segunda-feira, 14 de novembro de 2011

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
ANO C – Cor: branco – Leituras: Nm 6,22-27; Sl 66; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21.

“MARIA, A MÃE DE JESUS.” (At 1,14)
Diácono Milton Restivo

Maria, a mãe de Jesus.
§        “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43).
§        “Simão abençoou-os e disse à Maria, a mãe: ‘Eis que este menino está posto para a ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de descobrirem os pensamentos escondidos no coração de muitos’.” (Lc 2,34-35).
§        “Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe...” (Mt 2,11).
§        “Não é este o carpinteiro, o Filho de Maria”? (Mc 6,3).
§        “Perto da cruz permaneciam de pé sua mãe...” (Jo 19,25).
§        “Todos estes, unânimes, preservaram na oração com algumas mulheres entre as quais Maria, a mãe de Jesus...” (At 1,14).

Segundo o testemunho dos quatro Evangelistas, Maria, antes de tudo e em todos os níveis, é a “Mãe de Jesus”. Quando Maria deu à luz Jesus (Lc 1,1-7), sua tarefa estava apenas começando, pois, como mãe, assim como todas as mães, teve que cuidar, educar e criar seu filho. Maria esteve sempre presente com Jesus em toda a sua vida terrena, desde o seu nascimento (Lc 1,1-7), até a sua morte de cruz no Calvário (Jo 19,25-27). Obviamente, foi Maria quem primeiro tocou, afagou, abraçou, beijou, banhou e envolveu Jesus em mantos e fraldas em seu nascimento (cf Lc 2,7). Foi nos braços de Maria que Jesus foi apresentado às suas primeiras visitas depois do seu nascimento, aos pastores, que haviam sido alertados por uma milícia celeste de anjos sobre o nascimento do Salvador (Lc 1,8-20). Foi nos braços de Maria que Jesus foi conduzido e apresentado no Templo para que fosse cumprida a lei de Moisés, e lá, nos braços de Maria, o velho Simeão e a profetisa Ana, inspirados pelo Espírito Santo, anteviram o destino do menino e as dores pelas quais sua mãe passaria: “Eis que este menino  está posto para a ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos”. (Lc 2,34-35). Foram os braços de Maria que serviram de altar e trono onde estava depositado o Menino Jesus para que os magos, que vieram do Oriente adorassem o “recém-nascido rei dos judeus” (Mt 2,2) e lhe ofertassem presentes: ouro, incenso e mirra, como símbolos de majestade, oração em permanente contato com o Pai, e sofrimento extremo (Mt 2,1-12). A primeira espada preconizada pelo velho Simeão não se fez de rogada para acontecer; Herodes, ao se ver enganado pelos magos (Mt 2,16-23), ordenou a morte dos meninos de dois anos para baixo de Belém e arredores, e foram os braços de Maria que envolveram, protegeram  e apertaram contra o seu seio maternal, durante longos dias de caminhada sob o calor abrasador e causticante do deserto e intermináveis noites gélidas e tenebrosas, levando-o para as longínquas terras do Egito, lugar seguro e longe do perigo da sanha assassina de Herodes, preservando a sua vida e cuidando para que nenhum mal lhe acontecesse, cumprindo-se, assim a profecia de Jeremias: “Em Ramá se ouve uma vós, uma lamentação, um choro amargo: Raquel chora seus filhos, ela não quer ser consolada por seus filhos, porque eles já não existem.” (Jr 31,15), e depois, quando de lá voltaram, Oséias profetizou: “...do Egito chamei meu filho.” (Os 11,1). Também, a segunda espada que trespassaria a alma de Maria não tardaria a chegar. Quando Jesus completou doze anos de idade saiu com sua mãe, Maria, e seu pai adotivo, José, da cidade de Nazaré, segundo o costume dos judeus, e foi até a cidade de Jerusalém, para a festa da Páscoa (cf Lc 2,41-52), uma distância de, aproximadamente, cem quilômetros.

Na volta, Maria, sempre preocupada com seu filho Jesus, nota que ele não está na comitiva que reunia somente as mulheres. Julgou que ele estivesse na comitiva que reunia os homens e, ao observar que o menino não se encontrava nem entre as mulheres e nem entre os homens, que caminhavam durante o dia, separados em grupos, e à noite se agrupavam para que a família pernoitasse reunida, Maria e José voltam desesperados para Jerusalém à procura do jovenzinho Jesus, e lá o encontraram, depois de três dias de angústia, sofrimento e intensa busca, no Templo, conversando sobre as coisas do Pai com os doutores da lei. Maria, com o coração apertado e com a voz trêmula, amorosamente repreende seu filho Jesus, dizendo: “Meu filho, por que você fez isso conosco? Olha que seu pai e eu estávamos angustiados à sua procura”, e Jesus com sabedoria e prontamente, procura acalmá-la e aproveita a oportunidade para antecipar a sua missão neste mundo, o porque de sua vinda até nós: “Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa de meu Pai? (Lc 2,48-49). Coisa interessante: a última referência que temos sobre a infância e adolescência de Jesus, e nesse período estando sempre presente a figura protetora e maternal de Maria, acontece nessa oportunidade, quando Jesus tinha doze anos de idade e, com os seus pais, fora até Jerusalém para comemorar a páscoa dos judeus. Dos doze anos de idade até a sua idade adulta, aproximadamente um período de vinte anos, nenhum dos quatro Evangelistas ousou fazer qualquer referência, qualquer comentário; nenhum deles narra qualquer fato histórico ou doutrinário sobre a vida de Jesus durante esse período. Por quê? O Evangelista Lucas apenas referencia a volta de Jesus de Jerusalém, após a festa da Páscoa, para Nazaré quando ele tinha doze anos de idade: “Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe considerava no coração todas essas coisas. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens.” (Lc 2,51-52), isto é, foi um filho obediente, amoroso, prestativo, compreensivo, ajudando a sua mãe nos afazeres domésticos e auxiliando seu pai na oficina de carpintaria aprendendo a profissão de seu pai adotivo. Naquela casa pobre e humilde de Nazaré Jesus, Deus que se fez homem, estava sob a guarda de duas de suas criaturas, as mais santas, as mais puras que já pisaram o nosso chão para merecerem tão divina missão. A casa de Nazaré era o ponto de contato entre o céu e a terra e, bem por isso, Evangelista algum tentou penetrar o segredo maravilhoso e o amor imenso vivido por essas três pessoas: Jesus, Maria e José, uma Sagrada Família, a Sagrada Família por excelência. Lucas, o Evangelista da infância de Jesus, não deixa passar despercebido um detalhe que somente quem tem um coração extremamente sensível poderia ter observado: “Sua mãe conservava todas essas coisas no seu coração.” (Lc 2,51). Como Maria deve ter acompanhado a par-e-passo todos os movimentos, todas as palavras, todos os impulsos, todas as reações, todos os sentimentos de seu filho Jesus, que ela sabia ser também o Filho de Deus; e ela, por toda a sua vida, “... conservava todas essas coisas no seu coração.” (Lc 2,51). Os Evangelistas se calam nesse período. Apenas Lucas deixa por conta do coração de Maria registrar e conservar tudo o que tenha acontecido, e volta a pergunta: por que? A vida oculta de Jesus, Maria e José em Nazaré deve ter sido maravilhosa, divina e para que não fosse profanada ou mal interpretada e erroneamente transmitida, nenhum dos Evangelistas ousou retratá-la, deixando para que a imaginação de cada um de nós navegasse sobre as coisas maravilhosas e divinas  que conversaram e viveram Jesus e sua mãe, Maria, nesse período; o período da preparação de Jesus para o início de sua vida pública “...para se ocupar das coisas do Pai.” (cf  Lc 2,51). Lucas complementa sobre a infância de Jesus afirmando: “Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens.” (Lc 2,52). Poderia ter havido alguma maneira mais digna e perfeita de um jovenzinho se tornar homem?  
Quando chegou o momento de colocar em prática sua missão, Jesus deixa sua mãe na casa de Nazaré e dá início ao seu ministério. A partir daí a figura de José já não é mais citada, a não ser se referenciando a Jesus: “Porventura não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Possivelmente José houvesse falecido no período dessa vida oculta de Jesus na cidade de Nazaré, e qual morte mais santa poderia ter acontecido entre os homens? José, moribundo, tendo de um lado de seu leito de morte Maria e do outro lado Jesus, o Filho de Deus, o próprio Deus, que, sem dúvida lhe tenha dito: “Vinde, bendito de meu Pai, possuí o reino que está preparado desde a criação do mundo...” (Mt 25,35).  E Jesus parte para a sua vida pública. Mais uma vez a “espada” preconizada pelo velho Simeão entra em cena; a dor no coração de Maria ao ver seu filho partir para a mais perigosa das missões; o cordeiro entre os lobos, “... o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” (Jo 1,29); o Cordeiro de Deus que iniciava sua caminhada entre os lobos do mundo e, em seu coração de mãe, Maria, mais uma vez repete sua entrega total nas mãos do Senhor seu Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37). A partir daí, discretamente, Maria continua acompanhando seu filho Jesus em sua caminhada, na sua missão.
No Evangelho de João, 2,1-11, numa festa de casamento, Maria se manifesta para pedir, para interceder a Jesus por alguém que estava em dificuldades, no caso, os noivos de Canaã quando, durante o casamento, faltou vinho para os convidados da festa e Jesus, à solicitação de sua mãe, atendeu prontamente ao pedido de sua mãe. Na oportunidade Maria dá uma ordem aos serventes do casamento que ressoa em nossos ouvidos ainda hoje e por toda a eternidade, ordem que deve ser levada à sério por todos aqueles que se predispuseram aceitar Jesus como seu Senhor e Salvador: disse Maria aos servente, e nos diz Maria hoje: “Fazei tudo o que ele vos disser.” (Jo 2,5). Em outra oportunidade, Maria, com certeza, estava no meio da multidão, era uma ouvinte assídua de seu filho Jesus em suas pregações quando “... uma mulher, levantando a sua voz no meio da multidão, disse-lhe: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram! Porém Jesus disse: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,27-28).  Sutilmente este foi o maior elogio que Maria já recebera sobre a terra em vida e esse elogio veio exatamente de quem mais a conhecia: da boca e do coração de seu Divino Filho Jesus. Por que? Porque Maria não é feliz simples e unicamente porque as suas entranhas trouxeram Jesus e os seus seios o amamentaram; em primeiro lugar Maria é feliz porque, e antes de tudo, “... ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática.” (Lc 11,28). Não foi isso que sua parenta Isabel, esposa de Zacarias e mãe de João Batista, lhe dissera por ocasião de sua visita antes do nascimento de João Batista?  E o que disse Isabel?  Simplesmente se antecipou ao que Jesus disse nessa oportunidade, e, na sua afirmativa, Isabel estava repleta do Espírito Santo e disse: “... feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido.” (Lc 1,45). E isso Isabel disse antes do nascimento de Jesus; e anos mais tarde o Senhor Jesus ratifica a afirmativa de Isabel que, na oportunidade, “... ficou repleta do Espírito Santo.” (Lc 1,41). Maria não é feliz porque, simplesmente, foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador, do Filho de Deus. Maria é feliz porque, antes de ser mãe do Filho de Deus, ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática, conforme o próprio Senhor Jesus já afirmara antes: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põe em prática.” (Lc 8,12; Mt 12,50). Maria não somente ouviu a palavra, mas engravidou da Palavra, e “A Palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14); Maria deu à Palavra a natureza humana. Por Maria a Palavra se fez homem para que os homens se tornassem filhos de Deus. A presença de Maria como mãe e seguidora das verdades trazidas pelo Filho de Deus foi uma constante em todo o caminhar de seu Divino Filho Jesus. A caminhada de Maria com Jesus não foi feita só de elogios, não houve somente alegria. O golpe mais violento e terrível, mais dolorido da “espada” profetizada pelo velho Simeão ainda estava por acontecer; a prisão programada pelos sacerdotes, fariseus, escribas, autoridades e chefes do povo, o julgamento mentiroso e com falsos testemunhos, a condenação forjada à cruz com requintes de brutalidade e selvageria, a crucificação mais covarde e impiedosa e, por fim, a morte de seu Divino Filho pendurado em uma cruz, “... o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” (Jo 1,29). E nesse momento terrível de supremo sofrimento do Filho de Deus e seu Filho, Maria estava presente. Maria suportou tudo de pé, com dignidade e tolerância, sempre ao lado de seu Filho até o momento derradeiro aos pés da cruz. Assim nos descreve esse momento crucial o Evangelista amado: “... estavam de pé junto à cruz de Jesus sua mãe, Maria, mulher de Cleófas e Maria Madalena. Jesus vendo sua mãe e junto dela o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: Mulher, eis ai o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe.” (Jo 19,25-26). Maria aos pés da cruz acompanhando seu Divino Filho até o momento derradeiro de sua entrega total nas mãos do Pai.

Maria, a Mãe de Deus.
Mas não termina aí a participação de Maria no plano de salvação do Senhor nosso Deus. Depois do julgamento iníquo, morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus aos céus (Lc 24,50-53), Maria permaneceu com os Apóstolos do Senhor fortalecendo-os na fé e animando-os em seu apostolado, conforme nos certifica o livro dos Atos dos Apóstolos: “Eram Pedro e João, Tiago e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu e Simão, o zelota; e Judas, filho de Tiago. Todos estes, unânimes, perseveraram na oração com algumas mulheres, entre as quais, Maria, a mãe de Jesus...” (At 1,13-14). Assim, como Jesus veio até nós por meio de Maria, por meio de Maria também chegaremos a Jesus; foi o próprio Senhor Jesus, como Deus, quem escolheu esse caminho para chegar até nós e o exemplo, quem nos deixa é o próprio Jesus; se ele escolheu Maria para chegar até nós, nós também devemos escolher Maria para chegar com mais facilidade até ele, conforme escreveu São Luiz Maria Grignon de Montfort no livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”: “A Santíssima Virgem é o meio de que Nosso Senhor se serviu para vir a nós; e é o meio que nos devemos servir para ir a ele”. Se ainda não conhecemos bem Jesus como deveríamos conhecê-lo e amá-lo é porque ainda não conhecemos e nem amamos suficientemente bem Maria. Maria é a Mãe de Jesus Homem e Deus, portanto, Mãe de Deus, porque Jesus assumindo a natureza humana não abdicou a natureza divina, confirmando isso Isabel, quando disse, por ocasião da visita que recebera de Maria: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43). Jesus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é a Palavra com a qual o mundo foi criado: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. [...] A Palavra estava no mundo, o mundo foi feito por meio dela.. [...] E a Palavra se fez homem e veio habitar entre nós.” (Jo 1,1-4.10.14). Jesus, antes do seu nascimento virginal do ventre de Maria, vivia a vida da Trindade, eterno, sem princípio e nem fim, e só tinha uma natureza: a divina. No seio de Maria Jesus assumiu a natureza humana, sem abdicar a divina. Há, portanto, em Jesus, uma só Pessoa e duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana. Reunidas, as duas naturezas constituem uma única pessoa, a Pessoa de Jesus. Maria é Mãe desta única Pessoa que possui ao mesmo tempo a natureza divina e a natureza humana. Maria deu a Jesus a natureza humana; não lhe deu, porém, a natureza divina, que vem unicamente do Pai. Maria deu, pois, à Pessoa de Jesus, que era e continuou divina, aquilo que diz respeito à natureza humana, como a nossa mãe nos deu todo o humano de nossa pessoa, o corpo. Apesar disso, nossa mãe é, certamente, a mãe da única pessoa que somos com a única natureza que temos, a humana. Maria é a Mãe da Pessoa de Jesus, que se encarnou nela com a única natureza que tinha: a divina. A partir a Encarnação da Palavra, Jesus assume a natureza humana numa só pessoa, que continuou sendo “una” apesar das duas naturezas: humana e divina. Em Jesus há uma só Pessoa, a pessoa divina, infinita, eterna, a pessoa do Verbo, do Filho de Deus, em tudo igual ao Pai e ao Espírito Santo. E Maria é a Mãe desta Pessoa divina que, como o Pai e o Espírito Santo, tem a natureza divina, mas que depois assumiu a natureza humana do seio de Maria. Logo, Maria é a Mãe de Jesus, a Mãe do Verbo Eterno, a Mãe do Filho de Deus, a Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Mãe de Deus, pois tudo é a mesma e única Pessoa com a natureza humana e divina, nascida do seu seio virginal. A Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe deste Deus, revestido desta humanidade; é a Mãe de Deus feito homem. Maria é a Mãe de Deus: "Maria de quem nasceu Jesus" (Mt 1,16). Embora nos Evangelhos Maria não seja chamada expressamente "Mãe de Cristo" ou "Mãe de Deus", esta dignidade deduz-se, com todo o rigor, do texto sagrado. Gabriel, dizendo à Maria: "O santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1,35), exprime claramente que Maria será Mãe de Deus. Gabriel diz que o Santo que nascerá de Maria será chamado o Filho de Deus. Se o Filho de Maria é o Filho de Deus, considerando que o Filho de Deus é também Deus, é absolutamente certo que Maria é a Mãe de Deus por ser Mãe do Filho de Deus. Repleta do Espírito Santo, Isabel exclama: "Donde me vem a dita que a Mãe de meu Senhor venha visitar-me?" (Lc 1, 43).  Que quer dizer isso senão que Maria é a Mãe de Deus? “Mãe do Senhor” ou "Mãe de Deus" são expressões idênticas.

Maria, a mãe da Igreja.
A nossa Igreja dedica à Maria uma devoção especial acima dos anjos e dos santos, mas nunca comparada à Deus. Aos anjos e santos a Igreja apenas venera, e o culto prestado a Deus é de adoração, portanto, a Igreja tem uma veneração especial à Maria, mais que aos anjos e santos, mas que jamais seria adoração. Nos diz o Catecismo da Igreja Católica nos seus parágrafos 971 e 2677:
ü     971: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1,48): "A piedade da Igreja para com a Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão". A Santíssima Virgem "é legitimamente honrada com um culto especial pela Igreja. Com efeito, desde remotíssimos tempos, a bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de 'Mãe de Deus', sob cuja proteção os fiéis se refugiam suplicantes em todos os seus perigos e necessidades (...) Este culto (...) embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao Verbo encanado e igualmente ao Pai e ao Espírito Santo, mas o favorece poderosamente"; este culto encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração Mariana, tal como o Santo Rosário, "resumo de todo o Evangelho".
ü     2677: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós..." Com Isabel também nós nos admiramos: "Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?" (Lc 1,43). Porque nos dá Jesus, seu filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como rezou por si mesma: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: "Seja feita a vossa vontade". "Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte." Pedindo a Maria que reze por nós, reconhecemo-nos como pobres pecadores e nos dirigimos à "Mãe de misericórdia", à Toda Santa. Entregamo-nos a ela "agora", no hoje de nossas vidas. E nossa confiança aumenta para desde já entregar em suas mãos "a hora de nossa morte". Que ela esteja então presente, como na morte na Cruz de seu Filho, e que na hora de nossa passagem ela nos acolha como nossa Mãe para nos conduzir a seu Filho, Jesus, no Paraíso.
Desde os primeiros séculos do cristianismo os grandes santos e teólogos, assim como toda a comunidade cristã, reverenciavam Maria como “Mãe de Deus”, senão vejamos:
Dionísio Areopagita (Séc I): "Maria é feita Mãe de Deus, para a salvação dos infelizes."  
Orígenes (Sec. II) escreve: "Maria é Mãe de Deus, unigênito do Rei e criador de tudo o que existe". Santo Atanásio diz: "Maria é Mãe de Deus, completamente intacta e impoluta."
Santo Efrém: "Maria é Mãe de Deus sem culpa”.  
São Jerônimo: "Maria é verdadeiramente Mãe de Deus".
Santo Agostinho: "Maria é Mãe de Deus, feita pela mão de Deus". 
Santo Afonso Maria de Ligório, bispo, que morreu no dia primeiro de agosto de1787 aos noventa e um anos, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentoristas, insistia para que rezássemos à Maria, nossa Mãe abençoada. Santo Afonso escreveu um tratado completo sobre o papel de Maria no plano de salvação de Deus denominado: As Glórias de Maria: “Por ser tão amada por Deus e responder totalmente a este amor, Maria deveria ser nosso modelo na vida cristã. Além disso, Maria é capaz de interceder por nós. Ela é cheia de graça; porém, esta plenitude não foi concedida apenas para si, mas também para que compartilhasse conosco”.
São Luiz Maria Grignon de Montfort, sacerdote falecido aos quarenta e três anos de idade em 1716 com apenas dezesseis anos de sacerdócio, como tantos outros santos, foi um extremado devoto de Maria, tendo escrito o livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, nos deixando pensamentos maravilhosos sobre a beleza de Maria, dos quais cito alguns: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as suas graças e chamou-as Maria.” - “Maria produziu, com o Espírito Santo, a maior maravilha que existiu e existirá: um Deus-homem.” - “Jesus é em toda parte e sempre o fruto e o Filho de Maria; e Maria é em toda parte a verdadeira árvore que dá o fruto da vida, e a verdadeira mãe que o produz”. - “O que Lúcifer perdeu por orgulho, Maria ganhou por humildade. O que Eva condenou e perdeu por desobediência, salvou-o Maria pela obediência. Eva, obedecendo à serpente, perdeu consigo todos os seus filhos e os entregou ao poder infernal; Maria, por sua perfeita fidelidade a Deus, salvou consigo todos os filhos e servos e os consagrou a Deus”. - “Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas. Jesus Cristo é o alfa e o ômega, o princípio e o fim de todas as coisas... Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo. Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio”. - “Maria está tão intimamente unida a vós (Jesus) que mais fácil seria separar do sol a luz, e do fogo o calor; digo mais: com mais facilidade se separariam de vós os anjos e os santos que a divina Mãe, pois que ela vos ama com mais ardor e vos glorifica com mais perfeição que todas as vossas outras criaturas.” - “Não tenha a pretensão de receber a graça de Deus, quem ofende sua Mãe Santíssima”. - “Um filho que obedece a Maria, pode acaso errar o caminho que leva à eternidade?”.

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