NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO.
Ano: A; Cor: branco; Leituras: Ez 34,11-12.15-17; Sl 22 (23); 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46
“VINDE, BENDITOS DE MEU PAI...” (Mt 25,34).
Diácono Milton Restivo
Chegamos, finalmente, ao último domingo do Ano Litúrgico. O ano civil começa em 1º de Janeiro e termina em 31 de Dezembro de cada ano. Já o Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento, quatro semanas antes do Natal, e termina no sábado anterior a ele, exatamente no sábado seguinte à festa de Jesus Cristo Rei do Universo, que festajamos nesta liturgia. O Ano litúrgico não tem data fixa para iniciar ou terminar. A festa de Jesus Cristo, Rei do Universo marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Comemoramos, neste domingo, o último domingo deste Ano Litúrgico, a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
No Antigo Testamento o título de pastor era dado a todos aqueles que representavam Deus no meio do povo: reis, sacerdotes, mandatários governamentais, etc. Por isso, na primeira leitura o profeta Ezequiel transmite a palavra de Yahweh ao seu povo, onde Yahweh identifica-se como pastor, aquele que dirige o destino do seu povo, o Rei por excelência: “Recebi de Yahweh a seguinte mensagem [...] Minhas ovelhas se espalharam e vagaram sem rumo pelos montes e morros. Minhas ovelhas se espalharam por toda a terra, e ninguém as procura para cuidar delas. [...] Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. Como o pastor conta o seu rebanho, que está no meio de suas ovelhas que se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. [...] Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e o seu curral ficará no mais alto dos montes de Israel. Ai elas poderão repousar num curral bom, e terão pastos abundantes sobre os montes de Israel. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar.”. (Ez 34,1.6.11-12.14-15).
No Antigo Testamento o título de pastor era dado a todos aqueles que representavam Deus no meio do povo: reis, sacerdotes, mandatários governamentais, etc. Por isso, na primeira leitura o profeta Ezequiel transmite a palavra de Yahweh ao seu povo, onde Yahweh identifica-se como pastor, aquele que dirige o destino do seu povo, o Rei por excelência: “Recebi de Yahweh a seguinte mensagem [...] Minhas ovelhas se espalharam e vagaram sem rumo pelos montes e morros. Minhas ovelhas se espalharam por toda a terra, e ninguém as procura para cuidar delas. [...] Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. Como o pastor conta o seu rebanho, que está no meio de suas ovelhas que se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. [...] Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e o seu curral ficará no mais alto dos montes de Israel. Ai elas poderão repousar num curral bom, e terão pastos abundantes sobre os montes de Israel. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar.”. (Ez 34,1.6.11-12.14-15).
Mas, antes dessa declaração de amor de Yahweh ao seu povo, o próprio Yahweh já havia chamado a atenção e feito duras críticas aos dirigentes do povo por direcioná-lo por caminhos errados: “Ai dos pastores de Israel, que são pastores de si mesmos. [...] Vocês não procuram fortalecer as ovelhas fracas, não dão remédio para as que estão doentes, não curam as que se machucam, não trazem de volta as que se desgarraram e não procuram aquelas que se extraviaram. Pelo contrário, vocês dominam com violência e opressão. [...] Por isso, vocês, pastores, ouçam a palavra de Yahweh: juro por minha vida – oráculo do Senhor Yahweh: minhas ovelhas se tornaram presa fácil e servem de pasto para as feras selvagens. Elas não têm pastor, porque os meus pastores não se preocupam com o meu rebanho. Por isso, pastores, ouçam a palavra de Yahweh! Assim diz o Senhor Yahweh: vou me colocar contra os pastores. Vou pedir contas a eles sobre o meu rebanho e não deixarei mais que eles cuidem do meu rebanho. Deste modo os pastores não ficarão mais cuidando de si mesmos. (Ez 34,2b.4.7-10a).
O Salmo 22, atribuído ao próprio rei Davi, é um dos mais belos, mais conhecidos, mais cantados e mais recitados salmos em todo o mundo cristão. O Salmo desta liturgia transmite o cuidado e o amor que Yahweh tem para com o seu povo e o salmista, manifestando os anseios de toda a humanidade, chama a Yahweh de seu pastor, considerando que pastor é Rei, colocando nele toda a sua confiança e segurança: “Yahweh é meu pastor. Nada me falta. [...] Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome.” (Sl 22,1.3). Conforme a tradição judaica, David teria escrito este Salmo quando estava cercado por tropas inimigas num oásis, à noite; daí o Salmo inserir tamanha confiança na Providência Divina contra os inimigos. Claro que há outras interpretações que defendem que esse Salmo tenha sido feito de outra maneira e em outro lugar mas, particularmente, prefiro ficar com a tradição judaica. O rei Davi deleita-se ao entregar-se aos cuidados de Yahweh, a quem chama de Pastor: “Yahweh é o meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças”. (Sl 23 (22),1-2). O pastor passava o dia todo com as suas ovelhas e estabelecia com elas uma profunda identidade. No Salmo 80 (79) o salmista, em suas súplicas, também chama Yahweh de pastor: “Pastor de Israel, dá ouvidos, tu que diriges a José como a um rebanho...”. (Sl 80 (79),1).
O profeta Isaias demonstra o amor que Yahweh tem por seu rebanho: “Como um pastor, Ele cuida do rebanho, e com seu braço o reúne; leva os cordeirinhos ao colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam”. (Is 40,11). Os reis de Israel eram considerados, por Yahweh, pastores do seu povo: “Darei a vocês pastores de acordo com o meu coração, e eles guiarão vocês com ciência e sensatez”. (Jr 3,15). Isso deixa claro o porque Yahweh serviu-se da figura do pastor para expressar a sua relação de amor para com a humanidade.
A segunda leitura, tirada da primeira epístola de Paulo aos corintos, aborda o tema ressurreição dos mortos e da realeza de Jesus Cristo sobre todos os mortais, ratificando o que está contido no Evangelho desta liturgia, que trata do Juízo Final. Nos versículos anteriores aos citados nesta referência, Paulo diz que, se não houvesse a ressurreição dos cristãos, seriam inúteis tanto a fé quanto os trabalhos da difusão do Evangelho para todos os homens: “Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória, e vocês ainda estão nos seus pecados. E desse modo, aqueles que morreram em Cristo estão perdidos. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens.” (1Cor 15,16-19).
Paulo afirma que, se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis dos homens, e demonstra que, da mesma maneira como Cristo ressuscitou e vive e reina para sempre e, na sua realeza, o último inimigo a ser vencido é a morte: “O último inimigo a ser destruído será a morte, pois Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo.” (1Cor 15,26-27). Paulo deixa claro que, da mesma forma que a morte afetou todos os homens pela desobediência de Adão, a ressurreição é alcançada pelo sacrifício de Jesus: “Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida.” (1Cor 15,22).
Mateus, no seu Evangelho, mostra que, ao aproximar-se o momento da entrega total, antes de Jesus, voluntariamente, entregar-se à morte para a salvação do gênero humano mergulhado no pecado, ele abre seu divino coração e revela a todos aos seus amigos os segredos nele contidos; e esses segredos são como um testamento, uma aliança que Jesus Cristo deixa a todos aqueles que se propuserem seguir suas pegadas, conforme disse João no seu Evangelho:“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros. Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.” (Jo 13,34-35).
Os primeiros cristãos levaram tão a sério esse preceito de Jesus que assim viviam nos primeiros tempos do cristianismo: “Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. [...] Louvavam a Deus e gozavam da simpatia do povo.” (At 2, 44-45.47). Jesus fez do amor ao próximo o sinal que servirá de julgamento no Juízo Final para distinguir os eleitos dos condenados, e para antecipar como será o Juízo Final, um julgamento baseado no amor que tivemos ao nosso próximo, e esse julgamento é citado no Evangelho desta liturgia. Através do mandamento do amor e dessa narrativa do fim do mundo e juízo final, Jesus afirma que a nossa sorte eterna será decidida pelo amor que tivemos a ele próprio na pessoa do nosso próximo, recordando o que ele mesmo havia dito aos que cumpriram o mandamento do amor ao próximo: “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mt 25,34.40), e aos que não cumpriram o mandamento do amor ele dirá a terrível sentença: “Afastem-se de mim, malditos, Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram. Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna.” (Mt 25,41.45-46). Quando comparecermos diante do Juiz Eterno, no Juízo Final, o Rei do Universo não vai nos perguntar se jejuamos muito, se vivemos na penitência, se passamos muitas horas em oração, ou quantas missas participamos, quantos terços rezamos, quantos grupos de orações estivemos presentes, mas vai nos perguntar e nos julgar unicamente pelo amor que dispensamos ao próximo seguindo o seu grande mandamento do amor no atendimento às necessidades do irmão carente: “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede e me deram de beber; eu era estrangeiro e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente e cuidaram de mim; eu estava na prisão e vocês foram me visitar.” (Mt 25,35-36). A nossa vida de fé, espiritualidade e oração deve ser o suporte ao mandamento do amor. O amor é o distintivo, a marca pela qual serão reconhecidos os discípulos de Jesus Cristo: “Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,35).
Paulo Apóstolo, conhecedor profundo das verdades pregadas por Jesus Cristo, ensina: “Que o amor de vocês seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem; com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando o outro como mais digno de estima.” (Rm 12,9-10). “Abençoem os que perseguem vocês; abençoem, e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram. Vivam em harmonia uns com os outros. Não se deixem levar pela mania de grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas. Não se considerem sábios. Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Se for possível, no que depende de vocês, vivam em paz com todos.” (Rm 12, 14-18).
João, o Apóstolo do Amor, chama de mentiroso aquele que diz que ama a Deus, mas despreza o seu irmão: “Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’ e, no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama a seu irmão a quem vê não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4,20-21). “Aquele que diz que está na luz, mas odeia o seu irmão, está nas trevas até agora. O que ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de queda. Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas; caminha nas trevas, e não sabe onde vai, porque as trevas cegaram seus olhos.” (1Jo 2,9-11). “Se alguém, possuindo os bens deste mundo, ver o seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade.” (1Jo 3,17-18), ratificando aquilo que Jesus havia dito: “Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros como eu amei vocês. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vocês são meus amigos se praticarem o que lhes mando.” (Jo 15,12-14). A vida em abundância depende de como é colocado em prática o mandamento do amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,34-35).
É o amor que nos une e nos faz filhos de Deus e herdeiros da vida que não se acaba mais. E é dentro dos preceitos do novo mandamento do amor que o Rei do Universo virá um dia “na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará no seu trono glorioso” e então: “Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.” (Mt 25,31-32), e julgará a todos, usando como medida o amor que tivemos uns pelos outros, o cuidado, a dedicação, o respeito que tivemos uns pelos outros.
Repito, nessa oportunidade o Rei não vai nos perguntar se jejuamos muito, se vivemos na penitência, se passamos muitas horas em oração, ou quantas missas participamos, quantos terços rezamos, quantos grupos de orações estivemos presentes, mas vai nos perguntar e nos julgar unicamente pelo amor que dispensamos ao próximo seguindo o seu grande mandamento do amor.
Mas, então, surge a pergunta: atendendo as necessidades do irmão carente estamos dispensados da participação da missa? Absolutamente, não! A Santa Missa é a congregação dos filhos e filhas do Pai nosso que está no céu. É a comunhão dos irmãos que, pelo menos uma vez por semana reúnem-se na casa do Pai para se alimentar da Palavra e do Pão da vida e vivo descido do céu, conforme disse Jesus: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. [...] Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.” (Jo 6,36.51). A participação da Santa Missa é a oportunidade que todos temos de agradecer ao Senhor nosso Deus pelas graças e forças que ele nos concede para, a exemplo de Teresa de Calcutá e dos grandes santos, amenizar o sofrimento e necessidades dos nossos irmãos e pedir ao Pai forças para darmos continuidade a esse mandamento do amor. A Santa Missa não é somente o cumprimento de um preceito. Se assim fosse, o nosso rito e orações seriam vazios, como eram as dos fariseus do tempo de Jesus, que mereceram do Mestre esta reprimenda condenatória: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas. Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheio de ossos de mortos e podridão. Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça.” (Mt 23,27-28). A Santa Missa não é o fim, mas o início da nossa missão de levar a sério o mandamento do Rei: o do amor.
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