segunda-feira, 14 de novembro de 2011

6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO "A"

Ano – A; Cor – Branco; Leituras: At 8,5-8.14-17; Sl 65; 1Pd 3,15-18; Jo 14,15-21.

“SE VOCÊS ME AMAM, OBEDECERÃO AOS MEUS MANDAMENTOS” (Jo 14,15).

Diácono Milton Restivo.

A prisão e morte de Estevão narradas no livro dos Atos dos Apóstolos 6,8 – 7,60, deram início à primeira grande perseguição sofrida pela Igreja de Jesus Cristo: “Naquele dia, desencadeou-se uma grande perseguição contra a igreja de Jerusalém. [...] Saulo, porém, devastava a Igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para colocá-los na prisão. E aqueles que se dispersaram iam de um lugar para outro, anunciando a Palavra.” (At 8,1b.3-4).
Com a morte de Estevão a Igreja passa por um período de sofrimento e perseguição. Com o martírio de Estevão as autoridades judaicas tentaram, de uma vez por todas, acabar com os seguidores do Ressuscitado, caçando e matando a todos, tanto mulheres como homens, que criam em Jesus Cristo.O sangue dos mártires é a semente da Igreja”, diria mais tarde Tertuliano (155-222).
Fato inédito e grande paradoxo: ao invés de a perseguição calar os seguidores do Ressuscitado e abafar o Evangelho, acabou fazendo com que o Evangelho saísse de Jerusalém e se espalhasse por outras regiões onde se refugiavam os discípulos e se difundisse cada vez mais e com mais ardor. É o Espírito Santo que assim força a Igreja a sair de seu estreito círculo original, a fim de anunciar o Evangelho “... em toda Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.” (At 1,8b).
A primeira leitura desta liturgia narra exatamente os efeitos dessa perseguição quando Filipe, não o Apóstolo, mas aquele que fora escolhido entre os sete pelos Apóstolos (cf At 6,1-6), refugiando-se na Samaria, levou para lá o Evangelho de Jesus Cristo e, através da Palavra, realizando grandes maravilhas. Se não houvesse a perseguição o Evangelho permaneceria estancado em Jerusalém e a Igreja não se espalharia além da Palestina.
Os discípulos iam por toda a parte, anunciando a palavra, obedecendo aquilo que o Mestre lhes ordenara: “Quando perseguirem vocês numa cidade, fujam para outra.” (Mt 10,23). Filipe, um dos sete diáconos a quem os Apóstolos “oraram e impuseram as mãos sobre eles” (At 6,6b), refugiando-se da perseguição na região de Samaria, cumpria a determinação que Jesus deixara a todos os seus apóstolos e discípulos quando de sua volta para o Pai, elegendo-os missionários da sua mensagem de salvação: “... vocês serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.” (At 1,8b).
Quando uma comunidade é evangelizada, é Jesus que chega em primeiríssimo lugar através da Palavra que é levada e proclamada pelos seus missionários, no caso de Samaria, pelo diácono Filipe. Cristo está presente realmente na Palavra, assim como está na Eucaristia; sua presença é tão real na Palavra como é real na Eucaristia. A Constituição dogmática “Dei Verbum” atesta: “A Igreja sempre venerou a Sagrada Escritura da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor; sobretudo na Sagrada Liturgia nunca deixou de receber o Pão da vida tanto na mesa da Palavra de Deus como da mesa do corpo de Cristo par oferecê-lo aos fieis”. (DV 21). Como vemos, esta constituição nos diz e proclama que a Palavra de Deus é tão venerável quanto o Corpo Eucarístico de Cristo. Não pode se alimentar da Eucaristia quem antes não se alimentou da Palavra.
Como se tem negligenciado a Palavra. Seria necessário novamente vir até nós o diácono Filipe para nos trazer o Cristo na Palavra ou a Palavra de Cristo, assim como ele fez em Samaria? E o que aconteceu em Samaria após receber o Cristo através da Palavra? “E a cidade se encheu de alegria.” (At 8,8). A Palavra prepara os cristãos tanto para a Eucaristia como para a vinda do Espírito Santo: “Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo.” (At 8,17). Levando a Palavra aos samaritanos o diácono Filipe realizou a mais nobre missão de um diácono: proclamar a Palavra. A Instrução Geral sobre o Missal Romano, no seu número 33 diz: “... o próprio Cristo, por sua Palavra, se acha presente no meio dos fieis” e no número 60, diz: “Entre os ministros, ocupa o primeiro lugar o diácono, cuja ordem foi tida em grande honra desde o início da Igreja. O diácono tem na Missa funções que lhe são próprias: anunciar o Evangelho, pregar às vezes a Palavra de Deus...” Então vemos que Filipe, na Samaria, estava realizando a mais nobre missão do diácono: proclamar a Palavra.
Na homilia de ordenação de vinte e nove diáconos, no dia 27 de abril de 2.008, o Papa Bento XVI, assim se pronunciou a respeito do ministério diaconal: “Nessa cidade de Samaria, no meio de uma população tradicionalmente desprezada e como que excomungada pelos judeus, ressoou o anúncio de Cristo que abriu à alegria o coração de quantos O acolheram com confiança. Eis por que motivo, por conseguinte salienta São Lucas naquela cidade "houve uma grande alegria". Estimados amigos, esta é também a vossa missão: anunciar o Evangelho a todos, para que todos experimentem a alegria de Cristo e haja alegria em cada cidade. O que pode ser mais belo do que isto? O que pode ser maior e mais entusiasmante do que cooperar para propagar no mundo a Palavra de vida, do que comunicar a água viva do Espírito Santo? Anunciar e testemunhar a alegria: este é o núcleo central da vossa missão, queridos diáconos”.
Depois de o diácono Filipe haver evangelizado e batizado os samaritanos, havia a necessidade de integrá-los de vez na Igreja de Jesus Cristo e, “Os apóstolos que estavam em Jerusalém souberam que a Samaria acolhera a palavra de Deus e enviaram para lá Pedro e João. Chegando ali, oraram pelos habitantes da Samaria, para que recebessem o Espírito Santo.” (At 8,14-15). Estava confirmada a primeira unção do Crisma, fato que continua se repetindo hoje na Igreja: depois dos fieis serem evangelizados e batizados pelos diáconos e presbíteros, o Bispo, sucessor, representante e continuador da obra dos Apóstolos na Igreja, confere-lhes a unção do Espírito Santo pelo sacramento do Crisma. Pelo Espírito Santo o cristão recebe nova vida, conforme diz Pedro na segunda leitura: “Jesus sofreu a morte na sua existência humana, mas recebeu nova vida pelo Espírito.” (1Pd 3,18b).
Celebrando o VI Domingo da Páscoa, ficamos a uma semana da solenidade da Ascensão de Jesus aos céus, e a Igreja começa a nos preparar para o dia de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo prometido por Jesus aos seus discípulos e Apóstolos. A leitura do Evangelho deste domingo é a continuação da liturgia do domingo passado; é a segunda parte do primeiro discurso de despedida de Jesus e tem como ponto central o amor dos discípulos a Jesus, expresso através da observância dos seus mandamentos. Continuando o discurso durante a sua última ceia com os apóstolos, Jesus promete o Espírito Santo para aqueles que o amam e obedecem aos seus ensinamentos: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. Então eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Advogado, para que permaneça com vocês para sempre. Ele é o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece.” (Jo 14,15-17a).
Jesus está se despedindo dos seus discípulos, mas promete que não os deixará a sós: enviará a eles outro Advogado. Por que “outro Advogado”? Porque o primeiro advogado é o próprio Jesus que veio a este mundo para advogar junto ao Pai e se colocar no nosso lugar e no lugar de cada um de nós, assumindo sobre si toda nossa enfermidade, conforme anteviu o profeta Isaias: “Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus, humilhado. Mas ele estava sendo traspassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós.” (Is 53,4-5).
Com a sua volta ao Pai, depois de haver cumprido a missão para o qual o Pai lhe enviara, Jesus garante que o Espírito Santo deixará bem vivo no coração de cada seguidor seu tudo o que ele ensinou, e tudo o que ele ensinou ele recebeu do Pai: “E a palavra que vocês ouvem não é minha, mas é a palavra do Pai que me enviou. Essas são as coisas que eu tinha para dizer estando com vocês. Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.” (Jo 14,24b-26).
Conforme a Bíblia Pastoral explica o rodapé desse texto “Advogado é alguém que defende uma causa. Jesus envia o Espírito Santo como advogado da comunidade cristã. O Espírito é a memória de Jesus que continua sempre viva e presente na comunidade. Ele ajuda a comunidade a manter e a interpretar a ação de Jesus em qualquer tempo e lugar. O Espírito também leva a comunidade a discernir os acontecimentos para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é vida e o que é morte, e realizando novos atos de Jesus na história.”
Sabendo que ia se ausentar fisicamente Jesus promete o Espírito Santo que protegeria e defenderia seus discípulos no mundo conforme ele mesmo já havia dito: “Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque nessa hora será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês.” (Mt 10,19-20). É o Espírito Santo que Jesus promete que vai enviar que opera a verdadeira fé e a estreita comunhão com o Pai em Jesus Cristo. É o Espírito Santo que consola, dá esperança, coragem, alegria, paciência e sabedoria. Jesus promete enviar o Espírito Santo, como Advogado e Defensor, que dará palavras e comportamentos acertados e adequados nos momentos de maior necessidade por que passar um discípulo seu. Por isso Jesus já dissera: “Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim.” (Jo 14,1).
“Eu não deixarei vocês órfãos”. (Jo 14,18a). Nas Sagradas Escrituras os termos órfãos, viúvas, pobres e estrangeiros eram objetos de proteção especial por parte da Lei. Eram a classe desprovida e carente até do mínimo necessário para a sobrevivência. Foi por esse motivo que, na igreja primitiva, foram designados homens para suprir essa deficiência dentro da própria igreja: “Os de origem grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário.” (At 6,1b). Se as viúvas passavam necessidades, imagine seus filhos órfãos. Jesus usa essa metáfora para deixar claro que jamais os seus discípulos seriam esquecidos no conforto e abastecimento espiritual que eles necessitavam para exercer o seu ministério, e complementa: “... mas voltarei para vocês.” (Jo 14,18b), e isso ele vai confirmar na sua despedida final ao voltar para o Pai: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20b). Ao dizer que não os deixaria órfãos, Jesus pressentiu o sentimento de seus discípulos que se sentiriam abandonados tanto depois de sua morte como de sua ida para o Pai. Depois da morte ele ressuscitaria. Depois de sua ida para a casa do Pai, além de enviar o Espírito Santo, Jesus permaneceria com os seus discípulos “todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20b).
Dentro do contexto deste discurso, e voltando atrás nesse momento de despedida, Jesus demonstra uma sensibilidade extrema chamando os discípulos de “filhinhos” (Jo 13,33) e prova o amor que somente Deus poderia ter para com os seus amados. Num determinado momento, “Jesus ficou profundamente comovido.” (Jo 13,21), demonstrando que a expressão de fé nele é o amor, e não poderia ter acontecido momento melhor do que esse para que Jesus deixasse aos seus discípulos o novo mandamento que ele viera trazer: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,34-35).
O mandamento do amor supera todos os demais mandamentos, porque quem ama, ama a Deus sobre todas as coisas, ama o próximo como a si mesmo e, amando o próximo, jamais lhe fará mal, jamais cometerá contra o próximo qualquer tipo de violência, não roubará, não matará, não desejara nada do que é do próximo. O amor tornou Deus humano na pessoa de Jesus e faz o humano se elevar até Deus, porque somente amando-nos uns aos outros é que provamos amar Deus.
E para provar o amor que se deve ter uns pelos outros e todos para Deus, Jesus mostra que o termômetro do amor é a aceitação e a obediência aos seus mandamentos: quem obedece aos seus mandamentos dá provas que o ama de verdade: “Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele. [...] Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que vocês ouvem não é minha, mas é a palavra do Pai que me enviou.” (Jo 14,21.23-24).

Nenhum comentário:

Postar um comentário