SANTA
MARIA MADALENA – DISCÍPULA DE JESUS
O que os
Evangelhos falam sobre Maria Madalena:
Os Evangelhos
apresentam Maria Madalena como: - Discípula
de Jesus (Lc. 8,1-3) - A mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc. 16,9;
Lc. 8,2); - Uma das mulheres que ajudaram Jesus e seus discípulos
enquanto estes pregavam o evangelho (Lc 8,1-3) - Uma das muitas outras mulheres
que seguiram Jesus desde a Galiléia quando ele foi para Jerusalém no final do
seu ministério e foi testemunha da sua
crucifixão (Mc. 15,40-41; Mt. 27,55-56; Lc. 23,49; Jo 19,25) - Ela e
outras mulheres seguiram de longe os acontecimentos quando Jesus foi levado
para ser crucificado, (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Jo 13,25) - Quando Jesus foi
sepultado, foi uma das mulheres que observou o lugar onde o corpo foi posto (Mc
15,45-47; Mt 27,61) - Ela e outras mulheres foram ao túmulo no primeiro dia da
semana para embalsamar o corpo de Jesus (Mc 16,1-2; Mt 28,1) - Levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no
sepulcro (Mt. 28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1); - Foi uma das
primeiras a receber a notícia da ressurreição quando um anjo falou às mulheres
perto do túmulo aberto, portanto, testemunha
da sua ressurreição (Mc. 16,1 - 8; Mt 28,1 - 10; Lc. 24,1 - 10; Jo. 20,1; 20,11
- 8) - Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus depois da
ressurreição (Mt 28:8-10; Mc 16,9; Jo 20:13-18) - Anunciou a boa notícia da
ressurreição aos discípulos (Lc 24,9-10) - Foi enviada aos Onze com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17 -
18). Maria Madalena é citada dezoito
vezes nos Evangelhos, além de ser
a mulher mais citada pelo próprio nome.
Além disso, ela aparece sempre realizando funções muito importantes para
as origens do Cristianismo. Chama a atenção o fato de Maria Madalena ser
citada, entre as mulheres em primeiro lugar em todos estes textos. A única exceção é Jo 19,25, onde a mãe de
Jesus aparece em primeiro lugar. A citação de Maria Madalena em primeiro lugar
parece indicar sua liderança no grupo das discípulas de Jesus.
O que os
Evangelhos não falam sobre Maria Madalena:
Não diz que
Maria Madalena era a pecadora citada em Lucas 7,36-50. - Não diz que era a
mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro. - Não sugere nenhum tipo de relacionamento
especial ou íntimo entre Jesus e Maria. Sempre fala de Maria junto com outras
mulheres. - Depois da ascensão de Jesus, a Bíblia nunca mais menciona o nome de
Maria Madalena.
Quem é
Maria Madalena:
Maria Madalena pode-se dizer, era de
origem judaica, mas não foi definida como outras mulheres dos Evangelhos
Canônicos, ou seja, pela família, mas por sua cidade de origem. O fato que
intriga, e que talvez tenha gerado ao longo desses dois milênios de
cristianismo tantas hipóteses e construções fantasiosas sobre Maria Madalena, é
que ela não aparece como filha, esposa ou irmã de nenhum homem. Essa
independência feminina em uma sociedade dominada por homens tem intrigado
muitos pesquisadores. Todas as Marias que aparecem nos Evangelhos são
reconhecidas por suas famílias: Maria mãe de Jesus; Maria de Cléofas; Maria
irmã de Marta e de Lázaro.
E Maria de Magdala?
Madalena não é sobrenome, provinha de el-Mejdel, que era uma cidade a noroeste do lago da
Galiléia, seis quilômetros ao norte de Tiberíades, lugar onde Madalena pode ter
nascido ou residia. É no Evangelho de Lucas que Maria Madalena aparece como a
mulher que seguia Jesus e de quem são expulsos sete espíritos malignos (Lc 8,2).
Há um aspecto interessante nessa passagem, pois não é um demônio, nem uma
legião de demônios que são expulsos, porém sete: “Sete é o número da salvação e
do que é divino”. São também sete os pecados capitais: gula, luxúria, ira,
orgulho, vaidade, preguiça e inveja. Se fizermos uma associação dos sete
demônios expulsos por Jesus de Maria Madalena e dos sete pecados capitais,
pode-se dizer que o que houve foi uma total libertação dessa mulher; aconteceu
sua salvação integral, uma Metanoia [1], não apenas uma conversão. Pecado e possessão demoníaca eram coisas
diferentes. Naquela época, a possessão demoníaca era entendida essencialmente
como uma enfermidade, não acentuava os aspectos morais, não era considerada
como um pecado. Em uma interpretação mais literal, pode-se dizer que aconteceu,
naquele momento da expulsão dos sete demônios, não um simples arrependimento
dos pecados, mas a imersão em uma vida autêntica e redimida; Maria Madalena
emergiu de uma vida de escravidão para uma libertação. Mas por que se associa
Maria Madalena sempre a uma pecadora arrependida e não a uma mulher que foi
reconciliada? Pois a Maria Madalena histórica, aquela que está nos quatro Evangelhos
Canônicos, é testemunha do sacrifício, morte e Ressurreição de Jesus; mulher
que seguiu como discípula e serviu a Jesus de Nazaré. Há exegetas que fazem
essa associação, Maria Madalena/pecadora arrependida, porque há um relato
anterior ao episódio da expulsão dos demônios (Lc 8,2), em que uma pecadora anônima unge os pés de Jesus na casa de Simão, o
fariseu, e é perdoada por Jesus (Lc 7,37-50). A proximidade desses fatos
favoreceu a associação das duas mulheres, ou seja, Maria Madalena e a pecadora
anônima, que não tem nada haver entre si. Como há, no Evangelho de João, a
unção de Betânia, e nele é Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que unge Jesus (Jo
12,1-8), as três mulheres se tornaram apenas uma: Maria Madalena. Em suma, é
essa Madalena que muitos historiadores denominam mulher híbrida, a saber:
Maria, irmã de Marta e de Lázaro (Jo 12,1-8); - a pecadora anônima que ungiu
Jesus na casa de Simão, o fariseu (Lc 7,37-50) e a mulher adútera apresentada a
Jesus pelos anciãos e por ele perdoada (Jo 8,1-11) e Maria Madalena, de quem
Jesus expulsou sete demônios (Lc 8,2). A confusão da identidade das três
mulheres remonta ao Século III, e foi no final do Século VI que o Papa Gregório
Magno (540-604) pôs fim à questão ao declarar que Maria Madalena, Maria de
Betânia (Jo 12,1-8) e a pecadora anônima eram a mesma pessoa. Apesar de muitos
séculos terem se passado e a visão de Madalena ter mudado para a Igreja, essa
declaração de Gregório Magno ainda suscita discussões.
De acordo com os relatos dos Evangelhos,
nada há contra a moral de Maria Madalena, pois estar possuído por sete demônios
não era considerado pecado. Ao se fazer uma leitura atenta dos fatos, não se
chega à conclusão de que Maria Madalena tenha sido uma mulher adúltera. O que
acontece é que, ao ser identificada com a pecadora anônima de Lucas e com Maria
de Betânia, incorpora a mulher de cabelos longos e soltos que serviram para
secar os pés de Jesus. Essa imagem evoca a feminilidade e também a sexualidade,
que induz a uma associação com o pecado. Hoje a Igreja reconhece em Maria Madalena a
mulher de quem Jesus expulsou sete demônios; a que seguiu e serviu Jesus nas
pregações; a que acompanhou a Paixão e a morte de Jesus e como a primeira
testemunha da Ressurreição. O que os evangelhos nos trazem sobre Maria Madalena
é que seguia Jesus. Estava presente na crucificação e foi testemunha, de acordo
com o evangelho de João, da ressurreição, sendo a primeira com a missão de
proclamar a boa noticia. Maria Madalena foi à portadora do anúncio que Cristo
havia ressuscitado. Normalmente, repito, as mulheres nos evangelhos são
lembradas como mãe, mulher e filha de alguém, um costume da sociedade
patriarcal. Porém, Maria Madalena aparece sem pertencer a nenhum homem. Pelos
evangelhos não é possível descrever sua vida familiar. Não podendo descrevê-la
como uma mulher jovem ou solteira, viúva ou repudiada, ou se ela preferiu ficar
solteira como algumas mulheres influenciadas pelo helenismo, optando pela
liberdade. Maria Madalena devia possuir alguma riqueza. Após
ser curada por Jesus, tornou-se sua discípula fiel e inseparável, e o
acompanhava em seu ministério, com outros discípulos/as. Pela forma como é
nomeada, parece que possuía uma situação familiar diferente em seu tempo.
Provavelmente fosse uma mulher solteira e independente. Ainda que sejam
escassas as informações sobre Maria Madalena, seu nome aparece mais vezes que
outras mulheres no Novo Testamento e geralmente em primeiro lugar.
Maria
Madalena é a pecadora?
Teriam
interpretado mal a expressão “Maria Madalena, da qual haviam saído sete
demônios”? (Lc 8,2) Esta expressão, que aparece somente em Lucas e no apêndice
de Marcos (Lc 8,2; Mc 16,9), criou uma série de preconceitos contra Maria
Madalena. Mas para o Evangelho de Lucas, a possessão não significa pecado e,
sim, doença. O número 7, sempre simbólico, parece indicar a gravidade da
situação. Dentro do contexto de Lucas, podemos interpretar que Maria Madalena
padecia de uma grave doença nervosa ou psicossomática. No encontro com Jesus,
ela recupera a harmonia interior e entra em um processo de crescimento e
amadurecimento pessoal até atingir a plenitude do seu ser na experiência
pascal. Aquela mulher anônima do episódio narrado por Lc 7,36-50 passou a ser identificada com as mulheres anônimas que
ungiram Jesus para a sepultura (Mc 14,3-9 e Mt 26,6-13). Uma leitura atenta
destes textos vai mostrar que os ritos que realizam são diferentes. No texto de
Lucas, o próprio narrador trata de esclarecer que se trata de um rito de
acolhida e coloca esta explicação no diálogo de Jesus com Simão. Nos Evangelhos
de Marcos e de Mateus, o rito está situado no contexto da Páscoa. Marcos faz
questão de informar que faltavam apenas dois dias para a Páscoa e os Ázimos (Mc
14,1). Mostra que o contexto era conflitivo, pois a execução de Jesus já estava
decidida: “os chefes dos sacerdotes e os fariseus apenas procuravam um ardil
para matá-lo” (Mc 14,1b). É justamente neste contexto que está a unção de
Jesus, feita por uma mulher anônima (Mc 14,3-9). O texto de Marcos está muito próximo
do texto de João 12,1-8. Tanto Marcos como João contam que o perfume derramado
pela mulher no corpo de Jesus era nardo puro (Mc 14,3 e Jo 12,3). Marcos
informa ainda que este episódio da unção para a sepultura passou-se em Betânia
(Mc 14,3). Tudo isso parece ligar os textos de Marcos, Mateus e João (Mc
14,3-9; Mt 26,6-13 e Jo 12,1-8) e ajuda a compreender a importância desde
ritual. Sua protagonista parece ser Maria de Betânia, a irmã de Marta e de
Lázaro. O gesto de unção de Jesus para a sepultura é ao mesmo tempo profético e
solidário com seu projeto e sua entrega sem limites.
Maria
Madalena no sepulcro de Jesus.
Depois que
Pedro e João conferiram o sepulcro e constataram a ausência do corpo de Jesus
(Jo 20,4-10; Lc 24,12), Maria Madalena permaneceu no jardim, procurando Jesus,
depois que Pedro e o outro discípulo foram embora. Ela chorava angustiada e
confundiu Jesus com o jardineiro. No entanto, Maria Madalena o reconhece imediatamente quando Jesus a chama
pelo nome. Em toda a Bíblia, chamar pelo nome faz parte dos relatos de missão.
Às vezes, acontece mudar o nome, para indicar a missão que a pessoa vai
realizar. Mas, em Jo 20,16, Jesus a chama pelo nome com que sempre a havia
chamado - talvez do mesmo jeito e com o mesmo tom de voz. E provavelmente Maria responde também da
maneira como sempre o tratou: Rabuni. Sem pretender ser fundamentalista,
quero mostrar como neste relato simbólico se revela a importância da missão de
Maria Madalena nas primeiras comunidades cristãs: Maria é chamada pelo nome; - Reconhece
imediatamente a voz de Jesus; - Chama-o de Mestre em aramaico; - Depois, é
enviada por Jesus com uma mensagem para os outros discípulos. Da maneira como
este episódio é descrito, parece um evento de fundação, no qual Maria Madalena
foi investida de autoridade.
Sobre Maria
Madalena.
Maria Madalena foi a mulher de quem Jesus
expulsou sete demônios (Mc. 16,9; Lc. 8,2); - que acompanhava e servia Jesus na
Galiléia (Lc. 8,2); - que acompanhou Jesus até a Judéia pouco antes da Paixão
(Mt. 27,55; Mc. 15,41); - que ficou diante da Cruz (Mt. 27,55; Mc. 15,41; Jo.
13,25); - que levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no sepulcro (Mt.
28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1); - que viu pessoalmente o Senhor
ressuscitado (Mc 16,9); e que foi enviada aos apóstolos pelo Senhor (Jo.
20,17).
Sobre Maria, irmã de Marta e Lázaro.
Maria, irmã de Marta e Lázaro, também
chamada de Maria de Betânia, era a mulher que ouvia as palavras do Senhor
enquanto sua irmã, Marta, trabalhava arduamente (Lc. 10,38-42); - que esteve
presente durante a ressurreição de seu irmão Lázaro (Jo. 11,1-2); e que ungiu
os pés do Senhor alguns dias antes da Páscoa (Jo. 12,3-8).
Sobre a mulher pecadora anônima em Lucas
7,36-50.
Além, destas duas Marias, lemos em Lc
7,36-50 que "uma mulher de má fama" ungiu o Senhor. Repare-se que o
evangelista não citou seu nome. Quem seria, portanto? Seria Maria de Betânia,
tendo em vista a informação de Jo. 12,3-8? Não! Porque a unção de Jo 12,3-8 se
deu na casa de Lázaro/Marta/Maria, em Betânia, empregando-se nardo; enquanto
que a de Lc 7,36-50 se deu na casa de Simão, o fariseu, sendo que a pecadora
empregou as próprias lágrimas que lhe caíram do rosto e alabastro. Logo, se
tratando de dois episódios distintos e independentes, distintas e independentes
são as personagens. Seria, então, Maria Madalena, já que esta foi citada logo
depois (Lc. 8,2) do episódio, nominalmente, como uma das mulheres que
acompanhavam Jesus e era endemoniada (pecadora)? Ora, o fato de ter sido
endemoniada, não significa que era pecadora (até porque todos são pecadores,
mas nem todos são endemoniados!), muito menos a específica pecadora de Lc 7,
que o evangelista fez questão de manter o anonimato e não afirmou que era
também endemoniada! Logo, muito provavelmente não se tratava de Maria
Madalena. E quem era? Não sabemos, pois
nem os Evangelhos, nem a tradição lhe conservaram o nome! Basta, pois, chamá-la
de "a pecadora anônima".
Sobre a mulher adúltera em João 8,3-12.
E quanto à mulher adúltera de João 8,3-12?
Também não lhe sabemos o nome; apenas que "era pecadora". Ora, o fato
de a mulher adúltera ser pecadora, não tem o condão de transformá-la,
arbitrariamente, na Maria Madalena. Trata-se, assim, de uma quarta pessoa. Como
quer que seja, e voltando o foco para Maria Madalena, a grande lição que a
Bíblia e a tradição oferecem sobre ela (mesmo quando um ou outro teólogo adota
o entendimento minoritário) é que ela foi uma grande convertida ao Evangelho, a
ponto de poder ser considerada pelos católicos como grande exemplo de serviço e
"padroeira dos convertidos".
Maria
Madalena ignorada fora dos Evangelhos.
A pesquisa sobre Maria Madalena nos
Evangelhos canônicos leva à frustração, pelo escasso número de dados que
revelam a identidade dessa mulher. Ela também não é citada nos Atos dos Apóstolos,
nas Epístolas, nem no Apocalipse de João, mesmo tendo sido citada, enquanto
personagem híbrido, dezoito vezes nos Evangelhos. Maria Madalena vai desaparecer nos Atos
dos Apóstolos e nas Epístolas. Nem Paulo, naturalmente, nem Pedro nada falam sobre
ela. Mesmo João não acreditou na importância de falar sobre ela nas suas
cartas, nem no Apocalipse. Para todos
aqueles que seguem, ela inexiste. Da Maria Madalena que se conhece através dos Evangelhos canônicos,
porém, não há registros de suas falas ou de algum diálogo, salvo em João,
quando fala a Simão e a outro discípulo que “retiraram o Senhor do sepulcro e
não sabemos aonde o colocaram” e quando anuncia “Vi o Senhor” após o breve
diálogo com Jesus ressuscitado no jardim do sepulcro vazio (Jo 20, 2.18), mas é
desacreditada pelos apóstolos (Mc 16,11).
[1] 1 Metanoeó, um
verbo bastante neutro em grego profano: “mudar posteriormente, mudar de idéia,
ter remorso”. Na Bíblia, exprime a conversão religiosa e moral. Seu campo
léxico no N.T. associa-o à fé ( Mc 1,15), ao batismo (At 2,38) e ao perdão dos
pecados (Lc 7,13). A conversão (metanoia) está ainda ligada ao retorno (At 3,19, com epistrephó) (cf. Wénin, 2004, p. 457). 2 As referências bíblicas deste texto são da Bíblia de Jerusalém.
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