segunda-feira, 14 de novembro de 2011

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO "A"

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – A; Cor – verde; Leituras: Pr 31,10-13.19-20.30-31; Sl 127 (128); 1Ts 5,1-6; 25,14-30.

“QUEM PODERÁ ENCONTRAR UMA MULHER FORTE? ELA VALE MUITO MAIS DO QUE PÉROLAS”. (Pr 31,10).
Diácono Milton Restivo

Chegamos, finalmente, no último domingo do Tempo Comum, onde a Igreja, na sua liturgia da Palavra e Eucarística veste verde, cor e símbolo da esperança do povo de Deus em viver plenamente o Reino de Deus que já está entre nós. Com o final do Tempo Comum termina, também, o Ano Litúrgico, que tem como referência no seu encerramento a festa de Cristo, Rei do Universo que celebraremos no próximo domingo, que será o trigésimo quarto domingo do Tempo Comum, quando a Igreja veste branco.
A liturgia deste trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum, na sua primeira leitura, enaltece a figura da mulher virtuosa. O livro Cântico dos Cânticos assim fala da mulher formosa: “Você é bonita, minha amiga, você é como Tersa, formosa como Jerusalém. Você é terrível como esquadrão com bandeiras desfraldadas. Afaste de mim teus olhos, que teus olhos me perturbam!” (Ct 6,4-5). É muito interessante verificarmos nas Sagradas Escrituras como a figura da mulher é colocada em destaque em diversos lugares, situações e conotações. No Livro Sagrado o assunto “mulher” é abordado com muita propriedade e inteligência das mais diversas maneiras e nos mais variados aspectos. Em alguns lugares é enaltecida a figura da mulher virtuosa, da mulher cheia de virtudes e predicados, da mulher recatada em todas as suas atitudes. Em outras situações é criticada e condenada a figura da mulher má e maliciosa, da mulher perversa, da mulher que denigre tudo o que há de mais belo, de mais puro e de mais santo na figura doce e santa dessa pessoa do sexo feminino criada por Deus para ser companheira e mãe.
O livro dos Provérbios, no seu último capítulo, primeira leitura da liturgia de hoje, enaltece sobremaneira a figura da mulher formosa, forte, honesta, trabalhadeira, companheira, provedora do lar, esposa ideal (cf Pr 31,10-30). Abordemos a figura da mulher virtuosa como nos transmite a mensagem do Senhor através dos escritos sagrados.
No primeiro livro das Sagradas Escrituras nos é relatado que o Senhor criou o homem à sua imagem e semelhança, e deu-lhe uma companheira, dizendo: “Não é bom que o homem esteja só.  Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda. [...] Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois da costela que tirara do homem, Iahweh Deus  modelou uma mulher  e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: ‘Este sim é osso dos meus ossos, e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’ porque foi tirada do homem!’ Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe,  se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne.” (Gn 2,18. 21-24).
Nesse ato e em sua infinita sabedoria, o Senhor deixa-nos uma mensagem e um ensinamento que deveríamos meditar e levar à sério: Deus tirou uma costela do homem e dela modelou a mulher; tirou-a do lado do coração do homem. Se Deus a tivesse tirado parte da cabeça do homem e dela modelado a mulher, talvez a mulher se tornasse soberba e, por entender ter sido tirada da cabeça do homem, da parte superior do homem, tivesse a tentação e a ousadia de querer dominar seu parceiro. Se o Senhor tivesse tirado parte do pé do homem e dela modelado a mulher, talvez o homem se julgasse superior e se sentisse no direito de escravizar a mulher, de pisar sobre ela, de dominá-la. Na sua infinita misericórdia e sabedoria o Senhor tirou a mulher do lado do coração do homem para que, nem homem e nem mulher, se julgassem superior um ao outro, para que ambos caminhassem juntos, partilhassem suas vidas e se ajudassem mutuamente em quaisquer circunstâncias e em todos os momentos de suas vidas. Desde este primeiro momento da criação do homem e da mulher, depois que se unem e, “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, e se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24), ambos passam a rir no mesmo riso e a chorar na mesma lágrima; se predispõem a estarem juntos nos bons e nos maus momentos de sua existência. E isso foi ratificado por Jesus: “Vocês nunca leram que o Criador, dede o início, os fez homem e mulher e os dois serão uma só carne? Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar.” (Mt 19,4-6). Já dizia alguém: “Atrás de um grande homem sempre existe a figura de uma grande mulher”, mas eu digo; “se não for uma grande mulher, jamais o homem será grande”.
As Sagradas Escrituras são pródigas em enaltecer e elogiar a mulher virtuosa e afirma que “A mulher graciosa adquire honra...” (Pr 11,16) e que “Uma mulher forte é a coroa do marido...” (Pr 12,4). Para um homem que tem como companheira uma mulher forte, honrada e honesta, não existem obstáculos ou problemas que ele não vença. Uma mulher forte é o apoio, a estaca central e o incentivo para que o homem alcance os seus objetivos e vença suas empreitadas. “Casa e fortuna são herança paterna, mas é Iahweh quem dá uma mulher prudente.” (Pr 19,14).             Que adiantaria ao homem ser rico, receber heranças de seu pai se não tiver como companheira uma mulher prudente? A herança são os pais que deixam, mas uma mulher prudente e virtuosa, como companheira, é uma dádiva preciosa do Criador. O que achou a uma mulher boa, achou o bem, e receberá do Senhor um manancial de alegria.” (Pr 18,22). “A mulher sábia constrói o seu lar.” (Pr 14,1). “Goze a vida com a esposa que você ama, durante todos os dias da vida fugaz que Deus lhe concede debaixo do sol.” (Ecl 9,9a).
César, imperador de Roma, dizia: “Não adianta a mulher do imperador ser honesta; ela precisa demonstrar que é honesta.”          No livro do Eclesiástico encontramos esse conselho: “Não despreze uma esposa sábia e boa, porque a bondade dela vale mais do que o ouro. [...] Você ama sua esposa? Não se separe dela.” (Eclo 7,18.26).
O próprio Senhor nos incentiva a valorizar a mulher honesta, sábia, prudente e boa, porque é nela que o homem de bem encontra consolo e repouso, e o Senhor nosso Deus continua falando assim da mulher virtuosa: “Feliz o marido que tem mulher virtuosa; a duração de sua vida será o dobro. Mulher habilidosa é alegria para o marido, que viverá em paz por toda a vida. Uma boa mulher é uma sorte grande, que será dada aos que temem ao Senhor. Rico ou pobre, estará contente e terá sempre rosto alegre.” (Eclo, 26,1-4). Uma mulher excelente, como dizem as Sagradas Escrituras, é o maior presente que um homem pode receber do Senhor; é uma boa sorte e Deus somente a dá a quem o teme e caminha por suas veredas. O homem que tem uma mulher prudente, honesta, sábia e boa, jamais a sombra da tristeza ofuscará o seu coração, porque: “Mulher graciosa alegra o marido, e com seu saber o fortalece. Mulher discreta é dom do Senhor, e mulher bem educada não tem preço. Mulher modesta duplica seu encanto, e não há valor que pague a mulher casta. Como o sol levantando-se sobre as montanhas do Senhor, assim é a beleza da mulher em sua casa bem arrumada. Como lâmpada brilhante no candelabro sagrado, tal é a beleza do rosto num corpo bem acabado. Colunas de ouro sobre bases de prata, assim são as belas pernas sobre sólidos pés.” (Eclo 26,13-18). Diríamos, sem receio de errar, que o Senhor nosso Deus chega ao cúmulo de colocar a mulher irrepreensível acima dos próprios filhos e de qualquer riqueza que o homem possa ter, quando diz: “Os filhos e a fundação de uma cidade perpetuam o nome, porém acima dos dois está a mulher irrepreensível.” (Eclo 40,19).
O livro Cântico dos Cânticos nos transmite uma das mais lindas poesias que uma mulher virtuosa poderia receber de seu amado em todos os tempos e, o que ele escreve, podemos repetir sem medo de incorrer em erro para a mulher virtuosa que divide conosco as alegrias e as tristezas da existência: “Como você é bela, minha amada, como você é bela! [...] Você roubou meu coração, minha irmã, esposa minha, você roubou meu coração com um só dos seus olhares, uma volta dos colares. Como seus amores são belos, minha irmã, esposa minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino do que os outros aromas e o odor de seus perfumes. Seus lábios são favo escorrendo, ó esposa minha. Você tem leite e mel sob a língua, e o perfume de suas roupas é como a fragrância do Líbano. Você é um jardim fechado, minha irmã, esposa minha, um jardim fechado, uma fonte lacrada.” (Ct 4,1.9-12). E, no elogio à mulher amada, o amado não para por aí, e continua no seu poema enaltecendo a mulher virtuosa: “Como você é bela, como você é formosa, que amor delicioso! Você tem o talhe da palmeira, e seus seios são os cachos. E eu pensei: ‘vou subir à palmeira para colher dos seus frutos’! Sim, seus seios são cachos de uva, e o sopro de suas narinas perfuma como o aroma das maçãs. Sua boca é um vinho delicioso que se derrama na minha, molhando-me lábios e dentes.” (Ct 7,7-10).
O Senhor nos orienta como deve ser tratada a mulher santa: “Seja bendita a sua fonte, alegre-se com a esposa de sua juventude: ele é corça querida, gazela formosa. Que as carícias dela embriaguem sempre a você, e o amor dela, o satisfaça continuamente.” (Pr 5,18-19). E não poderia existir maneira melhor de falar e elogiar a mulher virtuosa senão como escreveu o escritor sagrado, conforme consta da primeira leitura da liturgia de hoje: “Quem poderá encontrar a mulher forte? Ela vale mais do que pérolas. Seu marido confia nela e não deixa de encontrar vantagens. [...] Ela sabe dar valor ao seu trabalho, e mesmo de noite sua luz não se apaga. [...] Seu marido é respeitado no tribunal, quando se assenta entre os juízes do povo. [...] Ela se veste de força e dignidade, e sorri para o futuro. Ela abre a boca com sabedoria, e sua língua ensina com bondade. [...] A graça é enganadora e a beleza é passageira, mas a mulher que teme a Yahweh merece louvor. Cantem o sucesso do trabalho dela, e que suas obras a louvem na praça da cidade.” (Pr 31,10-11.18.23.25-26.30-31). Assim as Sagradas Escrituras falam da mulher sábia, prudente, irrepreensível, honesta, santa, digna e virtuosa, e repito, transcrevendo novamente esta citação: “Uma mulher forte é a coroa do marido...” (Pr 12,4).
A mulher virtuosa confia no Senhor e, com o salmista, devemos repetir todos os dias: "Mas tu, ó minha alma, conserva-te sujeita a Deus, porque dele vem minha paciência. Só ele é meu Deus e meu Salvador; é minha defesa, não vacilarei. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; de Deus é que espero o meu socorro, a minha esperança está em Deus." (Sl 62 (61),6-8).
O salmista, no Salmo desta liturgia, enaltece o marido que teme a Yahweh e que tem uma esposa amorosa: “Feliz quem teme a Yahweh e anda nos seus caminhos. Você comerá do trabalho de suas próprias mãos, tranquilo e feliz. Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar. Seus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa. Essa é a benção para o homem que teme Yahweh.” (Sl 128 (127),1-4).
Um dos maiores elogios à mulher amada encontramos no livro do Cântico dos Cânticos: “Quem é essa que desponta como aurora, bela como a lua, fulgurante como o sol, terrível como esquadrão com bandeiras desfraldadas?” (Ct 6,10).
O amor da mulher, como mãe é imbatível e não há no mundo amor que o supere. A mulher virtuosa tem dentro de si o amor que se assemelha ao do Criador, apenas superado por esse: “Mas, pode a mãe se esquecer de seu nenê, pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você.” (Is 49,15).
No Evangelho deste domingo Jesus conta aos seus discípulos a parábola dos talentos. A explicitação de Jesus é clara e precisa. O homem que foi viajar para o estrangeiro seria o próprio Jesus que, depois de distribuir os seus ensinamentos e riquezas que ele trouxera do Pai para todos os homens, viaja, volta para junto do Pai, na expectativa de que todos os discípulos disponham e usem os talentos que ele, nos três anos de missão entre os homens, deixou para todos. A cada um foram dados talentos que, quem os receberam, os façam frutificar, duplicar, angariar juros.
Os talentos são todos os meios que a Providência Divina concede a cada um para viver plenamente como filho e filha de Deus. Os talentos são tudo o que a natureza fornece de bom e útil para que o homem tenha uma vida digna, são os dons particulares da graça que o Pai dá a cada um de acordo com o seu estado de vida, não somente a riqueza, mas também a pobreza, não somente o descanso, mas também o trabalho. Tudo o que o homem tem e é, são os meios que o Pai dá como talentos para a sua salvação. Todos e cada um têm capacidades diferentes para usufruir os talentos dados pelo Pai. Os que usam seus talentos de maneira responsável, receberão do Senhor o seguinte convite: “Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria.” (Mt 25,21.23).
O inútil da parábola, aquele que recebeu talentos como os demais e se acomodou, aquele que preferiu viver a sua vida como bem lhe aprouvesse, que se entregou totalmente à inércia e à preguiça, que teve uma visão passiva e destorcida da fé, que tentou tirar proveito próprio dos talentos que lhe foram outorgados, atribuindo ao próprio Senhor a causa da sua irresponsabilidade e do seu próprio medo, ouvirá do Senhor: “Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. Então você devia ter depositado o meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence.” (Mt 25,26-27).
O nosso Deus é um Deus generoso e que cumula a todos os seus filhos e filhas de bens e talentos para que seja propagado o seu Reino de paz e justiça. O Reino de Deus é um reino de inclusão de todos, menos para os que agem, mesmo por inércia, para destruí-lo.

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