DIA DOS FINADOS - 02 DE
NOVEMBRO
“O SENHOR NÃO É DEUS DOS
MORTOS, E SIM DOS VIVOS”. (Lc
20,38).
“O Senhor me deu, o Senhor me tirou. Bendito seja o nome do Senhor”. (Jó 1,21).
Diácono
Milton Restivo
A morte nos apavora. A morte nos acabrunha. A morte nos entristece...
Aflige-nos o temor da destruição perpétua, mas devemos considerar que,
dentro de nós, temos a semente da eternidade. Essa semente da eternidade nos dá
a segurança e a esperança de uma vida que jamais se acaba e a certeza de que
não seremos destruídos eternamente e que, a morte do corpo, o fim da matéria,
não será o fim de tudo para aquele que crê.
O que nos dá essa certeza é a redenção que Jesus Cristo veio trazer ao
gênero humano e que age dentro de cada um de nós. Por essa redenção nos vem a
certeza de que a morte corporal será vencida
um dia quando o reino de felicidade, perdido pelo homem, for restituído pelo
seu Onipotente e Misericordioso Senhor, Deus Pai.
Paulo Apóstolo, nosso amigo e orientador, escreve em uma de suas
cartas: “Em realidade sabemos que, se a
casa terrestre desta nossa morada for desfeita, temos de Deus um edifício, uma
casa não feita por mãos humanas, eterna, nos céus. Por isso também suspiramos,
desejando ser revestidos da nossa habitação, que é celeste, se, todavia, formos
encontrados vestidos, e não nus. Realmente nós, que estamos nesse tabernáculo,
gememos acabrunhados, porque não queremos ser despojados, mas sim revestidos
por cima, a fim de que, o que é em nós mortal, seja absorvido pela vida. Ora, o
que nos formou para isto mesmo, foi Deus que nos deu o penhor do Espírito. Por
isso, sempre cheios de confiança, sabemos que, enquanto estamos no corpo,
estamos longe do Senhor (porque caminhamos pela fé e não pela visão), cheios de
confiança, temos mais vontade de nos ausentarmos do corpo e estar presentes ao
Senhor. Por isso, quer ausentes, quer presentes, esforçamo-nos para lhe
agradar, pois é necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de
Cristo, para que cada um receba o que é devido ao corpo, segundo fez o bem ou o
mal.” (2Cor 5,1-10).
A cada dia que passa morremos um pouco, ou, numa visão mais otimista e
cristã, renascemos para a verdadeira vida, aquela que não se acaba mais...
O fenômeno que chamamos “morte” é uma coisa sempre presente em nossa
existência; é uma “coisa” que a todo momento marca presença em nossa vida,
muito embora, a todo custo, tentamos ignorá-la.
Tudo morre, tudo se acaba, tudo passa, tudo nesta vida é vaidade, como
diz o escritor sagrado: “Vaidade das
vaidades, tudo é vaidade.” (Ecl 1,2).
Vaidade das vaidades, tudo neste mundo é vaidade, exceto adorar, amar e
servir ao Senhor Nosso Deus enquanto tivermos vida, tivermos forças... Tudo o
mais é vaidade.
Para o cristão não existe morte. A morte é, simplesmente, um ponto de
partida, não um fim.
A morte é um trampolim que nos arremessa para a vida eterna, para a
vida que não se acaba mais porque, a promessa de Jesus Cristo não pode ser
esquecida por nenhum dos seus seguidores:
“E todo o que deixar a casa, ou os irmãos ou irmãs, ou o pai ou a mãe, ou os
filhos ou os campos por causa do meu nome, receberá o cêntuplo e possuirá a
vida eterna.” (Mt 19,29), e “Aquele
que perseverar até o fim, esse será salvo.” (Mc 13,13; Mt 24,13).
A vida é eterna. A vida é abundante porque Jesus Cristo veio para que
tivéssemos vida, e a tivéssemos em abundância: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância.” (Jo
10,10). A vida não se acaba.
Na nossa ignorância naquilo que diz respeito às promessas divinas em
relação à vida eterna, sofremos, sofremos muito quando um ente querido nos
deixa e parte desta para herdar a vida eterna.
Choramos, choramos muito dentro de nós, ainda que o nosso semblante se
esforce para demonstrar conformismo.
É bom chorar, se faz necessário chorar, mas o cristão não chora por
desespero. Antes de tudo, o cristão chora por saudade, de saudade de alguém que
partiu temporariamente, mas, temos certeza, está na casa do Pai; apenas nos
antecipou e isso é a nossa fé que nos garante que um dia nos juntaremos a esse
ente querido porque Jesus nos conforta dizendo: “Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há
muitas moradas.” (Jo 14,1-2).
Para nós, cristãos, não existem mortos; existem somente vivos, e as
Sagradas Escrituras nos dizem isso com muita propriedade: “Ora, ele não é Deus dos mortos, e sim dos vivos; todos, com efeito,
vivem para ele.” (Lc 20,38).
Não nos conformamos, muitas vezes, quanto parte de junto de nós um ente
muito amado para a outra vida porque desconhecemos as mensagens evangélicas de
esperança que nos são transmitidas com tanta autoridade por Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim,
ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá.” (Jo
11,25-26). “Eu sou o pão vivo descido do
céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.” (Jo 6,51). “Em verdade, em verdade, vos digo: se alguém
guardar a minha palavra, jamais verá a morte.” (Jo 8,51).
Confortados com estas palavras de Jesus Cristo podemos ter a certeza de
que os nossos entes muito amados que se foram, vivem no Senhor e iremos, sem
sombra de dúvidas, reencontrá-los no Senhor. Os nossos entes queridos quando
passam desta vida para a vida que não se acaba mais, simplesmente abandonam o
seu envoltório de carne como se estivessem se despindo de uma roupa velha,
rota, estragada ou fora de moda para receber as vestimentas de quem vive a vida
da Trindade.
A morte não põe fim à vida. A morte não tem poder para isso.
Cristo morreu na cruz, mas venceu a morte ressuscitando no terceiro
dia, e como disse e escreveu o Apóstolo Paulo, se Cristo não tivesse
ressuscitado como havia prometido, estaríamos perdendo tempo em acreditar nele:
“Ora, se se prega que Cristo ressuscitou
dos mortos, como pode alguns dentre vocês dizer que não há ressurreição dos
mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se
Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a fé de vocês.
[...] Pois se os mortos não
ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou,
ilusória é a fé de vocês; vocês ainda estão nos vossos pecados. Por
conseguinte, aqueles que adormeceram em Cristo estão perdidos. Se temos
esperança em Cristo tão somente para esta vida, somos os mais dignos de
compaixão de todos os homens.” (1Cor 15,12-14.16-19).
Apesar da certeza da ressurreição que nos é transmitida pelas Sagradas
Escrituras, os nossos sentimentos humanos nos fazem sentir saudades dos nossos
entes queridos que nos deixaram, mas, não podemos perder a esperança, não
podemos perder a confiança nos ensinamentos de Jesus Cristo; temos de acreditar
nas suas verdades evangélicas de que os nossos entes queridos, que caminharam
conosco neste vale de lágrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram
parte de seu rebanho, agora, depois desse passamento, estão na glória do
Senhor, na casa do Pai, onde, segundo uma das promessas do Divino Mestre,
existem muitas moradas: “Na casa de meu
Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou
preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei
novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós
também.” (Jo 14,2-3).
O Apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, nos conforta a respeito da
morte: “Ou não sabeis que todos os que
fomos batizados em Cristo
Jesus , é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo
batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida
nova. [...] Mas, se morremos com
Cristo, temos fé que também viveremos com ele, sabendo que Cristo, uma vez
ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem domínio sobre
ele.” (Rm 6,3-4.8-9).
Paulo, por esta carta, transmite-nos a certeza que a vida eterna já
começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor Jesus.
O Apóstolo Amado, o Evangelista João, em sua mensagem de fé e amor,
também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa
morte, veremos o Pai tal qual ele é: “Vede
que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!
Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu. Caríssimos, desde já somos
filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por
ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele
é. Todo o que nele tem essa esperança, purifica-se a si mesmo como também ele é
puro.” (1Jo 3,1-3).
Nossos entes muito amados que nos deixaram estão vivendo no Senhor e,
com toda a certeza, os reencontraremos na casa do Pai.
O Senhor Jesus venceu a morte ressuscitando e “... a morte não tem domínio sobre ele.” (Rm 6,9), e Paulo Apóstolo
baseia-se na ressurreição de Cristo para nos dar a certeza que também
venceremos a morte: “Se não há
ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não
ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé.” (1Cor
15,13-14).
Quem morre acaba de nascer, de nascer para a vida, de ressurgir para a
vida em abundância, a vida que não se acaba mais, a vida que é para valer, e
isso entendeu muito bem Francisco, o pobrezinho de Assis: “É MORRENDO QUE SE
RESSUSCITA PARA A VIDA...”.
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