DIA DE TODOS OS SANTOS
Todos sabemos e temos conhecimento, principalmente
através das folhinhas e dos calendários que a nossa Santa Igreja, em cada dia
do ano nos propõe a veneração, a memória e a lembrança de um ou mais santos e
santas, de um ou mais bem-aventurados que foram modelos de perfeição cristã
como a nos estimular na prática da virtude que nos leva ao nosso destino
eterno, a verdadeira imortalidade para a qual foram criados todos os homens.
Todos os dias veneramos um ou mais santos. Todos os
dias é dia de algum santo, conhecido ou não. Mas, mesmo nos trezentos e
sessenta e cinco dias do ano, mesmo que veneremos centenas de santos por dia,
jamais veneraríamos todos os santos que estão na casa do Pai.
Claro, não os conhecemos a todos; são centenas de
milhares, canonizados ou não, que são venerados ou não. E é por isso que a
nossa Santa Igreja, na sabedoria que lhe transmite o Espírito Santo, instituiu
o dia de Todos os Santos, para que nenhum santo ou santa ficasse no
esquecimento, seja ela ou ele conhecido ou não.
No dia de Todos os Santos veneramos os nossos irmãos e
irmãs que se encontram na glória eterna gozando das bem-aventuranças eternas.
Não
é necessário ser canonizado para ser santo.
A Igreja simplesmente canoniza alguns para que sirvam
de modelo de vida cristã a todos os demais que caminham neste vale de lágrimas,
mas, em comparação às centenas de milhares de santos que se encontram na casa
do Pai, os canonizados são poucos, pouquíssimos mesmo.
Todos os que estão no céu, gozando da presença
beatífica de Deus, são santos e santas.
Todos os que viveram em plenitude as bem-aventuranças
pregadas por Jesus Cristo e que foram perseguidos por amor da justiça e do nome
do Senhor, são santos e santas. E é por isso que a Igreja, na comemoração do
dia de Todos os Santos, através dos Santos Evangelhos, lembra a todos as
bem-aventuranças pregadas por Jesus a todo o povo, do alto de uma montanha.
Quem levou e leva a serio essas bem-aventuranças e,
quem é injuriado, perseguido, caluniado e maltratado por segui à risca as
bem-aventuranças pregadas, ensinadas e vividas por Jesus, já é santo e santa
nesta terra e, quando partir para a casa do Pai, será recebido com festas na
morada eterna que Deus Pai preparou para todos.
Santos e santas não são somente aqueles que já gozam
da presença eterna de Deus Pai.
Temos muitos santos e santas que hoje estão caminhando
conosco, ao nosso lado, vivendo conosco no nosso dia-a-dia, padecendo conosco
as agruras da vida, rindo conosco nas mesmas alegrias e chorando nas mesmas
lágrimas as nossas tristezas e procurando viver as bem-aventuranças pregadas,
ensinadas e vividas por Jesus Cristo.
Santos somos todos nós que vivemos a vida da graça,
que vivemos a vida de Deus. “A terra está
cheia de santos. São os pobres e os aflitos, gente que chora porque foi privada
das coisas mais necessárias para sobreviver ou porque foram atingidas
injustamente naquilo que existe de mais sagrado.Santos são os mansos deste
mundo, os que não tem forças para se defender, os que não podem levantar a voz
para reclamar os seus direitos.Santos são os que tem fome e sede de justiça,
que não se conformam com este mundo violento... Santos são os misericordiosos
que aprenderam com Jesus Cristo a lei do perdão e do amor. Santos são os puros
de coração que nunca se deixaram levar pela corrupção... Santos são os que
promovem a paz, fonte de todos os bens, princípio da alegria...” (Padre
Virgílio, 07.11.82).
Santos somos todos que caminhamos seguindo as pegadas
de Jesus Cristo neste vale de lágrimas. E hoje comemoramos os nossos falecidos,
os que nos anteciparam na casa do Pai.
Todos nós, sempre e de um modo especial, nos lembramos
dos nossos falecidos.
Todos temos, dentro de nós, uma lembrança, um vazio
deixado por alguém a quem amamos e que partiu para a vida que não se acaba mais.
Todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos a dor do luto, lamentamos o lugar
que ficou vazio na mesa, no sofá da sala, reclamamos a voz que se calou,
sentimos a falta da presença que se tornou ausência.
Em muitos lares, senão em quase todos, já passou a
figura tenebrosa e indesejável da morte, e a morte já levou muitos dos nossos
entes queridos.
Se não conhecêssemos Cristo e a sua mensagem, talvez
não houvesse esperanças em nossos corações e nossa vida seria uma fuga eterna
da morte, uma fuga de uma realidade que nenhum ser vivente sobre esta terra
poderá se livrar; o que nos conforta, quando pensamos sobre a morte ou somos
atingidos por ela através de um ente querido são as palavras de Jesus Cristo: “Em verdade, em verdade eu lhes digo: se
alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.” (Jo, 8,51). Até Jesus
e a sua Mãe, Maria, conheceram a morte e passaram por ela; passaram, mas venceram
a morte, dando-nos a esperança e a certeza de uma vida plena depois desta vida,
a vida que não se acaba, a vida eterna, a vida que o Senhor Jesus veio nos
trazer em abundância, Jesus afirma isso no seu Evangelho quando conversava com
as irmãs de Lázaro, Marta e Maria: “Eu
sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo
aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre.” (Jo, 11, 15-26).
A morte é, para o cristão, apenas a passagem que une o
nosso tempo à eternidade; a morte é a porta que se abre para que possamos
entrar na vida que Jesus Cristo preparou para todos, “e não nos devemos admirar porque vai chegar a hora em que todos os que
estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que fizeram o bem,
sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição
do juízo.” (Jo, 5,28-29).
Quando morre
alguém da nossa família, do nosso círculo de amizade, choramos, e às vezes
choramos muito. É bom chorar, é necessário que se chore porque as lágrimas
sinceras são as provas mais evidentes do amor que tínhamos por aquela pessoa
que se foi; as lágrimas são a demonstração e a exteriorização dos nossos
sentimentos mais sinceros e mais íntimos. Todo cristão chora quando um ente
querido parte para a vida eterna. Mas o cristão não chora de desespero nem de
revolta.
O cristão chora, sim, mas de saudade.
Sentimos saudade do ente querido que se foi, mas temos
confiança nos ensinamentos evangélicos de Jesus, acreditamos na sua mensagem e
temos a certeza evangélica de que os nossos entes queridos que conviveram longo
tempo conosco neste vale de lagrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e
fizeram parte do seu rebanho, agora, depois de sua morte, estão na glória de
Deus Pai, na casa do Pai onde, segundo uma das promessas de Jesus, existem
muitas moradas: “Não se perturbe o seu
coração; creia em Deus, creia também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas; se
assim não fosse eu não teria dito isso para vocês, porque eu vou preparar um
lugar para vocês. Quando eu tiver ido e tiver preparado um lugar para vocês, de
novo voltarei e tomarei vocês comigo, para onde eu estiver estejam também vocês.” (Jo 14,1-3). Paulo, na sua carta aos Romanos, escreveu,
para nos confortar, a respeito da morte: “Ou
vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo , fomos
batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para
que assim, como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai,
assim nós também possamos caminhar numa vida nova. [...] Mas, se estamos mortos com Cristo,
acreditamos que também vivemos com ele, pois sabemos que Cristo, ressuscitado
dos mortos, não morre mais: a morte não tem poder sobre ele. (Rm 6,3-4.8-9).
Paulo, através dessa carta nos dá a certeza que a vida
eterna já começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor Jesus.
João Evangelista, com sua mensagem de fé e amor,
também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa
morte, veremos realmente a Deus tal qual ele é.
Na sua primeira carta, João escreve: “Filhinhos, vejam como é grande o amor que o
Pai tem por nós! Seu amor para conosco é tão grande que ele nos deu a graça de
sermos chamados “Filhos de Deus”, e o somos de fato. O mundo não nos conhece,
porque não conhece a Deus. Meus queridos amigos, já somos filhos de Deus aqui e
agora, embora, externamente ainda não apareça o que vamos ser. Mas sabemos, com
certeza, que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele porque o veremos como
ele realmente é. Todo aquele que tem essa esperança nele se torna puro, como
também ele é puro.” (1Jo 3,1-3). O que nos conforta sobre os pensamentos
que temos sobre os nossos falecidos são as palavras de Jesus: “Deus, não é Deus dos mortos, e sim dos
vivos, porque para ele todos vivem.” (Lc 20,38). Tudo isso revigora a nossa
certeza de que os nossos mortos, os nossos entes queridos por quem a gente
derramou copiosas lágrimas de dor e saudade, todos eles estão na casa do Pai.
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