TODOS OS SANTOS E SANTAS
Todos os Santos - Cor: branca – Leituras: Apo 7,2-4.9-14; Sl 23; 1Jo 3,1-13; Mt 5,1-12a.
“VENHAM BENDITOS DE MEU PAI! RECEBAM COMO HERANÇA O REINO QUE MEU PAI PREPAROU PARA VOCÊS DESDE A CRIAÇÃO DO MUNDO”. (Mt 25,34).
Diácono Milton Restivo
O dia de Todos os Santos deveria ser comemorado, como sempre foi, no primeiro dia de novembro que antigamente também era feriado, mas, como deixou de ser feriado, a Igreja transfere esta comemoração de Todos os Santos para o primeiro domingo do mês de novembro.
O dia de Todos os Santos, como sugere a comemoração, é dedicado a todos os santos e santas existentes; aos santos e santas que conhecemos e aos santos e santas que não conhecemos; aos santos e santas que sabemos o nome e a sua história, e aos santos e santas que não sabemos o nome nem a história de sua vida e que jamais ouvimos falar ou ouviremos falar; aos santos e santas que conviveram conosco e nos anteciparam na casa do Pai e lá estão nos aguardando. Esta data é dedicada a todos os santos e santas que todos conhecem o seu nome e às santas e santos anônimos.
A festa de Todos os Santos é uma das comemorações mais antiga e mais importante do calendário litúrgico; é a festa da família de Deus, da família da Igreja de Jesus Cristo.
A fé nos apresenta as santas e os santos todos como nossos irmãos e irmãs que viveram em épocas e lugares diferentes. A fé apresenta-nos os santos e santas como membros da mesma família, da família a qual todos pertencemos através do batismo. Como membros dessa família, devemos nos encher de alegria e congratularmo-nos com os nossos irmãos e irmãs que já venceram o mundo, a carne e o demônio e se acham, agora, num lugar onde não há mais lágrimas, sofrimento, tristeza ou dor. A Igreja apresenta-nos os santos e santas como modelos de vida cristã e nos orientam na penosa viagem para a casa do Pai. Eles já passaram pelo que estamos passando, viveram os problemas que estamos vivendo e, por isso, nos indicam os meios que devemos aplicar para chegarmos ao porto da salvação. E esses meios que eles usaram e nos ensinaram, é a observação dos mandamentos, da Lei de Deus, a observação da caridade e da partilha ao próximo, os mandamentos da lei da Igreja, trabalho, oração, mortificação, e aceitação dos sofrimentos que não podemos evitar.
A festa de Todos os Santos é, para nós, que ainda caminhamos neste vale de lágrimas, um dia de alegria, de consolo e de animação: eles foram como nós somos e, pelo seu estilo de vida conseguiram a graça da santidade; nós também somos como eles e podemos e devemos conseguir. Os santos e santas foram o que somos hoje: homens e mulheres lutadores e, muitos dentre eles, grandes pecadores que reconheceram em Jesus a salvação e a ele aderiram incondicionalmente. Os santos e santas foram o que nós somos hoje, e nós seremos o que eles são: “Benditos do Pai”.
Temos dentro de nós a semente da esperança do céu. Quem tem esperança, santifica-se. Cremos na vida eterna. Na luta, na dor, no desânimo e nas tribulações, lembremo-nos da glória que nos espera. Daqui a pouco tudo estará acabado e podemos, nós mesmos, se seguirmos os ensinamentos de Jesus Cristo e os exemplos dos santos e santas, experimentar e nos deliciar com as maravilhas celestes antecipadas por Paulo Apóstolo: “Olho algum viu, ouvido nenhum ouviu, nem jamais veio à mente do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam.” 1Cor, 2, 9).
Santos e santas não são somente os que gozam da veneração nos altares da família cristã. Todos os que estão na casa do Pai, gozando da eterna bem-aventurança da presença de Deus são os nossos santos e santas, saibamos ou não os seus nomes, as suas histórias, os seus sacrifícios, os seus martírios. Os nossos parentes, amigos, benfeitores, os nossos antepassados que já passaram por esta vida, por este vale de lágrimas, e que agora gozam da eterna bem-aventurança, são os santos e santas que comemoramos no dia de Todos os Santos; são os santos e santas anônimos da nossa festa. Quantos conhecidos nossos e que conviveram conosco lá estão e são comemorados no dia de hoje. Com quantos santos convivemos e que hoje, na glória eterna eles rezam por nós, velam por nós. Se estão na glória de Deus Pai são santos e santas e simplesmente, para serem santos e santas, não há a necessidade de terem sidos canonizados e frequentarem o ensejo da veneração do povo.
Nesta festa de Todos os Santos somos convidados a lançar um olhar nas magníficas habitações celestes e contemplar as multidões de santos e santas, aqueles benditos do Pai que se acham no reino que lhes foi preparado desde o princípio dos tempos: “Venham vocês, que são abençoados pelo meu Pai. Recebam como herança ao Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo”. (cf Mt 25,34). Não há espetáculo aqui na terra, por mais belo e atraente que seja que se possa comparar com a grandiosidade do céu que hoje se abre à nossa vista, e repito os dizeres de Paulo: “Olho algum viu, ouvido nenhum ouviu, nem jamais veio à mente do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam.” 1Cor, 2, 9).
Todos sabemos e temos conhecimento, principalmente através das folhinhas e dos calendários que a nossa Igreja, em cada dia do ano nos propõe à veneração, a memória e a lembrança de um ou mais santos e santas, de um ou mais bem-aventurados que foram modelos de perfeição cristã como a nos estimular na prática da virtude que nos leva ao nosso destino eterno, a verdadeira imortalidade para a qual foram criados todos os homens. Todos os dias veneramos um ou mais santos. Todos os dias é dia de algum santo, conhecido ou não. Mas, mesmo nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, mesmo que veneremos centenas de santos por dia, jamais veneraríamos todos os santos que estão na casa do Pai. Claro, não os conhecemos a todos; são centenas de milhares, canonizados ou não, que são venerados ou não. E é por isso que a nossa Santa Igreja, na sua sabedoria que lhe transmite o Espírito Santo, instituiu o dia de Todos os Santos e Santas, para que nenhum santo ou santa ficasse no esquecimento, seja ela ou ele conhecido ou não.
No dia de Todos os Santos veneramos os nossos irmãos e irmãs que se encontram na glória eterna gozando das bem-aventuranças eternas. Não é necessário ser canonizado para ser santo. A Igreja simplesmente canoniza alguns para que sirvam de modelo de vida cristã a todos os demais que caminham neste vale de lágrimas, mas, em comparação às centenas de milhares de santos que se encontram na casa do Pai, os canonizados são poucos, pouquíssimos mesmo. Todos os que estão no céu, gozando da presença beatífica de Deus, são santos e santas. Todos os que viveram em plenitude as bem-aventuranças pregadas por Jesus Cristo e que foram perseguidos por amor da justiça e do nome do Senhor, são santos e santas. E é por isso que a Igreja, na comemoração do dia de Todos os Santos e Santas, através dos Santos Evangelhos, nos lembra a todos as bem-aventuranças pregadas por Jesus a todos os homens. Quem levou e leva a sério essas bem-aventuranças e, quem é injuriado, perseguido, caluniado e maltratado por segui à risca as bem-aventuranças pregadas, ensinadas e vividas por Jesus, já é santo e santa nesta terra e, quando partir para a casa do Pai, será recebido com festas na morada eterna que Deus Pai preparou para todos.
Santos e santas não são somente aqueles que já gozam da presença eterna de Deus Pai. Temos muitos santos e santas que hoje estão caminhando conosco, ao nosso lado, vivendo conosco no nosso dia-a-dia, padecendo conosco as agruras da vida, rindo conosco nas mesmas alegrias e chorando nas mesmas lágrimas as nossas tristezas e procurando viver as bem-aventuranças pregadas, ensinadas e vividas por Jesus Cristo. Santos somos todos nós que vivemos a vida da graça, que vivemos a vida de Deus. “A terra está cheia de santos. São os pobres e os aflitos, gente que chora porque foi privada das coisas mais necessárias para sobreviver ou porque foram atingidas injustamente naquilo que existe de mais sagrado.Santos são os mansos deste mundo, os que não têm forças para se defender, os que não podem levantar a voz para reclamar os seus direitos.Santos são os que tem fome e sede de justiça, que não se conformam com este mundo violento... Santos são os misericordiosos que aprenderam com Jesus Cristo a lei do perdão e do amor. Santos são os puros de coração que nunca se deixaram levar pela corrupção... Santos são os que promovem a paz, fonte de todos os bens, princípio da alegria...” (Padre Virgílio). Santos somos todos que caminhamos seguindo as pegadas de Jesus neste vale de lágrimas.
No início do mês, no dia dois de novembro, comemoramos também os nossos falecidos, os que nos anteciparam na casa do Pai. Todos nós, sempre e de um modo especial, nos lembramos dos nossos falecidos. Todos temos, dentro de nós, uma lembrança, um vazio deixado por alguém a quem amamos e que partiu para a vida que não se acaba mais. Todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos a dor do luto, lamentamos o lugar que ficou vazio na mesa, no sofá da sala, reclamamos a voz que se calou, sentimos a falta da presença que se tornou ausência. Em muitos lares, senão em quase todos, já passou a figura tenebrosa e indesejável da morte, e a morte já levou muitos dos nossos entes queridos. Se não conhecêssemos Jesus e a sua mensagem, talvez não houvesse esperança em nossos corações e nossa vida seria uma fuga eterna da morte, uma fuga de uma realidade que nenhum ser vivente sobre esta terra poderá se livrar; o que nos conforta, quando pensamos sobre a morte ou somos atingidos por ela através de um ente querido, são as palavras de Jesus: “Em verdade, em verdade eu lhes digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.” (Jo, 8,51). Até Jesus e a sua Mãe, Maria, conheceram a morte e passaram por ela; passaram, mas venceram a morte, nos dando a esperança e a certeza de uma vida plena depois desta vida, a vida que não se acaba, a vida eterna, a vida que Jesus veio nos trazer em abundância, e Jesus afirma isso no seu Evangelho quando conversava com as irmãs de Lázaro, Marta e Maria: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre.” (Jo, 11, 15-26).
A morte é, para o cristão, apenas a passagem que une o nosso tempo à eternidade; a morte é a porta que se abre para que possamos entrar na vida que Jesus preparou para todos, “e não nos devemos admirar porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que fizeram o bem, sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição do juízo.” (Jo 5,28-29).
Todos, quando morre alguém da nossa família, do nosso círculo de amizade choramos, e às vezes choramos muito. É bom chorar, é necessário que se chore porque as lágrimas sinceras são as provas mais evidentes do amor que tínhamos por aquela pessoa que se foi; as lágrimas são a demonstração e a exteriorização dos nossos sentimentos mais sinceros e mais íntimos. Todo cristão chora quando um ente querido parte para a vida eterna. Mas o cristão não chora de desespero nem de revolta. O cristão chora, sim, mas de saudade. Sentimos saudade do ente querido que se foi, mas temos confiança nos ensinamentos evangélicos de Jesus, acreditamos na sua mensagem e temos a certeza evangélica de que os nossos entes queridos, que conviveram longo tempo conosco neste vale de lagrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram parte do seu rebanho, agora, depois de sua morte, estão na glória de Deus Pai, na casa do Pai onde, segundo uma das promessas de Jesus, existem muitas moradas: “Não se perturbe o seu coração; creia em Deus, creia também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse eu não teria dito isso para vocês, porque eu vou preparar um lugar para vocês. Quando eu tiver ido e tiver preparado um lugar para vocês, de novo voltarei e tomarei vocês comigo, para onde eu estiver estejam também vocês.” (Jo 14,1-3).
Paulo, na sua carta aos Romanos, escreveu para nos confortar a respeito da morte: “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo , fomos batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que assim, como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim nós também possamos caminhar numa vida nova. [...] Mas, se estamos mortos com Cristo, acreditamos que também vivemos com ele, pois sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais: a morte não tem poder sobre ele. (Rm 6,3-4.8-9). Paulo, através dessa sua carta nos dá a certeza que a vida eterna já começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor Jesus.
João Evangelista, com sua mensagem de fé e amor, também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa morte, veremos realmente a Deus tal qual ele é. Na sua primeira carta, João nos escreve: “Filhinhos, vejam como é grande o amor que o Pai tem por nós! Seu amor para conosco é tão grande que ele nos deu a graça de sermos chamados “Filhos de Deus”, e o somos de fato. O mundo não nos conhece, porque não conhece a Deus. Meus queridos amigos, já somos filhos de Deus aqui e agora, embora, externamente ainda não apareça o que vamos ser. Mas sabemos, com certeza, que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele porque o veremos como ele realmente é. Todo aquele que tem essa esperança nele se torna puro, como também ele é puro.” (1Jo 3,1-3).
O que nos conforta sobre os pensamentos que temos sobre os nossos falecidos são as palavras de Jesus: “Deus, não é Deus dos mortos, e sim dos vivos, porque para ele todos vivem.” (Lc 20,38).
Tudo isso revigora a nossa certeza de que os nossos mortos, os nossos entes queridos por quem a gente derramou copiosas lágrimas de dor e saudade, todos eles estão na casa do Pai.
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