É NATAL...
Diácono Milton Restivo
“Estando José e Maria ali (em Belém), completaram-se os dias do seu parto, e Maria deu à luz seu filho primogênito, e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura por não haver lugar para eles na estalagem.” (Lc 2,6-7). E o Anjo Gabriel visitou Maria em sua pequena e pobre casa de Nazaré e lhe anunciou que ela fora escolhida pelo Senhor para ser a Mãe do Salvador.
Nove meses depois da visita do Anjo Jesus nasce na gruta de Belém. Para relembrar esse maravilhoso acontecimento, em todos os fins de ano, o povo faz festas bonitas, presépios de todos os tamanhos e formas. E isso é bom. Isso é ótimo. Quando fazemos isso é porque queremos festejar a data natalícia de Jesus, o Filho de Maria. Mas, quando essa data acontecer, convém que saibamos que o presépio real, onde Jesus nasceu, não era nem um pouquinho bonito. O local onde Maria deu à luz a Jesus era paupérrimo e chocante, sem conforto e sem condições de recepcionar qualquer ser humano que estivesse nascendo, muito menos o Filho de Deus que se fazia homem. Mas, porque Maria teve de se submeter a tanta humilhação, tanto sofrimento, e Jesus teve de nascer ali, entre animais, e ser colocado num cocho que lhe serviu de primeiro berço num curral que servia de abrigo a animais e que cheirava a urina e esterco? Você, minha irmã, que é mãe e que preparou da melhor maneira possível o enxoval de seu pequenino filho ou filha, e que deu à luz num quarto de hospital com toda higiene, atendida por médicos e enfermeiras, como você se sentiria se tivesse de dar á luz ao seu filho ou filha nas condições que Maria deu à luz a Jesus? E, principalmente, pela ingratidão do ser humano? Você já parou para pensar nisso? E você, meu irmão, que é pai, se você estivesse no lugar de José, ver a sua esposa dar à luz num curral de animais, sem assistência, sem higiene e sem segurança? Mas, porque Jesus Cristo teve de nascer ali, nessas condições?
A ordem do imperador, vinda lá de Roma, era clara. Para saber quantos súditos o imperador tinha, ele obrigou a todos os povos que estavam sob seu domínio a se inscreverem na cidade onde cada um havia nascido; e a família de José era de Belém, e, por isso não teve outro jeito: José teve de sair da cidade de Nazaré, no norte, aproximadamente cento e trinta quilômetros de distância, e levando sua esposa, Maria grávida de mais de oito meses, e se dirigir até a cidade de Belém, no sul, para ser recadastrado (cf. Lc 2,1-3). Será que imaginamos como foi incômoda, para Maria, essa viagem através do deserto escaldante, correndo riscos de ladrões, animais peçonhentos, frio e calor? Era o jeito de o imperador de Roma saber quantas pessoas existiam na Judéia naquele tempo. Por isso José viajou para Belém, sua terra natal, levando consigo Maria, sua esposa, grávida de mais de oito meses (cf Lc 2,4). Viagem longa de mais de centro e trinta quilômetros, e as estradas por onde deveriam passar eram perigosas, se é que existiam estradas, cheias de ladrões e animais selvagens. E nos contam as Sagradas Escrituras que, quando José e Maria chegaram à cidade de Belém, não encontraram lugar para se hospedarem nos hotéis, ou pensões ou mesmo em casas de família (cf Lc 2,7). Ou tudo já estava lotado, ou os donos dos hotéis e hospedarias não quiseram oferecer pousada para gente pobre que não podiam pagar a hospedaria, como era o caso de José e Maria. Diz-nos o evangelista que, ao chegarem à cidade, completaram-se o tempo de Maria dar à luz (cf Lc 2,6-7). E Maria não estava bem; já estava em trabalho de parto. José precisava encontrar, com urgência, um lugar para que Maria pudesse descansar dos incômodos da viagem, principalmente por já ter chegado ao final de sua gravidez. Na rua eles não poderiam ficar. Como não acharam acomodações em um lugar decente, José buscou um abrigo de animais que ele vira na entrada da cidade, um pouco afastado do centro de Belém; um lugar onde os animais passavam a noite. E para lá se dirigiram. E foi ali, daquele lugar com falta total de acomodações, de conforto e de higiene que Maria deu à luz; e foi ali que Jesus nasceu: no estábulo somente José e Maria, e agora também... Jesus. Quando, hoje, uma moça tem o seu primeiro filho, sua mãe está ali do seu lado para ajudá-la, para apoiá-la, para lhe dar o conforto tão necessário nesses primeiros momentos de uma mãe que tem o seu primeiro filho. Em Belém, com Maria, quando nasceu o seu primeiro filho, o primeiro e único, com Maria, além de José, não havia mais ninguém. A família de Maria estava longe, lá em Nazaré, a centro e trinta quilômetros de distância. A família de José também. O Menino nasceu, foi enrolado em alguns panos, e colocado em um cocho, onde os animais comiam, e, como colchão e travesseiro, foi-lhe improvisado feixes de capim (cf Lc 2,7). Seu primeiro banho, quem sabe, teria sido a água do cocho onde os animais bebiam ou de uma poça de água da chuva... Somente os pastores, avisados pelos anjos, vieram de longe para lhe fazer a primeira visita (cf Lc 2,8-12). Não apareceu nenhuma pessoa de importância do lugar: somente gente pobre mesmo. Só os pobres pastores visitam o Menino Jesus pela primeira vez. Só os pobres; tudo pobre. Os poderosos, os governantes, os doutores da lei, os ricos, ninguém tomou conhecimento do nascimento de Jesus. Será que caberia na cabeça dessa gente que se julgava tão importante, que Jesus, o Filho de Deus, o Messias prometido, o Rei dos Reis, teria nascido numa gruta de Belém e estava deitado num cocho onde os animais comiam? Se alguém lhes contasse isso, eles, os ricos e poderosos, poderiam julgar que não passava de uma piada, e uma piada de muito mau gosto, e teriam rido muito dessa piada. Será que os ricos e poderosos poderiam acreditar que o Senhor Nosso Deus teria realizado a sua promessa de mandar o Salvador, por meio daquela pobre moça de Nazaré, sem ter falado com eles, sem ter pedido a opinião deles, sem ter consultado os doutores da lei e que, aquele menino deitado no cocho de um curral fosse realmente o Messias esperado há tanto tempo e que viera para salvar o povo judeu da opressão dos estrangeiros, conforme acreditavam eles? Os entendidos, os poderosos, os ricos, os doutores da lei, na sua prepotência, arrogância e jactância jamais poderiam aceitar isso. Mas, que absurdo isso acontecer. Somente os ignorantes, os pobres, os humildes, os simples, os pequenos, os renegados pela sociedade conseguem levar a sério uma notícia como essa e acreditar nela. E tudo o que estava acontecendo já havia sido profetizado, tudo estava contido nas Sagradas Escrituras. Os doutores da lei sabiam de tudo o que os profetas haviam adiantado sobre a vinda do Messias, o nascimento do Salvador do gênero humano, mas, onde já se viu: o Filho de Deus nascer de uma família pobre, no meio dos pobres, escolher os pobres para visitá-lo no dia de seu nascimento, chamar os ignorantes para anunciar que a salvação já havia chegado. Como poderia o Filho de Deus nascer dessa maneira, sendo que ele, segundo o entendimento dos sábios, ricos e poderosos, deveria ter nascido, ou no palácio do rei Herodes, ou no palácio do governador de Jerusalém, ou em qualquer outro palácio que quisesse nascer, rodeado de todas as honrarias, mordomias e conforto; então porque o Rei dos reis escolheu nascer assim? Isso jamais coube na cabeça dos ricos, dos grandes, dos poderosos, e isso até hoje. Talvez hoje eles aceitam, porque é um fato consumado, mas continuam não entendendo o porque o Senhor nosso Deus preferiu os pobres para com eles conviver e chamá-los para o seu Reino; porque Deus fez isso, se o poder terreno está totalmente nas mãos dos ricos e poderosos? Mas, voltemos ao presépio, aos presépios que fazemos hoje para relembrar o nascimento de Jesus. Na época em que festejamos o nascimento de Jesus Cristo, as igrejas costumam montar os seus presépios e muitas casas particulares também montam os seus presépios, e, muitas famílias, de longa data, têm esse costume, ou por devoção, ou por promessa. Procuram retratar o nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo com imagens de gesso e com brotos de arroz servindo de capim e serragem de madeira como se fosse o chão e as estradas. Os presépios buscam nos levar de volta ao acontecimento real, que é o nascimento de Jesus Cristo. Mas, um presépio, por mais artístico que seja, por mais bem feito que seja, jamais nos retratará com fidelidade tudo aquilo que realmente aconteceu naquela noite fria de ausência total de amor e calor humano na gruta de Belém. Os presépios dão-nos apenas uma fria e vaga idéia. Mas, é melhor termos o presépio para nos lembrar daquela noite do que nada ternos que nos recorde a maior ingratidão do gênero humano: é melhor termos o presépio do que nada termos e deixarmos que a nossa imaginação se perca e esqueçamos da noite em que a humanidade ingrata recebe das mãos de Maria aquele que viera para tirar o pecado do mundo. Mas, convenhamos, o presépio é muito frio, é tudo gesso, pedra, pau, serragem, broto de arroz e fantasia, e não nos dá aquele calor necessário para compartilharmos dos sofrimentos do Santo Casal, José e Maria, para chegarem até ali e depois, da alegria de ver nascido aquele que seria o Caminho que nos levaria à verdade, da Verdade que nos daria a vida, e da Vida que jamais se extinguiria. A melhor maneira de entendermos bem um presépio, de partilharmos das alegrias e tristezas de Maria e José, de ouvirmos realmente o choro do Menino Jesus que estava envolto em paninhos (cf Lc 2,7) e, principalmente, para vivermos realmente o nascimento de Jesus Cristo e dele nos lembrarmos com constrangimento de tê-lo deixado nascer como nasceu, porque nós também, com as nossas atitudes, temos culpa disso. A melhor maneira de entendermos bem o presépio é visitarmos uma favela, uma família necessitada, uma família que mora num barraco, muitas vezes não muito longe de nossa casa, e vermos que ainda hoje o drama de Belém continua acontecendo. E essas favelas, essas famílias necessitadas estão mais perto de nossas casas, mais perto de nós do que podemos pensar. E, quando acontece a noite de natal, todos nos reunimos para festejar o nascimento do Menino Jesus. E, nessa oportunidade sempre colocamos a nossa melhor roupa, nos dirigimos até a igreja de carro ou de ônibus, ou mesmo a pé, e sempre participamos da liturgia do nascimento de Jesus Cristo numa igreja toda iluminada, toda enfeitada de flores, toda decorada, com a apresentação de um coral de vozes maravilhosas e muitas vezes vestido à rigor, e, no presépio, na frente do altar, um Menino Jesus de gesso, com os olhos azuis, com a pele clara como leite, com os cabelinhos encaracolados e loirinhos, apenas vestido com uma fraldinha, com os braços abertos e a nos sorrir, numa atitude acolhedora, como se a realidade fosse essa. E, depois de havermos participado dessa liturgia de natal, muitos de nós vamos para casa, participamos de uma ceia, de uma reunião familiar, reunião de amigos, e, comendo e bebendo, comemoramos o Cristo que nasceraem Belém. Tudo isso parece bom. Mas, nessa oportunidade, em que foi feito tudo isso, nessa mesma noite, quantos Meninos Jesus que nasceram e estão nascendo nas favelas, nos barracos, debaixo das pontes, rejeitados pela sociedade como foi o próprio Senhor Jesus que comemoramos o seu nascimento com tanta fé, ou com tanta... gula... Quantos Meninos Jesus nasceram e estão nascendo no exato momento em que comemoramos, na igreja, o nascimento de Jesus, não como ele realmente nascera, porque, hoje, nós o fazemos nascer em igrejas iluminadas e enfeitadas; mas sabemos que não foi bem assim; quantos Meninos Jesus, brancos e pretos nasceram e nascem no exato momento em que, distorcidamente, comemorávamos o nascimento do Senhor; Meninos Jesus brancos e negros que nasceram e nascem nas favelas, nos barracos, debaixo das pontes, sem assistência médica, sem higiene, sem calor humano, assim como nasceu o Menino Jesus no curral de Belém. Eu fico meditando sobre os Meninos Jesus dos nossos dias, que não tem a pele clarinha, nem os olhos azuis, e nem os cabelos tão loiros como o Menino Jesus dos nossos presépios, mas que tem a pele morena ou preta, os olhos negros e os cabelos pretos encaracolados; esses Meninos Jesus que continuam nascendo nas favelas, nos barracos, debaixo das pontes, sem qualquer assistência fraterna, médica, humana ou governamental, da mesma forma que nasceu Jesus, o filho de Maria. Podem crê: no dia do nascimento de Jesus Cristo os palácios de Belém e Jerusalém e as casas dos ricos e poderosos daquelas cidades estavam todos iluminados e promovendo festas, e Jesus, o filho de Maria nascia rejeitado por tudo e por todos num abrigo de animais, sendo colocado num cocho de animais, porque não havia para ele sequer um berço decente. Os nossos natais de hoje não são diferentes da noite do nascimento de Jesus Cristo; na nossa ânsia de comemorar festivamente e erroneamente o nascimento de Jesus, ignoramos os pequeninos Jesus que nascem hoje da mesma forma que nasceu Jesus há dois mil anos atrás. A humanidade, de lá para cá, não modificou quase nada. As nossas casas, no natal, estão iluminadas, com luzes que acendem e apagam nos alpendres e nas árvores; veneramos um Menino Jesus de gesso no presépio e ignoramos e rejeitamos os Meninos Jesus que nascem, hoje, nas favelas, nos barracos e debaixo das pontes. Participamos das liturgias do natal em igrejas extremamente lotadas, iluminadas, enfeitadas e decoradas, enquanto que, na escuridão da noite, às vezes até nas escadarias das igrejas, continuam nascendo, das pobres e sofridas Marias, sob a proteção dos cansados e desiludidos Josés, os Meninos Jesus brancos e pretos, que também, como Jesus de Nazaré, são colocados, por falta de berço, no chão, porque o egoísmo do mundo, a opressão dos homens e a falsa fé e destorcida crença de muitos não lhes deram a oportunidade de ter sequer um berço onde pudesse repousar sua cabeça no primeiro dia em que participa da vida neste vale de lagrimas. Precisamos participar de tudo o que a nossa igreja nos oferece, nos sugere e nos incentiva, mas não podemos ficar só nisso; Jesus continua nascendo nos arredores da nossa cidade, na vizinhança de nossas casas, nas escadarias da nossa igreja, como nasceu nos arredores de Belém. Se quisermos entender o que seja o natal verdadeiro, é o próprio Senhor Jesus quem nos diz: “O que você fizer a um desses pequeninos é a mim que você está fazendo” (Mt 25,40); o verdadeiro natal, o natal verdadeiramente cristão e aquele em que vamos ao encontro de Jesus na pessoa do pobre e do necessitado. É Natal. Será que não seria interessante, começarmos, desde agora agir diferentemente no nosso natal, não deixando, a partir de hoje, que o Menino Jesus, na pessoa do pobre e desamparado, continue nascendo sem assistência médica, sem higiene e sem calor humano? Ou vamos continuar nos enfeitando, bebendo e comendo no natal, e que os Meninos Jesus dos nossos dias continuem nascendo da forma que o verdadeiro Menino Jesus nasceu... ... ...
A ordem do imperador, vinda lá de Roma, era clara. Para saber quantos súditos o imperador tinha, ele obrigou a todos os povos que estavam sob seu domínio a se inscreverem na cidade onde cada um havia nascido; e a família de José era de Belém, e, por isso não teve outro jeito: José teve de sair da cidade de Nazaré, no norte, aproximadamente cento e trinta quilômetros de distância, e levando sua esposa, Maria grávida de mais de oito meses, e se dirigir até a cidade de Belém, no sul, para ser recadastrado (cf. Lc 2,1-3). Será que imaginamos como foi incômoda, para Maria, essa viagem através do deserto escaldante, correndo riscos de ladrões, animais peçonhentos, frio e calor? Era o jeito de o imperador de Roma saber quantas pessoas existiam na Judéia naquele tempo. Por isso José viajou para Belém, sua terra natal, levando consigo Maria, sua esposa, grávida de mais de oito meses (cf Lc 2,4). Viagem longa de mais de centro e trinta quilômetros, e as estradas por onde deveriam passar eram perigosas, se é que existiam estradas, cheias de ladrões e animais selvagens. E nos contam as Sagradas Escrituras que, quando José e Maria chegaram à cidade de Belém, não encontraram lugar para se hospedarem nos hotéis, ou pensões ou mesmo em casas de família (cf Lc 2,7). Ou tudo já estava lotado, ou os donos dos hotéis e hospedarias não quiseram oferecer pousada para gente pobre que não podiam pagar a hospedaria, como era o caso de José e Maria. Diz-nos o evangelista que, ao chegarem à cidade, completaram-se o tempo de Maria dar à luz (cf Lc 2,6-7). E Maria não estava bem; já estava em trabalho de parto. José precisava encontrar, com urgência, um lugar para que Maria pudesse descansar dos incômodos da viagem, principalmente por já ter chegado ao final de sua gravidez. Na rua eles não poderiam ficar. Como não acharam acomodações em um lugar decente, José buscou um abrigo de animais que ele vira na entrada da cidade, um pouco afastado do centro de Belém; um lugar onde os animais passavam a noite. E para lá se dirigiram. E foi ali, daquele lugar com falta total de acomodações, de conforto e de higiene que Maria deu à luz; e foi ali que Jesus nasceu: no estábulo somente José e Maria, e agora também... Jesus. Quando, hoje, uma moça tem o seu primeiro filho, sua mãe está ali do seu lado para ajudá-la, para apoiá-la, para lhe dar o conforto tão necessário nesses primeiros momentos de uma mãe que tem o seu primeiro filho. Em Belém, com Maria, quando nasceu o seu primeiro filho, o primeiro e único, com Maria, além de José, não havia mais ninguém. A família de Maria estava longe, lá em Nazaré, a centro e trinta quilômetros de distância. A família de José também. O Menino nasceu, foi enrolado em alguns panos, e colocado em um cocho, onde os animais comiam, e, como colchão e travesseiro, foi-lhe improvisado feixes de capim (cf Lc 2,7). Seu primeiro banho, quem sabe, teria sido a água do cocho onde os animais bebiam ou de uma poça de água da chuva... Somente os pastores, avisados pelos anjos, vieram de longe para lhe fazer a primeira visita (cf Lc 2,8-12). Não apareceu nenhuma pessoa de importância do lugar: somente gente pobre mesmo. Só os pobres pastores visitam o Menino Jesus pela primeira vez. Só os pobres; tudo pobre. Os poderosos, os governantes, os doutores da lei, os ricos, ninguém tomou conhecimento do nascimento de Jesus. Será que caberia na cabeça dessa gente que se julgava tão importante, que Jesus, o Filho de Deus, o Messias prometido, o Rei dos Reis, teria nascido numa gruta de Belém e estava deitado num cocho onde os animais comiam? Se alguém lhes contasse isso, eles, os ricos e poderosos, poderiam julgar que não passava de uma piada, e uma piada de muito mau gosto, e teriam rido muito dessa piada. Será que os ricos e poderosos poderiam acreditar que o Senhor Nosso Deus teria realizado a sua promessa de mandar o Salvador, por meio daquela pobre moça de Nazaré, sem ter falado com eles, sem ter pedido a opinião deles, sem ter consultado os doutores da lei e que, aquele menino deitado no cocho de um curral fosse realmente o Messias esperado há tanto tempo e que viera para salvar o povo judeu da opressão dos estrangeiros, conforme acreditavam eles? Os entendidos, os poderosos, os ricos, os doutores da lei, na sua prepotência, arrogância e jactância jamais poderiam aceitar isso. Mas, que absurdo isso acontecer. Somente os ignorantes, os pobres, os humildes, os simples, os pequenos, os renegados pela sociedade conseguem levar a sério uma notícia como essa e acreditar nela. E tudo o que estava acontecendo já havia sido profetizado, tudo estava contido nas Sagradas Escrituras. Os doutores da lei sabiam de tudo o que os profetas haviam adiantado sobre a vinda do Messias, o nascimento do Salvador do gênero humano, mas, onde já se viu: o Filho de Deus nascer de uma família pobre, no meio dos pobres, escolher os pobres para visitá-lo no dia de seu nascimento, chamar os ignorantes para anunciar que a salvação já havia chegado. Como poderia o Filho de Deus nascer dessa maneira, sendo que ele, segundo o entendimento dos sábios, ricos e poderosos, deveria ter nascido, ou no palácio do rei Herodes, ou no palácio do governador de Jerusalém, ou em qualquer outro palácio que quisesse nascer, rodeado de todas as honrarias, mordomias e conforto; então porque o Rei dos reis escolheu nascer assim? Isso jamais coube na cabeça dos ricos, dos grandes, dos poderosos, e isso até hoje. Talvez hoje eles aceitam, porque é um fato consumado, mas continuam não entendendo o porque o Senhor nosso Deus preferiu os pobres para com eles conviver e chamá-los para o seu Reino; porque Deus fez isso, se o poder terreno está totalmente nas mãos dos ricos e poderosos? Mas, voltemos ao presépio, aos presépios que fazemos hoje para relembrar o nascimento de Jesus. Na época em que festejamos o nascimento de Jesus Cristo, as igrejas costumam montar os seus presépios e muitas casas particulares também montam os seus presépios, e, muitas famílias, de longa data, têm esse costume, ou por devoção, ou por promessa. Procuram retratar o nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo com imagens de gesso e com brotos de arroz servindo de capim e serragem de madeira como se fosse o chão e as estradas. Os presépios buscam nos levar de volta ao acontecimento real, que é o nascimento de Jesus Cristo. Mas, um presépio, por mais artístico que seja, por mais bem feito que seja, jamais nos retratará com fidelidade tudo aquilo que realmente aconteceu naquela noite fria de ausência total de amor e calor humano na gruta de Belém. Os presépios dão-nos apenas uma fria e vaga idéia. Mas, é melhor termos o presépio para nos lembrar daquela noite do que nada ternos que nos recorde a maior ingratidão do gênero humano: é melhor termos o presépio do que nada termos e deixarmos que a nossa imaginação se perca e esqueçamos da noite em que a humanidade ingrata recebe das mãos de Maria aquele que viera para tirar o pecado do mundo. Mas, convenhamos, o presépio é muito frio, é tudo gesso, pedra, pau, serragem, broto de arroz e fantasia, e não nos dá aquele calor necessário para compartilharmos dos sofrimentos do Santo Casal, José e Maria, para chegarem até ali e depois, da alegria de ver nascido aquele que seria o Caminho que nos levaria à verdade, da Verdade que nos daria a vida, e da Vida que jamais se extinguiria. A melhor maneira de entendermos bem um presépio, de partilharmos das alegrias e tristezas de Maria e José, de ouvirmos realmente o choro do Menino Jesus que estava envolto em paninhos (cf Lc 2,7) e, principalmente, para vivermos realmente o nascimento de Jesus Cristo e dele nos lembrarmos com constrangimento de tê-lo deixado nascer como nasceu, porque nós também, com as nossas atitudes, temos culpa disso. A melhor maneira de entendermos bem o presépio é visitarmos uma favela, uma família necessitada, uma família que mora num barraco, muitas vezes não muito longe de nossa casa, e vermos que ainda hoje o drama de Belém continua acontecendo. E essas favelas, essas famílias necessitadas estão mais perto de nossas casas, mais perto de nós do que podemos pensar. E, quando acontece a noite de natal, todos nos reunimos para festejar o nascimento do Menino Jesus. E, nessa oportunidade sempre colocamos a nossa melhor roupa, nos dirigimos até a igreja de carro ou de ônibus, ou mesmo a pé, e sempre participamos da liturgia do nascimento de Jesus Cristo numa igreja toda iluminada, toda enfeitada de flores, toda decorada, com a apresentação de um coral de vozes maravilhosas e muitas vezes vestido à rigor, e, no presépio, na frente do altar, um Menino Jesus de gesso, com os olhos azuis, com a pele clara como leite, com os cabelinhos encaracolados e loirinhos, apenas vestido com uma fraldinha, com os braços abertos e a nos sorrir, numa atitude acolhedora, como se a realidade fosse essa. E, depois de havermos participado dessa liturgia de natal, muitos de nós vamos para casa, participamos de uma ceia, de uma reunião familiar, reunião de amigos, e, comendo e bebendo, comemoramos o Cristo que nascera
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