor e dedicação, não esperando retribuições. 
Quantas cruzes abandonadas no meio do caminho de pessoas que julgaram que o matrimônio fosse coisa de criança irresponsável e não o levaram a sério, e olharam para trás e o abandonaram... quantas cruzes de vocações frustradas são empilhadas nos caminhos da vida por pessoas que não entenderam que o chamamento de Jesus exige dedicação, responsabilidade e perseverança. Jesus insiste nisso e continua: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o reino de Deus.” (Lc 9,62). 
E mais: “Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt 10,37-39). 
Jesus não está pedindo o impossível, ainda que pareça que ele seja desumano ao fazer essas declarações. Jesus estava apenas relembrando e chamando a atenção sobre o primeiro e o mais importante de todos os mandamentos: “Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força.” (Dt 6,4; Mc 12,30). 
Quem coloca em prática esse mandamento, ama os seus entes queridos com mais disponibilidade, mais responsabilidade e dedicação, porque foi Deus que nos deu nossos entes queridos. Os nossos entes queridos são os presentes que recebemos das mãos de Deus e, portanto, não se pode amar mais o presente do que aquele que no-los presenteou. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário