FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
Missa da Vigília - Leituras: 1Cro 15,3-4.15-16; Salmo 131 (132); 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28.
Missa do dia – Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Salmo 44 (45); 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-57.
“A MINHA ALMA ENGRANDECE AO SENHOR, E O MEU ESPÍRITO SE ALEGRA EM DEUS, MEU SALVADOR.” (Lc 1,46).
Diácono Milton Restivo
“Eu era pequeno, nem me lembro, só lembro que a noite, aos pés da cama, juntava as mãozinhas e rezava apressado, mas rezava como alguém que ama...” Essa música, do Padre Zézinho, “Maria da minha infância”, retrata bem como foi o nosso relacionamento com Maria na nossa infância e adolescência, e como está sendo o nosso relacionamento com Maria ainda hoje.
Com fé, amor e devoção, quando éramos crianças juntávamos nossas mãos em oração e rezávamos, inocentemente, a prece da Ave Maria, repetindo palavras que nem sabíamos direito os seus significados, mas, com que confiança que rezávamos. Que segurança sentíamos quando nos dirigíamos a Maria, repetindo as palavras de nossa mãe ou avó, aquela oração que fazia e faz de Maria a mais cheia de graça, a mais pura entre as mulheres. Mas isso, quando éramos pequenos. Quando éramos crianças. Que confiança as crianças tem na mãezinha do céu.
Desde crianças aprendemos amar Maria. Desde pequenos aprendemos que Maria é a mãe de Deus e a nossa querida Mãe do céu. E, como crianças, aceitamos com honestidade e boa vontade amar Maria, aceitamos passivamente Maria como nossa boa Mãe do céu, porque é a nossa mãe da terra que assim nos ensinou. Com certeza, a primeira oração que aprendemos, ainda no colo de nossa mãe, foi a oração da Ave Maria. Podemos não conhecer nenhuma outra oração, mas, a oração da Ave Maria isso a sabemos de cor e salteado porque a aprendemos bem pequeninos e muitas vezes no colo de nossa mãe que segurava as nossas mãozinhas juntas em atitude de oração, simbolizando o respeito e amor que deveríamos ter por essa boa Mãe do Céu.
Todos nós, cristãos católicos, aprendemos amar Maria ainda bem pequeninos, ainda crianças. E hoje, quem continua amar Maria, a Nossa Senhora, ainda continua criança porque, só criança sabe amar de verdade, sem interesses que não fosse somente amar, amar por amor mesmo. Hoje, quando amamos Maria, ainda somos como crianças que gostam de se jogar no colo da mãe com grande confiança e com toda certeza de que essa mãe tem plenos poderes dados pelo Senhor Nosso Deus para nos tirar de qualquer dificuldade, de qualquer angústia, de qualquer problema que nós mesmos temos provocado; somos como crianças pequenas que, quando se sentem em apuros correm ao lado da mãe buscando refúgio no seu colo. Assim nos comportamos com Maria, não interessando a nossa idade, nos comportamos como crianças e arrependidos ou esperançosos suplicamos a essa poderosa mãe que não nos deixe sozinhos nos momentos difíceis de nossas vidas por quais passamos nesse vale de lágrimas.
E Jesus também foi criança nos braços de Maria. Jesus se entregava confiantemente nos braços virginais de sua mãe, Maria e, sem dúvida, sentia ali confiança, apoio, segurança, carinho, e que grande amor. Quando Jesus era criança nos braços de Maria, ele se sentia no céu e, talvez, tenha sido por isso mesmo que, anos mais tarde, ele tenha dito aos seus apóstolos e discípulos, e nos diz ainda hoje: “Se vocês não se tornarem crianças, vocês não entrarão no reino dos céus”. (Mt 18,3).
Isso, sem dúvida, Jesus aprendeu nos braços de Maria, isso ele experimentou nos braços maternais e virginais de Maria porque, pode existir céu fora dos braços da mãe? Não teria sido por isso que Jesus, ao assumir a natureza humana, quis ter uma mãe como nós, para, como nós, sentir o céu no colo da mãe? Qual a criança que não para de chorar quando se sente agasalhado no colo da mãe? E o colo de Maria, então, como seria? Se nos entregamos nos braços de Maria, como fez Jesus Menino, nós também nos sentiremos no céu. Como confiamos em nossas mães quando somos crianças, quando somos pequenos. Entregamos-nos totalmente aos seus cuidados, e jamais duvidamos de qualquer palavra que ela nos diz. Quando somos crianças, a palavra de nossa mãe é lei, e lei divina. Confiamos em tudo o que ela diz e faz, e isso sem sombra de qualquer dúvida.
E foi a nossa mãe quem nos ensinou a amar Maria, foi nossa mãe quem nos ensinou a confiar em Maria, foi nossa mãe que nos ensinou a oração da Ave Maria.
Quando éramos crianças dificilmente dormíamos sem antes recitarmos pelo menos uma Ave Maria, muitas vezes, como diz a música do Padre Zézinho, apressados, correndo, engolindo palavras, mas rezávamos. Depois, fomos crescendo, fomos deixando de ser crianças, e fomos achando que era cafona rezar, que rezar era coisa para beatos e beatas, e que as coisas do céu já eram, que as coisas do céu eram somente para crianças inocentes que não sabiam nada da vida, e a gente foi esquecendo aquela amizade pura, simples e santa, que sempre tivemos, quando crianças, com a Mãe de Deus.
Mas, quando um filho parte, a mãe fica sempre com o coração na mão e sempre na expectativa do seu regresso. E, quando ele volta, a mãe, como o pai do filho pródigo, o recebe nos braços com festas, carinho e muito amor. Assim é Maria para todos nós. Quando éramos crianças nós a amamos muito, nós confiamos muito nela, mas, depois, fomos crescendo, fomos deixando de ser crianças, fomos deixando de confiar, enveredamos por outros caminhos e julgamos que, sendo grandes, já não precisaríamos mais dos cuidados da mãe, nem da mãe da terra e nem da Mãe do céu. E como nos enganamos.
Como nos iludimos. Quantos encontrões damos na vida por faltar ao nosso lado a presença amiga de nossa mãe, o apoio de nossa mãe, principalmente da nossa Mãe do Céu. É por isso que Jesus nos diz: “Se vocês não se tornarem crianças, vocês não entrarão no reino dos céus”. (Mt 18,3). É por isso que precisamos continuar sendo sempre crianças, porque, qualquer que seja a idade que tivermos, se continuarmos com a confiança e a inocência de uma criança, sempre teremos um espaço nos braços maternais de Maria, e ela jamais desampara quem se entrega de corpo e alma aos seus cuidados maternais, conforme disse São Bernardo: “jamais se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à proteção de Maria, tivesse deixado de ser atendido.”
Jesus passou por essa experiência. Se não permanecermos sempre crianças, sempre conversando com a nossa Mãe do céu, sempre confiando totalmente na sua guarda, jamais partilharemos do reino que Jesus veio trazer para todos os homens de boa vontade, por meio de Maria. Se já deixamos de ser crianças, é o momento de voltarmos a ser crianças e nos jogarmos nos braços maternais de Maria, e confiar a ela todos os nossos problemas, nossas preocupações, nossas alegrias e tristezas, e ela, mais do que ninguém neste mundo, nos entenderia e, como mãe amorosa que é, jamais nos desamparará, e nos pegará no colo e nos levará na presença do Nosso Pai, por meio de Jesus Cristo.
Para amarmos de verdade Maria temos de nos tornar crianças porque qual é a mãe que não atende com amor aos apelos que seu filho ainda bem pequenino lhe faz? Qual é a mãe que, amorosa, não enxugam as lágrimas de seu pequenino filho quando este busca abrigo nos seus braços para fugir de qualquer problema, de qualquer perigo? Se as nossas mães da terra fazem isso com tanto cuidado, com tanto amor e carinho, quanto mais fará por nós a nossa querida Mãe do céu, que é a mãe das nossas mães também?
Maria é a nossa boa mãe do céu, e como me entristece saber que tantos irmãos nossos não aceitam Maria como mãe; os que não aceitam Maria como mãe, são órfãos na fé; tem Pai, mas não tem a mãe, não aceitam a mãe que o Senhor Jesus deu para todos os homens. Os que não aceitam assim Maria não fazem parte da geração bendita do Novo Testamento, porque é a própria Maria quem diz: “De hoje em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo poderoso realizou em mim grandes coisas.” (Lc 1,48b-49a).
Só quem não tem a mãe da terra, só quem já perdeu a sua mãe da terra é que pode avaliar o que seja uma vida sem mãe, um lar sem a presença santa e consoladora de uma mãe. Como é gostoso e reconfortante termos a nossa mãe da terra, e como é maravilhoso termos a nossa mãe do céu que é Maria. Tenho pena e dó daqueles que não aceitam Maria como Mãe. Se o próprio Jesus a escolheu como mãe porque cumulou nela todas as virtudes e graças como sendo a única mulher deste mundo que poderia cuidar de um Deus feito homem recém-nascido; e foi a Maria que o Senhor Nosso Deus entregou o maior tesouro que possa existir em todo o universo: o seu próprio Filho.
Jesus Cristo obedeceu a Maria em sua infância, adolescência, mocidade e a amou por toda a sua vida e a respeitou como um filho deve respeitar sua mãe até o dia em que, no alto de uma cruz, ao ver que sua missão havia terminado aqui na terra, num gesto extremo de amor, nos dá Maria como Mãe já que ele, Jesus Cristo, partiria para a casa do Pai. Eu tenho pena daqueles que não aceitam Maria como Mãe, porque são órfãos de mãe, e somente quem é órfão aqui na terra pode dizer o que é ser órfão de mãe. Jesus diz no seu Evangelho: “Se vocês não se tornarem crianças, vocês não entrarão no reino dos céus”. (Mt 18,3), e se não nos tornarmos crianças não poderemos nos agasalhar no colo materno de Maria. Quem está com Maria não está longe de Deus.
Para conhecermos de verdade Maria, para encontrarmos dentro de sua humildade todo o esplendor da graça da qual Deus Pai sempre a cumulou, precisamos ler muito o que os santos e santas que a amaram de verdade e a reverenciaram em toda as suas vidas disseram e escreveram sobre Maria e como eles, santos e santas, descobriram em Maria virtudes incalculáveis, tesouros com valores infinitos e como eles se colocaram sob a proteção maternal de Maria, sendo que Maria, como Mãe de Deus e nossa também a nós dedica proteção materna. A nossa inteligência é pequena, os nossos conhecimentos são poucos, pouquíssimos mesmo, então por isso, há a necessidade de procurarmos ler livros santos dos grandes santos e santas que amaram e veneraram Maria e nos ensinam como devemos amar e venerar a Mãe de Deus e nossa Mãe.
Todos os santos que amaram Jesus amaram também Maria porque, se Jesus quis precisar de Maria para chegar até nós, também nós precisamos de Maria para chegar a Jesus. Jamais chegaremos a Jesus se não for pelas mãos imaculadas de Maria. O próprio exemplo é Jesus quem nos dá. Para Jesus chegar até nós, ele quis precisar de Maria. Se não fosse por Maria jamais teríamos Jesus na sua natureza humana. Jesus, para se fazer o Filho do Homem, quis precisar de Maria. Jesus existe como homem por Maria; Maria existe para Jesus.
O homem, para se fazer filho de Deus, tem que precisar de Maria também, porque foi no Calvário, nos estertores da morte, quando Jesus sentiu que partiria irremediavelmente para a casa do Pai, foi ali, naquele momento de dor, de angústia e de aniquilamento total que Jesus nos dá Maria como Mãe, e, sendo nós, filhos de Maria, por conseguinte, somos Filhos de Deus, porque Maria é a filha do Pai, é a esposa do Espírito Santo, e a mãe do Filho unigênito do Pai, Jesus cristo, e somos irmãos em Jesus Cristo , porque Maria é a verdadeira mãe de Jesus Cristo na sua natureza humana e, sendo homem não deixou de ser Deus, e portanto a Mãe de Deus, e, sendo filhos de Maria e irmãos de Jesus Cristo, somos filhos de Deus por Jesus Cristo. Se quisermos chegar com mais segurança até Jesus, tem que ser pelas mãos imaculadas de Maria. E nós conhecemos tão pouco dessa ligação tão íntima de Maria com Jesus Cristo e de Jesus Cristo com Deus Pai.
Os santos e santas, devotos de Maria, nos ensinam e nos esclarecem como devemos amar de verdade Maria. Os santos a amaram de verdade, e agora estão juntos com Maria, na casa de Deus Pai. Não podemos nos descuidar de conhecer melhor e mais a cada dia que passa esse mar de graças que é Maria. São Luiz Maria Grignon de Montfort, no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria”, escreve: “Deus fez um lago muito grande de água, e o chamou de mar – depois fez um mar de graças e o chamou Maria”. São Bernardo, em uma das orações mais lindas feitas em honra à Maria nos diz que “jamais se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à proteção de Maria, tivesse deixado de ser atendido”. São Maximiliano Maria Kolbe, o fundador da Milícia da Imaculada, o santo polonês morto num campo de concentração nazista na Segunda Guerra Mundial e canonizado pelo Papa João Paulo II, nas conversas que tinha com seus frades jamais deixou de dizer, e jamais se cansava de dizer: “meus filhinhos, amem a Nossa Senhora, o tanto que vocês quiserem e mais do que vocês puderem”. Santa Terezinha do Menino Jesus nos deixa escrito em seu livro autobiográfico, História de uma Alma, que o menor caminho que nos leva a Jesus Cristo, é Maria. E como seria bom se todos nós, a exemplo de São Luiz Maria Grignon de Montfort, repetíssemos todos os dias e a toda hora: “sou todo vosso, ò minha amada mãe e senhora, e tudo o que tenho vos pertence”.
E Maria continua a nos dizer ainda hoje, todos os dias, todas as horas, todos os minutos da nossa vida: “faça tudo o que o meu Divino Filho vos disser.” (Jo 2,5).
Quantas vezes recorremos à Virgem Maria quando notamos tristemente que a nossa fé vacila, ou porque nos afligimos por ter de carregar uma grande cruz que nos parece muito pesada para a nossa fraqueza, ou ainda, quando temos no seio da nossa família perturbações e infelicidades domésticas que nos parecem dificultar até a nossa própria salvação eterna, e, para todos nós, para essas tristezas, a oração parece trazer tão pouco alívio. Qual é então o remédio que nos falta? Qual é o remédio indicado pelo próprio Senhor nosso Deus?
É, sem dúvida, e segundo a revelação dos grandes santos e santas, devotos fervorosos da Virgem Maria, o refúgio no manto maternal de Maria. Mas, a devoção que consagramos a Maria é fraca, escassa, mesquinha, deturpada pela nossa ignorância religiosa e, muitas vezes, chega até às raias da heresia. Como eu gostaria de mostrar a todos os fieis devotos de Maria como realmente Maria foi - sem tronos e sem coroas, apenas uma mulher simples, de avental sujo de ovo ou caldo de feijão, cabelos em desalinho pelo trabalho doméstico, olhos lagrimejantes por cortar cebola ou pela fumaça da madeira verde que queimava no fogão à lenha, enquanto preparava o alimento para seu filho e seu esposo, tal qual nossas esposas e mães, ainda que nossas esposas e mães levem vantagem sobre isso, considerando que hoje, principalmente nas cidades, não existem mais fogões a lenha e sim a facilidade do fogão a gás.
Gostaria de mostrar uma Maria tão pequena e humilde para que todos nós nos sentíssemos bem à vontade junto dela. A nossa ignorância tira de Maria todo o esplendor de sua humildade. E é por essa razão que Jesus Cristo não é amado como deveria ser. É por não amarmos como deveríamos amar Maria que os homens não se convertem.
Quantas almas que poderiam ser santas e desfalecem na fé tomando caminhos diferentes daqueles que levam até Deus porque são mal orientados sobre a devoção de Maria, e por isso tomam caminhos diferentes daqueles que levam a Deus. Por uma distorção com respeito à devoção à Maria que os sacramentos não são frequentados como deveriam ser. É pela falsa devoção ou distorção na devoção de Maria que as almas não são evangelizadas com o entusiasmo do zelo apostólico. Pelos erros na devoção à Maria que Jesus não é conhecido, porque a devoção à Maria é destorcida e por isso, muitas vezes, é deixada no esquecimento ou é procurada por seus devotos apenas por interesses egoístas e mesquinhos.
Quantas almas se desviam do verdadeiro caminho porque Maria está distante delas. A devoção mal orientada à Maria é a causa de grande parte de nossas misérias, de todos os nossos males, de todas as nossas omissões, de toda nossa tibieza, de toda nossa frieza. Segundo as revelações dos nossos Santos grandes devotos de Maria, tal como foi São Luiz Maria Grignon de Montfort, o Senhor Nosso Deus quer uma devoção mais vasta, mais extensa, mais sólida, uma devoção muito diferente da que temos hoje, da que temos atualmente para com a Santíssima Virgem Maria. Se Jesus não é conhecido como deveria ser é porque nós não amamos como deveríamos amar a sua Mãe Santíssima.
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