segunda-feira, 14 de novembro de 2011

9º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO "A"

IX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano - A; Cor – verde; Leituras: Dt 11,18.26-28.32; Sl 30 (31); Rm 3,21-25.28; Mt 7,21-27.

“NEM TODO AQUELE QUE ME DIZ: ‘SENHOR, SENHOR’, ENTRARÁ NO REINO DO CÉU”.  (Mt 7,21a)

Diácono Milton Restivo

Moisés foi o libertador do povo israelita da escravidão no Egito e o legislador desse mesmo povo. É atribuída a ele a autoria dos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, resumidamente chamados de “Pentateuco”. A liturgia de hoje evoca uma passagem importante do livro do Deuteronômio, onde Moisés transmite, ao povo no deserto, como se deve buscar a bênção de Deus obedecendo aos seus mandamentos, ou ir de encontro da maldição virando as costas para Yahweh: “Vejam! Hoje eu estou colocando diante de vocês a bênção e a maldição. A bênção se vocês obedecerem aos mandamentos de Yahweh seu Deus, que eu hoje lhes ordeno. A maldição se não obedecerem aos mandamentos de Yahweh, seu Deus, desviando-se do caminho que hoje eu lhes ordeno, para seguir outros deuses que vocês não conheceram”. (Dt 26-27).  Quando ditava os dez mandamentos a Moisés, Yahweh já havia dito: “Não tenha outros deuses diante de mim. Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu sou Yahweh, seu Deus, sou um Deus ciumento: quando me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, netos e bisnetos; mas quando me amam e guardam os meus mandamentos, eu os trato com amor por mil gerações”. (Ex 20,3-6).
No último discurso de Moisés ao povo israelita, antes de entrar na Terra Prometida, Moisés disse: “Observem as palavras desta aliança e as ponham em prática, para serem bem sucedido em tudo quanto fizerem”. (Dt 29,8); Quando se cumprirem todas essas palavras em você, isto é, a benção e a maldição que eu lhe propus, e você meditar nelas, vivendo no meio de todas as nações para onde Yahweh seu Deus o tiver expulsado, então você se converterá de todo o seu coração, e de toda a sua alma para Yahweh; você e seus filhos obedecerão a ele, conforme eu lhe ordeno hoje.  Então Yahweh seu Deus se compadecerá de você e mudará sua sorte. [...] Quanto a você, volte a obedecer Yahweh seu Deus, colocando em prática todos os mandamentos dele, que eu hoje lhe ordeno. [...] A condição, porém, é que você obedeça a Yahweh seu Deus, observando-lhe os mandamentos e estatutos escritos neste livro da Lei, é que você se converta com todo o coração e com toda a alma para Yahweh seu Deus”. (Dt 30, 1-3a.8.10). A presença de Deus, a observância aos seus preceitos e adorando ao Senhor Deus como o único e verdadeiro Deus é a razão de toda benção que o homem possa necessitar e receber em sua vida. A ausência de Deus gera a maldição. Antes da criação das coisas, “a terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”. (Gn 12). Era o mundo sem Deus, era o caos, a escuridão. Então “Deus disse: ‘Que exista a luz’! E a luz começou a existir”. (Gn 1,3). Era o fim do caos, o fim das trevas e o início da luz. A presença de Deus, que é a benção, iluminou o universo. Já não existiam mais trevas, símbolo da maldição. Presença de Deus - luz: benção; ausência de Deus - trevas: maldição. Deus criou a benção e não a maldição; criou a luz, e não as trevas. A maldição, as trevas, é a ausência de Deus. Deus criou a vida, o homem optou pela morte. “Pois a morte é o salário do pecado...” (Rm 6,23a). A morte foi provocada pela desobediência, pecado do homem: “Você é pó, e ao pó voltarás”. (Gn 3,19a). Deus criou a plena felicidade, o homem preferiu a dor: “Yahweh disse então para a mulher: ‘Vou fazê-la sofrer muito em sua gravidez: entre dores você dará à luz seus filhos; a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará’. Yahweh disse para o homem: ‘Já que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore cujo fruto eu lhe tinha proibido comer, maldita seja a terra por sua causa. Enquanto você viver, você dela se alimentará com fadiga. A terra produzirá para você espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva dos campos. Você comerá o seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para a terra, pois dela foi tirado.” (Gn 2,16-19b). O primeiro casal desobedeceu ao seu Criador (cf Gn 3,6-7) e pela desobediência entrou o pecado e a morte no mundo: “Assim como o pecado entrou no mundo através de um só homem e com o pecado veio a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram”. (Rm 5,12). Deus criou o bem, e não o mal. O mal é a ausência de Deus. Albert Einstein tem definições sobre isso que faz entender e refletir melhor. Ele diz que a luz existe e que pode ser estudada e que a escuridão, por ser consequência da falta de luz, não pode ser estudada: “A escuridão é uma definição que o homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz presente. [...] O mal não existe, pelo menos não existe por si mesmo. O mal é simplesmente a ausência do bem. O mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus. Deus não criou o mal. Não é como a fé ou como o amor, que existem como existem o calor e a luz. O mal é resultado da humanidade não ter Deus presente no seu coração. É como acontece com o frio quando não há calor, ou escuridão quando não há luz”.
A luz foi criada por Deus, a escuridão pelo homem, porque o homem busca na escuridão, no anonimato cobertura para pecar; o bem foi criado por Deus, o mal pela desobediência do homem (cf Gn 3,1-19). O homem, na sua intenção de ser mais do que Deus o havia criado, desobedeceu ao seu Criador na intenção de ser como ele, outro deus: “Então a serpente disse para a mulher: ‘De modo nenhum vocês morrerão. Mas Deus sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se abrir, e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal”. (Gn 3,4-5).
A benção é originária de Deus, a maldição é criada pelas atitudes do homem no seu afastamento de seu Deus. Reportando a essa determinação de Moisés e à ordem de Yahweh, mais tarde Jesus diria: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e a riqueza”. (Mt 6,24).
Yahweh é um “Deus é ciumento” (Ex 20,3; Dt 4,24; 5,9; 6,15) e não admite rivais e nem competições. Quais são os rivais que competem com Deus no coração humano? São a idolatria e a ganância pelo dinheiro e bens terrenos, a desobediência, os vícios, a avareza, a vaidade, a inveja, o ciúmes, a ira, a soberba, a prostituição, a fornicação, a mentira, a feitiçaria, e outras abominações ao Senhor. Os que assim procedem, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte, segundo narra o livro do Apocalipse: “Quanto aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, imorais, feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”. (Apo 21,8). E, por isso, Moisés faz um último apelo no seu último discurso antes de sua morte: “Hoje eu tomo o céu e a terra como testemunhas contra vocês: eu lhe propus a vida e a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver amando a Yahweh seu Deus, obedecendo-lhe e apegando-se a ele, porque ele é a sua vida e o prolongamento de seus dias”. (Dt 30,19-20). Paulo e Silas dão a receita para receber e viver plenamente a benção de Deus: “Acredite no Senhor Jesus e serão salvos você e todos os da sua casa”. (At 16,31), e Jesus testifica isso: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram”. (Jo 14,6-7).
Todos almejam a benção, mas não se preocupam em estar na presença do Senhor e, por isso, não fazem jus a essa misericórdia de Deus; querem a benção, mas não se comprometem com o Evangelho de Jesus. Preferem servir os prazeres do mundo, viver em abundância, ignorando a advertência de Jesus: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?”. (Mt 16,24-26). Ai está explícita a diferença entre a benção e maldição: seguir a Jesus – benção; virar as costas para Jesus - maldição. E Paulo escreve aos romanos: “Pois a morte é o salário do pecado, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor”. (Rm 6,23).
Jesus Cristo, no Evangelho, que é o último trecho citado do Sermão da Montanha na liturgia, aborda, exatamente, essa temática: estar com Deus – benção; estar sem Deus, maldição. Todos fazem as suas orações todos os dias. Lembram-se de Deus nos momentos difíceis da vida, nos momentos de aperto financeiro ou de saúde, nos momentos de risco de vida. Sempre evocam o nome do Senhor nesses momentos, como que se Deus fosse um médico de plantão que deveria ser procurado quando estivessem passando mal ou tivessem sofrido um acidente. Ai vem Jesus, e diz: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas o que põe em prática a vontade do meu Pai que está nos céus”. (Mt 7,21). Clamar o nome do Senhor não é suficiente; é necessário viver a vida do Senhor, a vida da graça, do amor, da misericórdia, do perdão, da benção. Clamar o nome do Senhor é fácil, principalmente nos momentos críticos da existência, mas a vida, as atitudes, o coração permanecem longe de Deus. Rezar sem transformar a oração em vida e a vida em oração, são palavras soltas ao vento. Ir à missa aos domingos rotineiramente ou por tradição de família – não se diz nem “participar da missa” – como desencargo de consciência ou para apenas cumprir um preceito, uma obrigação, é hipocrisia. A respeito disso Isaias já dissera: “O Senhor disse: ‘Esse povo se aproxima de mim só com palavras, e somente com os lábios me glorifica, enquanto o seu coração está longe de mim. O culto que me presta, é tradição humana e rotina”. (Is 29,13). O profeta Amós também não poupa palavras a esse respeito: “Eu detesto e desprezo a festa de vocês; tenho horror dessas reuniões. Ainda que vocês me ofereçam sacrifícios, suas ofertas não me agradarão, nem olharei para as oferendas gordas. Longe de mim o barulho de seus cânticos, nem quero ouvir a música de suas liras. Eu quero, isso sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca”. (Os 5,21-24). O que seria oferendas gordas nos nossos dias? Quem sabe, uma oferta generosa para a igreja, um dízimo que causa inveja aos demais... E Yahweh diz: “nem olharei para as oferendas gordas”. Yahweh quer, “isso sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca”.
Quantos, em todos os seguimentos de religiões cristãs ou que se dizem cristãs, frequentam reuniões de toda espécie, cantam, batem palmas, se cumprimentam e se abraçam, dizem até falar línguas diferentes, julgam ter o dom da cura e chegam até a curar, mas que não transformam isso em vida e sua vida não condiz com aquilo que pregam. Quantos, no dia derradeiro, vão dizer a Jesus: “Senhor, Senhor, Não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?” (Mt 7,22). Jesus já havia alertado contra os falsos profetas e falsos messias: “Porque vão aparecer falsos messias e falsos profetas, que farão grandes sinais e prodígios, a ponto de enganar até mesmo os eleitos, se fosse possível”. (Mt 24,24). E Paulo: “A vinda do ímpio vai acontecer graças ao poder de satanás, com todo tipo de falsos milagres, sinais e prodígios, e com toda a sedução que a injustiça exerce sobre os que se perdem, por não se terem aberto ao amor da verdade, amor que os teria salvo. Por isso, Deus manda o poder da sedução agir neles, para que acreditem na mentira”. (1Ts 2, 9-11).
O demônio também expulsa demônios para confundir os encautos. O demônio também faz milagres para desviar os homens da vida da graça e encher o seu ego de orgulho: “A segunda Besta opera grandes maravilhas: faz cair fogo do céu sobre a terra, à vista dos homens. Por causa do poder de fazer essas maravilhas, sempre na presença da primeira Besta, a segunda Besta acaba seduzindo os habitantes da terra”. (Apo 13,14). Por isso, Jesus dirá naquele dia: “Então eu vou declarar a eles: ‘Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores”. (Mt, 7,23). A seguir Jesus narra a parábola do homem prudente e do homem imprudente. O homem prudente constrói a sua casa sobre a rocha que, nem a chuva, nem as enchentes, nem o vento puderam contra ela, porque estava construída sobre a rocha (cf Mt 7,24-25), a exemplo de Jesus Cristo, que construiu a sua Igreja sobre a pedra e nem o inferno poderá abalá-la: “Por isso eu lhe digo: você é Pedro e sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la”. (Mt 16,18). Paulo seguiu à risca esse ensinamento de Jesus: “Eu, como bom arquiteto, lancei os alicerces conforme o dom que Deus me concedeu; outro constrói por cima do alicerce. Mas cada um veja como constrói. [...] Se a obra construída sobre o alicerce resistir, o operário receberá uma recompensa”. (1Cor 3,10.14). A rocha onde devemos construir a nossa casa, a nossa vida e colocar toda nossa fé e esperança, é o Senhor nosso Deus: “Eu te amo, Yahweh, tu és a minha força! Yahweh, meu rochedo, minha fortaleza, meu libertador; meu Deus, rocha minha, meu refúgio, meu escudo, força que me salva, meu baluarte”. (Sl 18 (17),2-3).
A seguir Jesus alerta sobre as consequências do homem imprudente: não tem o Senhor Deus como rocha firme, rochedo inabalável, e constrói a sua casa sobre a areia das ilusões do mundo e da vida: “caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa”. (Mt 7,27). Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente... [...] Por outro lado, que ouve essas minhas palavras e não as põe em prática, é como um homem sem juízo...”. (Mt 7,24.26). “Jesus ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os doutores da Lei”. (Mt 7,29).

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